Capítulo 5

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Corro na direção da minha casa, sem olhar para trás. Entro pela porta da frente e dou de cara com meu pai sentado em uma cadeira, perto da mesa, conferindo algumas moedas.

—Está tudo bem, querida? —Ele me olha preocupado, era bem perceptível que havia algo errado.

—S-sim papai, está tudo bem. —Tento permanecer calma. A última coisa que eu queria naquele momento era trazer estresse para meu pai. Tenho certeza que se ouvisse o que o Sr. Thomas acabara de fazer ficaria tão irritado quanto eu, por isso preferi manter sigilo.

—Você voltou cedo do serviço, aconteceu alguma coisa? —Parecia que ele podia ler meus pensamentos.

—Não, não. Está tudo bem, mesmo. Apenas me senti um pouco indisposta e a chefe das criadas me liberou. — Menti.

Meu pai se levanta rapidamente e vai até minha direção. Ele começa a tocar em meu pescoço para ver se eu tinha febre e coloca as duas mãos sobre meu rosto.

—Você está um pouco vermelha, mas sem febre. É melhor você se deitar, pode deixar que eu aviso sua mãe assim que ela chegar.

—Eu estou bem papai. Era apenas aquele ambiente sufocante que estava me deixando mal. — Forço um sorriso na tentativa de acalmar-lhe. Parece que deu certo, pois ele relaxou o semblante.

—Tudo bem então, vou até a cidade, tenho que comprar alguns materiais que sua mãe pediu.

—Pai, eu posso ir no seu lugar? Estou realmente precisando caminhar um pouco. E faz muito tempo que não vou até o mercado. — O mercado e a cidade eram bem pequenos, mas seria perfeito para poder aliviar um pouco o estresse. Só precisava sair por algumas horas daquele feudo.

—Mas você parece cansada, querida. É melhor você se deitar um pouco ou ir ficar com Andrew.

—Eu já disse que estou bem papai. E vai ser bom, pois eu conheço todos os produtos que a mamãe usa e sei o que está em falta. — Isso era verdade. Pela primeira vez, poderia me aproveitar do fato de ser aprendiz da minha mãe.

Ele pensa um pouco, parecendo estar convencido.

—Tudo bem então. Mas tente não demorar tanto, e tome cuidado. —Ele me dá um beijo na testa e pega todas as moedas que estava contando, colocando-as em um pequeno saco e me entregando logo em seguida. —Esse dinheiro é para as compras. Sei que você é muito esperta, mas não deixe que nenhum comerciante se aproveite da sua juventude para tentar lhe enganar.

—Pode deixar. Você sabe que sei negociar. — Lanço uma piscadela para ele, que retribui com um sorriso.

Enquanto caminho na direção da cidade, deixo que o vento brinque com meus cabelos. Ainda estou muito irritada, mas essa ventania de certa forma me ajuda a esquecer um pouco aquele assunto.

Passo pelo imenso portão que leva até a cidade. Como a maioria das pessoas vivem em feudos, o local tem poucas casas, além da imensa igreja e o pequeno mercado. Observo cada um dos comerciantes, com o olhar penetrado em mim, tentando me atrair para suas barracas. Vou até a barraca que minha mãe e eu costumamos encontrar os produtos de costura. Usamos toda linha nas últimas encomendas do casarão.

A senhora Marília vê que me aproximo e me lança um sorriso enorme.

—Minha menina! — Ela corre e me abraça com toda força. — Como você está enorme! Cada vez que te vejo, parece mais bonita. Quem é você e o que fez com aquela pequena que vinha me ver e não parava quieta?

—Ela ainda está aqui. Só o tamanho não é mais o mesmo. —Sorrio e a abraço com ternura.

A senhora Marília é a comerciante mais famosa do mercado. Eu e minha mãe somos suas clientes desde sempre. Venho desde pequena aqui, e me lembro até hoje das vezes em que ela fazia biscoitos e leite para me mimar. Sua filha Dana faleceu muito cedo, e hoje ela só tem o marido e os amigos, por isso sempre nos recebia como se fôssemos da família. Arrependo-me de ter levado tanto tempo para a visitar novamente.

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