Capítulo 6

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- Eduardo, o que a minha mãe esta fazendo na nossa casa? – a voz da Gabi pelo telefone demonstrava uma raiva que não era comum a ela.

- Eu não sei, Gabi. Ela está aí? – disse torcendo para que dona Olga não tivesse contado a ela sobre a nossa conversa.

- Ela está. E você sabe que se não fosse por algo muito sério, ela não viria. Ela não sai de casa por nada. Esta aqui. Com uma mala! Eduardo, eu não acredito que você contou pra minha mãe o que aconteceu. – a voz da Gabi misturava o tom de ameaça com a doçura natural, o que me lembrava o ataque de um gatinho fofo.

- Gabi, não sei do que você está falando. Mas sua mãe ficará chateada ouvindo você falar como se não quisesse a companhia dela.

- Ela está tomando banho. – disse a Gabi, seca.

- Podemos conversar mais tarde? Está um pouco corrido aqui. – disse para encerrar a ligação, embora as coisas no meu trabalho estivessem corridas mesmo.

Não que a Gabi não gostasse da companhia da mãe: ela a idolatrava, se falavam por mensagens todos os dias, e tinham um ótimo relacionamento. Mas uma coisa era verdade: a dona Olga era protetora demais. Isso incomodava a Gabi um pouco, e me incomodava também, quando frequentava sua casa. Dona Olga era daquelas que te dão mil e uma recomendações: "Tá levando blusa? E o guarda-chuva? Vai, pega o guarda-chuva! Que horas você vai chegar? Quer um lanche? Leva um lanchinho! Então come aqui antes de sair! Quando chegar lá, me liga!"

"É a forma dela cuidar de mim." – era o que a Gabi sempre dizia. Quando nos mudamos, a dona Olga estava bastante relutante, pois por ela, eu me mudaria para a sua casa, e ela "cuidaria" de nós dois, como ela mesmo dizia. Explicamos a necessidade da mudança para ficarmos mais perto dos nossos trabalhos, mostramos que a distância entre nossas casas não seria tão grande, e mesmo assim, tenho certeza que ela só não se mudou junto porque tinha apego a sua casa, onde viveu seu marido. De alguma forma, aquela casa mantinha vivas suas memórias.

Quando cheguei em casa, senti do lado de fora o cheiro de comida. Se a Gabi cozinhava bem, tinha a quem puxar. Assim que abri a porta, dei de cara com uma dona Olga levando uma tigela fumegante de canja para a Gabi, no quarto. Cumprimentei-a de forma cortês, selando novamente nosso pacto secreto, no qual a Gabi não deveria imaginar que eu havia ligado para sua mãe. Me dirigi ao quarto e encontrei a Gabi deitada, o que me preocupou.

- Gabi? Você tá bem? – disse depois de lhe dar um selinho, que ela teria rejeitado se a mãe não estivesse ali.

- Ela tá bem, Eduardo. – era a voz de dona Olga que respondia, enquanto ela ajeitava um pano de prato em volta da tigela quente. – Só aproveitei o tempinho pra fazer uma canja, e disse pra Gabi que grávida tem que ficar deitadinha mesmo, e receber tudo na mão.

A Gabi olhou pra mãe com um sorriso bem tímido, para que eu não esquecesse que ela estava brava comigo. Dona Olga percebeu o clima e saiu de cena:

- Vou lá ver um bolinho que coloquei pra assar.

Quando a Gabi me olhou, percebi que ela já sabia que eu havia ligado. Não que a mãe dela houvesse contado, estou certo de que dona Olga não disse nada. Mas sei lá, de que jeito, aquela bruxa sabia. Era imune as minhas mentiras. Então, nem resisti.

- Desculpa Gabi, estava preocupado em te deixar sozinha.

- Eu sei, Dú. Não estou brava por minha mãe estar aqui. Estou chateada porque você provou que não confia em mim. Eu disse eu estou bem.

Laços Invisíveis - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora