—Pare de dizer isso—digo rindo, enquanto olho para o céu deitada no chão coberto de folhas ao lado de Andrew.
—Mas o que eu posso fazer? Ele é muito picante. —disse Andrew com um tom atrevido. Dei um tapa leve na perna dele.
—Esqueceu que ele pode nos pôr debaixo da ponte em um piscar de olhos?
—Não me pareceu que ele faria isso. Ainda mais porque ele ficou todo gamado em você. —disse Andrew.
Levantei minha cabeça e o olhei com um olhar brincalhão; mais uma das várias piadas de Andrew.
—É sério—disse ele— achei que ele ia te pegar no colo e sair correndo depois daquela troca de olhares. Sorte sua que só eu notei.
—Lá vem você com a sua imaginação indecente. Foi apenas um Senhor educado cumprimentando uma serva que está se esforçando desesperadamente para ser gentil e não causar problemas.
—Olha só você, chamando ele de educado e tudo o mais. —Ele me lança um sorrisinho malicioso.
—Não comece. —Dou um tapa em seu ombro; e acabamos entre gargalhadas, jogados nas folhas. —Melhor voltarmos ao trabalho antes que minha mãe venha e surte com a gente.
Andrew suspira.
—Bem que podia existir um dia todo ano em que os servos e os nobres trocam de lugar. —Dou uma risada alta, encantada com tantas ideias surreais.
—Aposto que não aguentariam uma hora na nossa pele.
—Com certeza.
Me levanto e estendo a mão para Andrew que volta para dentro de casa reclamando ao meu lado.
Recolho as roupas sujas e me dirijo para a frente de casa, pronta para começar a esfregar; passo rapidamente por minha mãe, que está concentrada em sua costura. Pego meu banquinho e me sento perto da porta, do lado de fora, e começo a lavar a roupa suja; o dia está quente, o que me faz prender meus longos cabelos lisos em um coque bem robusto.
Paro um pouco de esfregar a mancha da saia de tia Stella e observo o feudo ao meu redor. Vejo meu pai e Andrew; eles têm feito um ótimo trabalho, os dois se esforçaram muito nos últimos dias para agradar o novo Senhor Feudal.
De repente me pego repassando as cenas da última noite. A maneira como ele me olhava, me deixou surpresa. Sua educação era impressionante. Não que eu achasse que havia alguma possibilidade de Andrew ter razão quando afirmou que o Senhor Feudal se encantou quando me viu.
Me pego perdida nesses pensamentos e de repente meus olhos param no casarão. Quando menos espero, uma mulher extremamente linda sai pelo portão da frente, com o cabelo desarrumado e as roupas amassadas. Ela para em frente ao casarão e tenta ajeitar sua aparência. Poucos segundos depois surge o Senhor Feudal, que passa pela porta sem camisa, expondo seu peitoral sem nenhum receio. Fico mais desconcertada ainda quando ele para e a pega pela cintura para sussurrar algo em seu ouvido, que retribui com uma risadinha.
Obviamente os dois haviam passado a noite juntos.
A mulher pega seu cavalo e sobe nele com toda classe; antes de partir, dá uma última piscada para o Sr. Thomas e logo depois sai cavalgando. Tento desviar meus olhos daquela cena, mas não consigo despistar meu espanto com o que acabara de ver. Quando tiro meus olhos do cavalo, já bem longe, e os retomo ao casarão, me deparo com o Senhor Feudal me observando de longe.
Eu o encaro de volta, sem medo de demonstrar minha reprovação em relação ao lado que ele acabara de expor. Um mulherengo, claro. Porque não desconfiei antes daquela postura toda?
Se ele por acaso tinha algum pensamento de que por eu ser serva, me tornaria uma presa fácil, estava muito enganado.
Ele me lança um sorrisinho malicioso. Não retribuo. Me levanto com o balde de água em mãos e me dirijo para a parte de trás da casa para continuar meu trabalho.
—Não creio— Andrew fica boquiaberto quando conto os detalhes da cena que presenciara hoje pela manhã.
—É sério, como a gente não desconfiou antes? — Digo enquanto tranco a porta para não correr o risco de nossa conversa circular pelo corredor.
—Se bem que não é a primeira vez que escuto sobre esse tipo de cena... as criadas do casarão vivem comentando sobre como esses nobres são mulherengos quando vou lá para falar sobre a colheita. —Andrew faz beicinho—É uma pena. Já tinha imaginado nós dois fugindo desse lugar em um cavalo branco.
Solto uma gargalhada.
—Você não existe, além de fofoqueiro também é pervertido. Que pecador...
Ele me lança um sorriso brincalhão.
—Por isso eu sempre ''fico doente'' quando somos liberados para ir na igreja. Tenho medo de pisar lá e meu corpo inteiro ser coberto por chamas. —Ele coloca seus pés sobre minhas coxas e se recosta na cama. Um folgado.
—É bem capaz. —Solto outra risada e pego de fininho o travesseiro ao meu lado, jogando-lhe sobre o rosto dele.
Andrew rebate e começamos uma guerra de travesseiros. Quando vimos, o quarto já estava completamente bagunçado por conta da nossa agitação.
—Tudo bem, tudo bem, você venceu guerreira. Agora vamos parar antes que você precise limpar mais coisa. —Ele diz rendido e rindo enquanto faz um sinal de paz.
—Já que eu ganhei, você limpa. —Pisco para ele saio do quarto rápido antes que ele comece a reclamar.
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Amor Sob Trevas
Historical FictionUma mulher. Dois homens. Um tempo cujo maior desafio é se manter vivo. Bem-vindo a Idade Média. #AMOTOTÓ #TheBest #ConcursoPF #GoldLeaves **Plágio é crime!