Princesinha Berta

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Rosa não esperava aquela pergunta da filha. Sempre que tentava dialogar com Anahí sobre Robin, a professorinha fugia do assunto. Por que ela não fez o mesmo ao falar da Rainha? Ao perceber que espontaneamente havia colocado Robin e Maria Eduarda na mesma prateleira (ambos como pretendentes de sua filha), Rosa se assustou. "Credo!", a dona de casa pensou. Aquilo jamais aconteceria. Anahí sempre foi uma boa menina, ajuizada. Está certo que ela tinha algumas ideias moderninhas demais para Rosa, mas isso não.



 
Só de pensar naquela possibilidade, Rosa sentiu seu rosto corar e uma zonzeira rodear sua cabeça. Rosa casou cedo, o marido era um miserável que apenas serviu para deixar Anahí em seu ventre e sumir. Havia sido apontada na rua por pessoas mesquinhas por criar sua filha sem um marido ao lado. Já havia passado por tanto sofrimento, tinha certeza que Deus e sua santinha de devoção, Princesinha Berta, a livrariam daquele desgosto de ter uma filha doente. O problema todo era aquela Princesinha rebelde, metida a Rainha. Uma fedelha que mal saiu dos cueiros querendo governar um reino. Ela sim que era uma má influência a Anahí, mas Rosa estava ali para manter a filha no caminho correto.
 


- Mãe, eu lhe fiz uma pergunta.
 
- Muito descabida por sinal. Que interesse eu poderia ter naquela moça? Seus pais sim, são pessoas da mais alta estirpe. La Madre era uma mulher muito boa, quase tão santa quanto Princesinha Berta... E o senhor Juan Batista, nem preciso falar... Não sei quem essa garotinha sem eira e nem beira puxou.
 


Anahí teve vontade de rir. Tudo bem que Maria Elis era uma mulher muito boa, agora Juan Batista? Lembrou-se de um velho ditado "Quem não te conhece, que te compre".
 


- Madu é uma mulher muito inteligente, mãe. Algumas vezes pode não ter a mesma cordialidade que a mãe, mas seu coração é tão bondoso quanto. E suas intenções para o nosso reino são as mais nobres possíveis.
 
- De boas intenções o inferno está cheio. – Rosa afirmou fazendo a filha revirar os olhos. – Até hoje não engulo a desfeita que essa moça fez a própria mãe comparecendo no velório dentro da igreja de calças. Falta de respeito! Você não dê muita conversa a ela... Vamos entrar...
 
- Não, eu prefiro esperar aqui fora. Quando eu voltar com as compras eu entro e tomo um café com a tia...
 
- Está certo.
 



Rosa entrou na casa da irmã e voltou com o dinheiro e uma lista de compras. Alzira precisava de suprir a dispensa da casa, mas como estava com dificuldade para andar e precisava de Rosa para tudo, sobrou para Anahí fazer as compras para a tia. Despediu-se da mãe com a promessa que voltaria o mais rápido possível. Rosa encostou a porta da casa e tomou um susto ao encontrar Alzira na sala. A mulher veio se arrastando do quarto com o apoio de uma cadeira.
 


- Por que não pediu minha ajuda, irmã? – Rosa questionou.
 
- Doutor Robin disse que preciso me exercitar para não atrofiar os músculos... Era Anahí que estava na porta? Eu ouvi ruído de motor de carro. Você disse que a Kombi da escola estava quebrada.
 
- Ela veio de carona com... Uma amiga. – Assim como Rosa, Alzira também não simpatizava com Madu, por isso a mais nova não citou o nome da Rainha a chefe das beatas. – Foi isso.
 
- Amiga? – Maledicente. – Anahí sempre gostou da companhia das meninas, não é mesmo? Nunca ouvi falar dela com rapazes...
 
- Ah, mas ela gosta deles também... Não de todos porque não é uma sirigaita, mas de um especial... Doutor Robin. Eles praticamente têm compromisso firmado. – Mentiu. - Só falta doutor Robin ir pedir a mão dela em casa, mas sabe como é a moçada de hoje... Detestam formalidades. Anahí acha que é quadrado demais ir pedir a mão...
 
- Sua filha tem ideias modernas demais para o meu gosto. – Alzira disse. - Case-a o quanto antes. Doutor Robin é um bom partido e parece ter posses, apesar de ser moreninho demais. - Fez uma pausa. – Tenho que reconhecer que minha sobrinha teve mais cabeça que você. Ao menos não vai ser abandonada com uma criança na barriga.
 
- Anahí com um filho? Deus me livre! – Rosa fez um sinal da cruz. Não queria que a filha tivesse o mesmo destino que o seu, mas por outro lado se Anahí tivesse seu destino, ao menos teria casado com um homem e não com uma... Nem gostava de pensar naquela hipótese. Murmurou para si mesmo. – Mas quem me dera...
 

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