Clara

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A cena nada peculiar surpreendia os curiosos de plantão. Antes que a própria polícia chegasse, após receber um alerta através de uma ligação anônima, os moradores mais próximos da escola ouviram gritos desesperado no interior do prédio e sem cautela alguma resolveram por conta própria averiguar o que acontecia.


A surpresa era tamanha que os primeiros a chegarem se distraíram com o enorme estrago, esquecendo-se em desamarrar e dupla que estava presa no fundo da sala. O estado do lugar era tão preocupante e entristecedor para os que ali moravam que podia-se ver o desolamento nos olhos de cada um. Foi essa cena que os policiais presenciaram ao chegar. Paredes rabiscadas, móveis quebrados por todos os lados, moradores inconsolados exigindo explicação e mais ao fundo do cenário o Príncipe e o filho do conselheiro amarrado um ao outro sentados ao chão.


Apesar da aparência deplorável, Juanito sustentava seu nariz arrebitado com a perícia de um menino mimado. Fabricio demostrava extremo descontentamento soltando xingamentos ao vento. Em similaridade com o lugar que os dois vandalizaram na noite anterior, o estado de Fabricio e Juanito também estava calamitoso, roupas rasgadas, faces ensanguentadas e inchadas de um embate que claramente levaram a pior.


- Foi Peste Rubra, aquele criminoso sem escrúpulos! – Disse Fabricio sem que perguntassem. 
- Onde ele está? – Perguntou o policial alarmado e temeroso.
- Ele fugiu assim que nos amarrou, covarde...

Até o momento, Juanito apenas soltava gemidos de insatisfação, pois ainda estava amordaçado com a própria gravata, Fabricio havia conseguido se livrar do tecido que cobria a sua boca depois de algumas horas e se pôs a gritar por socorro na esperança de ser ouvido por algum transeunte. A ideia do jovem teve tanto êxito que em poucos minutos apareceu uma senhora acompanhada de dois rapazes. 


Os policiais surpresos com a presença de dos dois jovens de famílias importantes do lado Sul, logo se moveram para soltar os garotos das amarras que apertavam seus pulsos e pernas com nós bem feitos e difícil de se desfazer. Em tentativas falhas desistiram afim de usar um pequeno canivete para cortar as cordas com muito mais êxito e rapidez.

- Isso é um absurdo, um absurdo! –  Juanito berrou assim que foi solto. – Esse lugar de pobretões é uma ameaça para qualquer pessoa de bem transitar!


O conglomerado de moradores que havia aumentado perceptivelmente se revoltou com as palavras de Juanito. O jovem pouco se importando com a insatisfação dos ouvintes continuou sua fala, dizendo o que sempre achou, externando para quem quisesse ouvir que aquela parte da ilha era um verdadeiro subúrbio e que suas idas eram por obrigação ou algum interesse específico.

- Eu exijo que me levem imediatamente para o Palácio. Não quero ficar nesse lugar nem mais um minuto. – Finalizou convicto que seria obedecido pelos policiais que não se moveram.

- Senhor, não podemos. – Percebendo que o jovem Príncipe ignorava solenemente, o guarda aumentou seu tom de voz para ser ouvido. - Volte aqui meu rapaz!


Apesar da acusação que Fabricio fez culpando Peste Rubra do ocorrido, nada justificava a presença dos dois jovens naquele lugar, extremo total de seus lares. Juanito, temeroso de sofrer represálias futuras do mascarado, nada dizia e apenas acompanhava Fabricio em seu relato enrolado que não convencia meia dúzia dos que estavam ali. 

- Teremos que levá-los até a delegacia, pois o lugar foi vandalizado e vocês foram os únicos encontrados aqui. – Pigarreou o policial nervoso por estar falando daquele modo com os rapazes sabendo muito bem que poderia sofrer represálias por isso. – Vocês não estão sendo acusados de nada previamente, mas é de praxe que vão até a delegacia prestar esclarecimentos.

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