Juan Batista

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E assim nasceu mais um dia. O sol mais uma vez entrou pelas janelas do Palácio dos Laranjais. Madu ainda ressonava. De forma leve, o torpor do calmante que havia ingerido perdia o efeito sobre seu corpo que despertava lentamente. Ainda de olhos fechados, a princesa sentiu um toque suave sobre sua pele. Não soube dizer se o toque era conhecido ou não. Ainda grogue, Maria Eduarda manteve-se de olhos fechados. A mão que estava em seu braço direito agora fazia carinho em sua bochecha.

- É você? – A princesa perguntou em um sussurro.

Madu ainda tinha dúvidas se sonhava ou não com seu salvador mascarado. Ele ousaria passar a noite velando seu sono em seu quarto? Permaneceu quieta, apenas aproveitando o leve carinho que recebia.

- Madu, sou eu, Marcela. - Pronunciou levemente, para não assustar a sonolenta Madu, que, sobressaltou-se mesmo assim. – Bom dia!

Dando-se conta que o dia já havia amanhecido, Madu vislumbrou a luz do sol e o rosto de sua amiga que a olhava com atenção. A mão ainda fazia um leve carinho em sua pele e um sorriso aos poucos enfeitava o rosto da morena sentada ao seu lado.

Dividida entre dois sentimentos, Madu não sabia se ficava contente pela presença da amiga ou frustrada por tudo ter sido um sonho. Melhor dizendo, um pesadelo, já que havia voltado para casa por conta do falecimento de sua querida mãe.

De forma descontente fechou as mãos com força com o intuito de extravasar um pouco de sua frustação. Ao fechar a mão esquerda sentiu um objeto que sabia exatamente do que se tratava. Sem se conter e ignorando a amiga que a observava, sorriu largamente e levantou a medalhinha até seu rosto, ali estava a constatação de que não viveu um sonho ou um delírio com o mítico mascarado. Peste Rubra esteve no palácio.

- Você está bem, Madu?

Despertando de sua letargia, Madu balançou a cabeça afirmativamente para a amiga e em seguida a abraçou sem aviso. Marcela, mesmo não entendendo os atos da amiga a acolheu em seus braços. As duas eram próximas desde a mais tenra infância. Marcela era filha de Duque Brás, um dos homens de confiança de Maria Elis. Marcela era uma jovem tímida, recatada e introspectiva, quase o oposto de Maria Eduarda e por esse motivo praticamente se complementavam.

A família Brás não pode ir até a cerimônia fúnebre em homenagem a Maria Elis pois estavam viajando em férias, mas logo que souberam da tragédia interromperam o passeio e voltaram a Ursal. Infelizmente não chegaram a tempo do enterro, mas na manhã seguinte, na primeira hora, estavam no palácio para prestar as condolências à família de Maria Elis. A rainha era uma pessoa de sua estima e Marcela e Juanito tinham compromisso a Duque Brás e sua filha não poderiam faltar em uma hora dessas.

Logo após falar com seu futuro namorado e Inácio, Marcela quis ver Madu. Assim que chegou aos aposentos reais, Marcela foi informada por Inácio que a princesa havia sido medicada com florais para se acalmar e ter uma boa noite de sono. Inácio acompanhou Marcela até a porta dos aposentos da irmã e explicou que ela poderia estar alterada, por isso não estranhou seu estado.

- Um pouco tonta com tantos acontecimentos. – Afastou-se de Marcela para ver seu rosto. Era tão bom tê-la por perto. Sentia muita falta de sua sensatez, suas palavras doces e lealdade. Sorriu. -Você está tão linda quanto antes.

Marcela sorriu de volta.

- Seus cabelos estão diferentes, porém, não menos belos.

- Senti sua falta, pivetinha! – Madu brincou apertando as bochechas de Marcela. Madu era dois anos mais velha que a garota, sempre brincava a esse respeito dizendo que Marcela lhe devia obediência, o que era um grande problema já que entre as duas Madu era tida como a mais desjuizada. - Você é a primeira que fala a respeito dos meus cabelos, mas desde que cheguei muitos me olharam com estranheza. Não estão acostumados com o diferente. Isso aqui se chama dreadlock.

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