Capítulo 2

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—Prometa que vai se comportar—disse minha mãe enquanto penteava meus cabelos.

—Você sabe que eu sempre me comporto—garanti, com um sorriso malicioso nos lábios.

—É sério Antonella, não conhecemos esse homem, então não sabemos se ele se irrita fácil. Você não quer ter que pagar outra Taxa de Justiça, não é? Ou pior. —minha mãe suspira enquanto solta essas palavras em um tom de preocupação.

Me viro e seguro as mãos dela —Não se preocupe, vivemos aqui por anos e não vai ser agora que partiremos. —dou um sorriso, ela pareceu se tranquilizar com minhas palavras; apesar de temer que isso não seja verdade, tento me manter positiva.

Depois que terminamos de nos arrumar, caminhamos juntas até a sala e nos encontramos com o resto da família, depois partimos todos para o casarão principal, onde aconteceria naquela noite a cerimônia de passagem de feudo. Finalmente veríamos quem era o nosso novo Senhor. Minhas mãos tremiam.

Entramos e sentamos em algumas cadeiras reservadas para nós. Fazia tempo que eu não vinha ao casarão. Está reformado, as paredes pareciam novas, e está muito mais elegante do que eu me lembrara. Apesar de viver neste feudo há 18 anos, eu só vim até o casarão umas 3, já que era uma área proibida para nós servos; somente meu pai e Andrew vinham rapidamente para prestar contas da colheita uma vez por semana.

Observei cada uma das testemunhas presentes. Eram claramente os mais altos nobres da nossa sociedade, o que não me surpreende tanto, já que é comum que esse tipo de gente venha nessas cerimônias, que são tão valorizadas. O Diabo Feudal parecia nervoso, algo que eu não via com frequência; devia no fundo estar irritado por perder sua propriedade, bem feito.

Ouvimos uma cavalaria chegando, parecia vir muita gente. Os empregados do casarão se movimentavam de um lado para o outro, agoniados para receber o novo Senhor Feudal. Andrew engoliu em seco quando todos nos levantamos para observar o homem que chegara. Passei os últimos dias imaginando se era rabugento, se tinha família, filhos e filhas que nos explorariam mais do que já somos acostumados, se era alto ou baixo. Minha curiosidade não tinha limites.

Primeiro entrou o juiz que conduziria a cerimônia, era um senhor de postura ereta e muito alto. Logo depois entrou um casal muito elegante: Um senhor de elevada idade, que tinha um andar confiante, como se tivesse controle sobre tudo ali, e uma senhora com ar soberbo. E por último entrou um homem muito forte, alto, com um jeito seguro, que vestia um terno preto muito fino e bem passado, destacando seus músculos definidos. Imaginei que era ele o novo proprietário porque todos os convidados abaixaram a cabeça em um sinal de cumprimento ao vê-lo, e tivemos que fazer o mesmo.

Andrew me cutucou, claramente feliz pela aparência do novo Senhor Feudal. Franzi a testa para ele controlar seu fogo. Ele riu.

—Boa noite, senhoras e senhores, hoje é um dia importante. Nosso Sr. Thomas, filho do Barão Cortês, assumirá o posto de Senhor Feudal nesta propriedade. —disse o juiz barbudo que entrou primeiro.

Depois de ler um documento que parecia não acabar mais, o juiz chamou o Diabo Feudal, que tinha um pequeno saco de terra em mãos, e o novo Senhor Feudal, que se ajoelhou perante todos.

—Por meio deste saco simbólico, eu oficializo perante as testemunhas aqui presentes, que este feudo passa a ser propriedade do Sr. Thomas Cortês até o fim de sua vida. —Depois que o juiz diz isso, o Diabo Feudal entrega o pequeno saco, visivelmente com muita dor de ser obrigado a vender sua propriedade. Apesar dos meus medos anteriores, fico feliz em ver aquela cena, significava que enfim nos livramos daquele homem.

O Sr. Thomas se levanta e todos aplaudem; pude observar algumas expressões. Os pais dele pareciam satisfeitos, assim como os outros nobres, enquanto que as mulheres lançavam alguns olhares desejosos para o novo Senhor Feudal; nem pareciam aquelas damas comportadas que entraram pelo portão da frente.

Ao fim da cerimônia, meu pai educadamente foi cumprimentar o novo patrão, e nos chamou para ir junto; me surpreendi de ele ter aceitado o cumprimento e ainda ter apertado a mão de meu pai. Logo depois disso ele se dirigiu à minha mãe e tia Stella com um sorriso nos lábios; depois apertou a mão de Andrew e por fim se dirigiu a mim; nossos olhos se encontraram, e ele me olhou de cima abaixo; pude sentir um calafrio percorrendo meu corpo; dei um leve sorriso como um gesto de educação e fui surpreendida quando ele retribuiu o gesto e ainda pegou minha mão para beija-la. Ninguém nunca havia demonstrado tanta simpatia para conosco, espero que isso não seja só por causa dos convidados aqui presentes.

Depois disso eu e minha família nos dirigimos à porta para voltarmos para casa, pois agora começariam as comemorações dos nobres, e os servos eram proibidos de participar. Fizemos um cumprimento com a cabeça em direção ao Senhor Feudal, que retribuiu. Nos dirigimos até a porta e quando já estávamos um pouco distantes, virei a cabeça e olhei para trás; percebi que o Senhor Feudal ainda me olhava fixamente; provavelmente queria memorizar os rostos de seus servos. Virei a cabeça novamente e continuei caminhando com minha família.

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