Epílogo

920 46 96
                                    

8 anos eldurianos depois

Desço até a prisão e paro em frente a cela de Draken. Olho para a cela no lado oposto onde minha prima, Letha está virada para a parede e de costas para o corredor. Suponho que ela está dormindo e me viro novamente para a cela de Draken. Ele está sentado em sua cama. Sorri me olhando. Sorrio de volta.

Me sento ali, do lado de fora, no chão mesmo, apoiando as costas na parede. Qualquer um que me visse daquela forma acharia totalmente inadequado para a rainha de Eldur. Mas eu não ligava nem um pouco. A única pessoa que tinha a moral de me julgar já havia morrido anos atrás e morta pelo povo do homem que estava naquela cela. Um homem que com os anos desenvolvi certa afeição. Um dos únicos do povo Nótt que havia mostrado o mínimo de compaixão por mim. Draken foi preso, quando me ajudou a fugir, por sua lider, que tempos depois fui saber que era mãe de sua sobrinha, a garota que lutou contra Hakon e forjou sua morte e também que convenceu a mãe a não me matar no dia do ataque. É fácil ver a qual lado da família a garota puxou.

Queria ter soltado ele anos atrás, mas o povo Dagur nunca aceitaria um Nótt entre nós depois do massacre que fizeram conosco. Mesmo um que salvou sua rainha. Eles só aceitariam se ele fosse embora por um portal para algum outro reino, mas Draken não aceitava isso. Preferia ficar preso a partir. Nem os anos o haviam feito mudar de ideia.

Ele levanta e senta próximo as grades. Próximo a mim. Sempre me sinto minúscula perto dele. É um homem grande e suas feições podem assustar inicialmente. Mas o conhecendo como já conheço, sei que ele não é alguém ruim. É apenas alguém nascido do lado errado da muralha que teve que fazer algumas escolhas ruins para conseguir sobreviver.

Não era novidade para mim que era apaixonada por aquele Nótt. No início foi meio apavorante, mas me acostumei com isso. Foi bom para mim, me ajudou a superar o buraco que Loki havia deixado em meu peito. E ao menos Draken não podia me magoar, já que provavelmente nunca teríamos nada. Em mim ele provavelmente via apenas uma amiga pequena que também era rainha do povo que ele nasceu para ser inimigo. Já era suficientemente estranho para ele ser meu amigo, ter algo a mais, nunca aconteceria.

-Veio matar o tédio com o Nótt brutamontes novamente, vossa majestade? O que seu povo irá pensar?-Draken zomba. Reviro os olhos para ele. Detestava quando ele chamava a si próprio de brutamontes.

-Eles deveriam estar pensando em cuidar de suas vidas ao invés das escapadas da sua rainha para ver seu Nótt de estimação.-ouço a voz de Letha e viro vendo que ela, ao contrário do que pensei, estava bem acordada e agora sentada na cama nos observando.

-Nótt de estimação? Essa é nova.-Draken diz divertido.

-É a sua cara. Como está a vida lá fora prima?

-Você sabe de tudo, sei que Iduna te visita todo dia.-digo e Letha sorri. Iduna realmente não conseguia ficar longe de sua irmã. Não agora que elas finalmente estavam tão próximas uma da outra.

Eu até tentava ter mais tempo para vir ver ela e Draken, mas com as mudanças no reino evoluindo a cada dia, não me sobrava muito tempo.

-Sigyn.-Vidar chama. Ele para perto de mim e estende a mão para me ajudar a levantar.

Meu irmão está nervoso. E a única coisa que sei é que não é por eu estar aqui com Draken. Nunca ligou para minhas escapadas. O único que surta com isso e acha extremamente inadequado é nosso pai, mas ele não aparece no castelo faz um tempo.

-O que aconteceu?-pergunto já preocupada com o que quer que seja.

-Loki está aqui e está com companhia.-ele conta e fico paralisada.

-Me deixe ir com você.-Draken pede antes que eu consiga ter alguma reação. Olho para trás. Ele está de pé dentro da cela, parado como uma montanha. Dá pra notar que está irritado. Com nosso tempo de convivência e meus desabafos ele acabou tomando minhas dores.-Eu cuido dele.

Betrayal • Loki •Onde histórias criam vida. Descubra agora