Heloísa

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(...)

- Desculpe, senhora. – Disse Marielle ao esbarrar em Heloisa.

Apesar da maioria das pessoas que estavam na praça terem se dispersado após o discurso ousado de Madu, duas ou três mães de alunos ainda queriam justificar o injustificável. Elas explanavam para Madu os motivos por terem agido de forma intolerante com Anahí. A vontade pessoal de Madu era mandar aquelas senhoras plantarem batatas, mas como Chefe de Estado que era, respirou fundo e escutou o que as infelizes tinham a dizer. As mulheres falavam tanta bobagem que Madu acabou se distraindo e nem notou quando a pequena Marielle se soltou de sua mão para caminhar pela praça. 


 

A ideia inicial de Mari era circular pela ilha para ver se encontrava Anahí ou ao menos alguém que soubesseade seu paradeiro, mas Mari se esqueceu de seus planos ao se deparar com o belo conversível vermelho parado rente a guia da praça. O carro brilhava tanto que Mari conseguia ver sua imagem refletida nele. Curiosa como era, foi se aproximando e trombou com uma das ocupantes do carro, Heloísa Ferreira.



Heloisa, mulher de porte altivo e feições sérias, impunha respeito sem ao menos pronunciar qualquer palavra. Seus olhar expressivo era o suficiente para impactar qualquer pessoa que a conhecesse. Não foi diferente com Mari. A menina ficou estática enquanto Admirava Heloísa. A mulher negra acabou sorrindo para a garotinha. Se Antônia havia se "reencontrado" na praia através da menininha marisqueira, Heloísa viu seu passado refletido em Marielle. Sua infância não havia sido nenhum conto de fadas. Assim como Marielle, andou muito em farrapos, sob olhar de piedade e desprezo de muitas pessoas. Antônia logo percebeu o apreciar  significativo de sua companheira a garotinha. Heloísa lhe sussurrou.



- E foi daqui que eu vim...



Antônia compreendeu o que Heloísa queria dizer, seu "daqui" não se referia a Ursal, mas sim da rua. Já havia virado muitas noites ao relento e sabia bem o que era sentir fome e frio. 



- A senhora parece uma rainha. – Marielle balbuciou de forma natural. Não estava mentindo. Heloisa vestia-se com extremo esmero, assim como tudo que fazia na vida. Detalhista até o ultimo fio de cabelo, em um contraste perfeito com sua mulher, Antônia, que impunha um estilo mais descontraído e natural. Marielle já havia conhecido duas rainhas, Maria Elis e Maria Eduarda, mas Heloísa tinha o tom de pele tão escuro quanto o seu, era primeira vez que Marielle havia visto uma mulher negra, no mesmo tom que o seu, tão bem arrumada.

- E ela é! – Antônia disse abaixando-se para falar com a menina de olhar esperto. – Ela é a rainha do meu coração...

- Antônia! – Repreendeu Heloisa sem graça.

- Eu também conheço uma rainha! – Marielle comentou animada. -  Nossa, agora são duas rainhas em Ursal... Bem que a Bruxa falou!  – Constatou a menina admirada. – Espera um pouquinho, vou chamar a princesona, para vocês verem que não estou mentindo!



E assim a menina saiu correndo até atravessar a rua e alcançar Madu que agora falava com Fátima. Felizmente as outras mulheres se foram antes que Madu esquecesse que era Rainha e fosse grosseira com elas. Com alguns puxões na saia de Madu, Mari conseguiu a atenção da Rainha e mesmo sem saber para onde, Maria Eduarda seguiu a menina sem contestar. Tanta animação para mostrar algo não seria à toa. Após esperar que um ônibus passasse para atravessarem a rua, Fatima, Madu e Marielle, caminharam em direção ao conversível vermelho.



- Que carro bonito! – Observou Fatima admirada. O possante rubro realmente chamava atenção. – Parece de cinema!

- É da outra rainha. – Cochichou puxando mais uma vez a mão de Madu para que a seguisse.

- Rainha?

- Sim....Olhem! – Apontou para o casal que estava na calçada encostadas no carro, aguardando o retorno da menina esperta.


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