—Veio me agredir pela segunda vez consecutiva? —O monge diz, tocando em sua testa.
Cruzo os braços.
—Eu não o agredi, foi um acidente. E sem chances de eu me confessar para você.
Ele ri e senta na cadeira à minha frente.
—Considerando seu temperamento, imagino que tenha muitos pecados.
Talvez.
—Isso não é da sua conta.
Ele levanta as mãos, como um sinal de paz.
—Certo, certo. Por que não fazemos assim: Como membro da igreja, devo exercer o perdão. Por isso estou disposto a esquecer o que houve ontem, se você concordar.
Se eu concordar? Não me parece que tenho outra opção. Se bem que, eu já estava cheia de problemas. Não seria vantajoso acumular mais um, ainda mais com um monge.
—Tudo bem.
Ele sorri.
—Ótimo, vamos começar novamente. Sem brigas. —Assinto com a cabeça— Qual o seu nome, senhorita?
—Antonella.
—Sou o Cícero, ao seu dispor. Meus ouvidos são seus hoje. —Sorrio para ele de leve—Me conte, Antonella, o que lhe atormenta?
Relaxo os ombros.
—Você é o primeiro Monge para o qual eu me confesso. Por que nunca te vi por aqui antes?
—Geralmente eu fico junto com meus colegas no Mosteiro. Só saímos de vez em quando. Mas hoje meu pai quis que eu tivesse uma experiência nova.
—Seu pai? O Abade?
—Não. —Ele dá uma risada. —Sou filho do Papa.
Arregalo os olhos, não consigo evitar. Como o Papa pode ter tido um filho?
—Sei o que está pensando, mas não é nada disso. —Cícero diz. —Meu pai me encontrou em uma cesta quando eu ainda era bebê. Fui deixado na porta da Igreja. Por isso fui criado como seu filho. Segundo ele, sou um presente enviado dos céus. —Explica, com orgulho na voz.
—Surpreendente. —A figura do Papa sempre foi de extrema rigidez. Ele mandava diversas pessoas constantemente para a Fogueira Santa; sem demonstrar o mínimo de compaixão. Realmente é surpresa descobrir que ele tem um filho.
Cícero apoia os cotovelos sobre a mesa, colocando a cabeça entre as mãos e me olhando com atenção.
—Acho que já falamos o suficiente sobre mim. Por que não me conta o motivo de estar aqui?
Cerro os olhos. Não podia sair contando que desrespeitei meu Senhor Feudal.
—Eu tenho um segredo. Digamos que eu fiz algo ruim para alguém que não devia nem sequer olhar por muito tempo.
Cícero me olha confuso.
—Se fez algo de errado, porque apenas não pede perdão a essa pessoa? Garanto que lhe trará uma paz sublime. —Ele diz, colocando a mão sobre o peito.
Bato a mão na mesa.
—Pedir perdão? Você ficou louco? —Suspiro—Aquele homem é a maldade em pessoa. Como as pessoas podem achar que só por causa daqueles olhos, ou aquelas maçãs no rosto, ele é perfeito?—murmuro, irritada.
Cícero me olha encantado. Obviamente parou de ouvir em algum momento.
—Adoro maçã. Faz muito tempo que não como uma.
Dou uma risada. Acho que a conversa mudou de rumo outra vez.
—O que você faz o dia inteiro? Quer dizer, além de ler a bíblia.
—Bom... um monge não pode circular para outro local que seja fora das fortalezas da Igreja. É proibido, por isso só passeamos por aqui.—Cícero explica.— Nosso dever é estudar e rezar pelas necessidades dos fiéis. Faz parte da nossa vocação. Em geral somos privados de certas coisas que são comuns para outros.
—Vocação? Mas você não tem vontade de sair e conhecer outros lugares? Comer coisas novas?—pergunto, intrigada.
Cícero abaixa os olhos. Sinto pena. Era óbvio que ele não tinha essa escolha.
E eu achando que só os servos não tinham tanta liberdade.
—N-não, não. Estou bem só em poder servir a Igreja e ao povo.—Cícero diz, mas não acredito muito. A tensão em seus ombros é evidente.—Sinto muito, deveríamos estar falando sobre você. Em vez disso quem acabou falando demais fui eu.
Sinto uma pontada no peito. Ele parecia ser uma boa pessoa. Acabara de me conhecer. mas tentara de tudo para me fazer sentir confortável até agora. Me pergunto se ele nunca se abrira para alguém antes.
—Está tudo bem. Mas já que você gosta tanto de maçã, deveria provar um dia a minha torta de maçã. —digo, orgulhosa— Sabe, dizem que sou ótima cozinheira.
—Torta de maçã? —Seus olhos brilham.
—Sim.—Digo, sorrindo— Encare como um presente por ter me ouvido blefar por tanto tempo.
Cícero me olha maravilhado. Acho que nunca recebera um presente de verdade antes.
—Pois então, espero que este próximo encontro aconteça logo.
Levantamos juntos. Cícero olha no fundo dos meus olhos. Seu olhar é profundo, como se pudesse ver minha alma. Não havia reparado em seus olhos na primeira vez em que o vi. Nos despedimos com um sorriso. Saio da sala feliz, sentindo uma energia positiva que me faz acreditar que aquele segundo encontro pode ser o começo de uma amizade.
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Oi pessoal! Peço desculpas por demorar tanto para liberar este capítulo. Estou tendo alguns problemas para postar, mas estou tentando resolver tudo. Espero que estejam gostando! <3
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Amor Sob Trevas
Historical FictionUma mulher. Dois homens. Um tempo cujo maior desafio é se manter vivo. Bem-vindo a Idade Média. #AMOTOTÓ #TheBest #ConcursoPF #GoldLeaves **Plágio é crime!