Capítulo 7

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Eu e minha mãe saímos muito cedo. Caminhamos juntas, abraçadas, na direção da cidade. Conversei bastante com ela, tentando fazer tudo parecer como sempre; a última coisa que queria era deixar ela desconfiada de que havia algo errado. Perguntei se podíamos visitar hoje a senhora Marília, mas ela disse que não, pois precisaríamos ser rápidas.

Chegamos na cidade e fomos diretos para a igreja. Olhei na direção da barraca da senhora Marília, mas ela não estava lá. Talvez ainda estivesse dormindo. Também vi a barraca das ervas, cuja dona estava sentada, observando tudo, como ontem. Ela não me vê, ou finge que não me vê, pois tenho a impressão que ela me reconhece quando passo, mas vira o rosto. Ainda estou curiosa para saber o que ela esconde.

Eu e minha mãe passamos pela porta da Igreja.

Dessa vez há pessoas nela. Hoje é dia de Dizimar e Confessar, por isso todos os servos foram liberados pela metade do dia. Mamãe convidou o resto da família, dizendo que nos faria bem visitar a Igreja e poder nos descarregar dos nossos pecados. Papai tinha muito trabalho para adiantar, e tia Stella também. Andrew inventou uma dor de barriga, como sempre fazia para não vir. Eu também não estava com muita vontade de sair hoje, mas minha mãe não queria vir sozinha.

As pessoas estão sentadas, esperando sua vez para entregar o dízimo e entrar em uma das salas onde funcionários importantes da Igreja se posicionam para escutar as confissões. É sempre o mesmo. Quando entramos, eles dizem: Examine-se e confesse, pecador. Receba o perdão de Deus. Depois nos escutam por alguns minutos.

Em geral, a Confissão é um momento que visa a paz. Exceto em casos de pecados muito graves. Nessas situações, a Igreja aplica castigos físicos ou outras penas.

Depois de esperarmos por um bom tempo, um bispo faz sinal para mim. Ele pega o dízimo em minhas mãos e me encaminha para uma das salas de confissão, fechando a porta logo em seguida. Há uma mesa e duas cadeiras. Um homem está de costas, mexendo em uma das prateleiras do local. Sento em minha cadeira.

—Seja bem-vinda, examine-se... —O rapaz se vira e crava os olhos em mim. Reconheço na hora a silhueta.

—Você? —Falamos juntos.

É o monge de ontem.



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