Capítulo 9

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Passo o resto da semana fugindo das convocações do Sr. Thomas. Ele mandou nos chamar novamente pelo mesmo valor de antes, dizendo que adorou nossos serviços. Inventei para os meus pais várias desculpas enquanto Andrew me acobertava. Quando se trata de inventar algo para fugir de um serviço, Andrew é especialista no assunto. A cada dia meu medo só aumentava com a possibilidade de minha mãe já saber de tudo. Felizmente, até então, ela apenas entrara pela porta com uma expressão satisfeita no rosto por mais um salário que ganhara com o trabalho.

Me pergunto o motivo de ele ainda não ter revelado nada. Estaria esperando me encontrar cara a cara para poder se vingar?

Acordo cedo e com muita disposição. Minha mãe tenta me fazer ir trabalhar no casarão de novo. Dessa vez invento que Andrew pedira ajuda com alguns afazeres. Ela apenas me lança um olhar estranho e sai com Tia Stella. Sua desconfiança só aumenta, obviamente. Não sei até quando conseguirei suportar todas essas mentiras.

Meu pai força Andrew a acompanha-lo na ida até o feudo vizinho para trocar alguns produtos que estamos precisando. De tanto passar o tempo em casa com eles, acabei aprendendo algumas coisas sobre a terra e a colheita.

Fico sozinha. Tudo está uma bagunça. Arrumo os lençóis nas camas e pego um balde com água para esfregar o chão. Limpo e esfrego até deixar o chão brilhando. Decido lavar a roupa. Recolho sobre nosso cesto de palha todas as peças sujas. Encontro diversas camisas manchadas de suor. Andrew. Bufo, juntando todas elas. Prendo meus imensos cabelos negros em um coque, deixando uma mexa solta.

Abro a porta e saio com o cesto cheio de roupas em mãos. Só lavo as roupas em frente à casa. O vento sempre me distrai e torna todo o serviço prazeroso.

—Olá de novo, senhorita Antonella.

Viro a cabeça na direção da voz. E lá está ele. O Senhor Feudal sentado na frente da minha casa com seu imenso sorriso malicioso de sempre.

Deixo a cesta de roupas cair no chão.

Paraliso pelo que parece ser uma eternidade. Ele continua apenas ali, sentado, me encarando da forma mais tranquila possível.

Saio do transe e resolvo agir naturalmente.

—Sr. Thomas — cumprimento com a cabeça. —O que o Senhor deseja? —Digo, me esforçando ao máximo para manter a postura ereta. Não baixaria a guarda. A última coisa que quero lhe propor é o prazer de me ver incomodada com sua presença.

Thomas levanta e dá dois passos na minha direção. Também dou dois passos, só que para trás. Será que tentaria o mesmo de alguns dias atrás?

Ele ri do meu afastamento.

—Fique calma, vim em paz. —Thomas diz, pondo a mão em seu peito. —Gostaria de saber o motivo de não estar atendendo aos meus chamados.

Agora sou eu quem dou risada. Que hipócrita.

—Ainda pergunta? —falo, incrédula. —E por que eu iria? Para tentar me fazer de refeição de novo?

Ele desfaz seu sorriso. Sinto a ira me invadir novamente.

—Apesar dos recentes acontecimentos...— ele diz, colocando as mãos sobre a região que eu chutara em nosso último encontro. Parece estar recordando da dor. — Sua comida é excelente. E eu estou precisando de uma cozinheira nova no casarão.

—Não. —Digo sem pensar duas vezes.

Sua expressão muda novamente. O sorriso enorme volta. Provavelmente sabia que eu recusaria sua oferta, então por que veio?

—Eu não gostaria de ser obrigado a fazer isso..., mas sua personalidade extremamente difícil não me dá outra escolha. —Ele diz, dando ênfase na palavra difícil. —Não sei se recorda que sou seu Senhor, e você é minha serva.

Essas palavras soam como um tapa na cara.

Me aproximo dele com passos firmes, Irada.

—Está me ameaçando, Sr. Thomas?

—Entenda como quiser. —Ele diz, ainda sorrindo e dando um tapinha de leve no meu ombro. —Você começa amanhã. Tenha um bom dia, senhorita Antonella.

E ele vai embora. Simplesmente me deixa ali, com o veredito dado.

Eu já devia imaginar. Eu sou a serva, ele o Senhor, como bem disse. Claro que usaria o que mais nos diferencia como ameaça. Agora serei forçada a aturar que se vingue sem poder fazer nada. Me sinto completamente revoltada por não poder me opor. Por ser obrigada a baixar a cabeça e aceitar sua ordem.

Mas essa é a minha vida, o meu tempo.

''Alguns nascem para rezar, outros para lutar, e outros para servir''.

Nosso povo é completamente dividido. E infelizmente o destino quis que eu caísse entre os últimos. Os servos, os submissos.

Até quando as coisas seriam assim?

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