xvi. thousand ways to make you happy

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Louis irradiava felicidade. Seu nome estava escrito com letras maiúsculas no centro da lousa que ficava em um ponto estratégico do setor e indicava quem era escalado para o que e em que horário isso aconteceria. Isso significava que as coisas voltaram ao normal e ele era o responsável por uma cirurgia de edema cerebral.

Ele ficou encarando o quadro branco rabiscado com várias caligrafias e sorrindo igual bobo. Ainda não tinha se deparado com a saudade que sentia de sua equipe quando entrava em ação, a forma como cada um operava para o resultado que salvaria uma vida. Os desentendimentos também costumavam fazer parte do processo, e tudo bem, trabalhar em grupo pode ser realmente penoso, mas como vidas eram postas em jogo, simplesmente jogavam tudo para baixo do tapete e davam seu melhor para que pudessem resolver tudo com calma depois.

Lidar com pessoas, no geral, sempre seria um trabalho árduo. Grande parte dos casos eram muito complexos e demandavam jogo de cintura para lidar com a família e o próprio paciente. Pessoas conservadoras, religiosas, mesquinhas, mal educadas, arrogantes apareciam a todo segundo e a regra era clara, os clientes sempre detêm a razão e deveriam ser priorizados. Nenhum colaborador do hospital de salvou de engolir sapos ou receber ameaças, como eram banhados de benefícios e o salário sempre foi muito valorizado, ficava por isso mesmo. O cliente sempre com a razão.

Poucos levantavam a voz ou rebatiam com grosseria pois prezavam pela vaga que conseguiram depois do processo seletivo cansativo e treinamento intensivo. Louis fazia parte dessa pequena minoria quando se tratava do bem estar dos pacientes. Ele não suportava a falta de respeito de familiares e amigos em momentos tão delicados e fazia questão de deixar isso claro pedindo que se retirassem da sala ou que agissem de forma mais coerente. Foram treinados para lidar com situações de pressão com sorrisos no rosto e tratando da melhor forma quem quer que aparecesse para buscar atendimento e se defender alguém em um estado instável e corrigir pessoas sem discernimento para conseguir criar ambiente mais leve — fosse o leito ou a sala de espera — significava uma advertência, ele não se importava.

Depois de verificar alguns pacientes no leito e checar prontuários, se contentou em almoçar na lanchonete do hospital e esperou até que a hora chegasse. Estava muito ansioso com a perspectiva de voltar para a sala de cirurgia. Batalhou tanto para conseguir chegar na posição em que almejava e se orgulhava todas as vezes em que lavava as mãos e observava o paciente já anestesiado na mesa pelo vidro na parede das pias, recitando palavras positivas para que tudo ocorresse bem. As circunstâncias não eram as melhores, mas ele se via como um intermédio no processo de fazer com que as coisas ficassem adequadas de novo. Quando tudo ocorria bem e ele retornava ao leito para poder conversar com o hospitalizado, a gratidão que sentia ao ter a mão segurada e os olhos encarados atentamente fazia com que tudo valesse a pena.

A equipe de profissionais já o aguardava dentro da sala com o paciente anestesiado na mesa, todos vestidos com o uniforme de cirurgia fornecido pelo hospital e suas toucas personalizadas que eram escolhidas a parte, de acordo com os gostos pessoais de cada um. Louis achou que uma do Nemo seria ótima para acompanhá-lo nas emoções de cada cirurgia. Higienizou as mãos e esperou que uma auxiliar as enluvassem, respirando fundo antes de entrar.

— Boa tarde! Estão todos prontos? — Cumprimentou assim que entrou na sala.

— Boa tarde, doutor — cumprimentaram em uníssono.

Ele se posicionou na mesa e fechou os olhos por alguns segundos.

— Bisturi.

Louis estava indo bater o cartão e pegar suas coisas para finalmente ir para casa quando cirurgiã que o substituía, Laura, o parou no corredor e o entregou um prontuário, dizendo rápido que precisava que ele resolvesse e ficasse ali até que ela retornasse do que quer que tinha de fazer no momento.

aneurysm • lwt+hesOnde histórias criam vida. Descubra agora