Capítulo 17

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Setembro trouxe um alívio para os dias quentes e úmidos do verão na Cornualha. Na zona rural, cintilavam as cores do outono. O trigo e as frutas amadureciam. Os lavradores estavam felizes com as colheitas abundantes. Gabrielle nada viu. Apesar de estar na região há quatro meses, ela não tinha permissão de aventurar-se para além do topo dos despenhadeiros de onde se avistava Dunraeden e sempre na companhia de Harry. Não houve passeios dignos de boas lembranças. Não recebeu visitas. Não praticou esgrima nem cavalgou pelo cam­po. Nada que lembrasse aventuras com os contrabandistas que tanto a alegravam na Normandia. O verão foi tedioso com os dias em que o sol não se escondia antes das dez da noite.

Gabrielle sentia falta de ter amigos. Até mesmo Louise seria bem-vinda, embora pensasse na moça com sentimento de cul­pa. Afastou Harry da mulher com quem ele poderia ter-se ca­sado. Nos poucos dias que esteve com Louise, antes da partida apressada, Gabrielle sentiu a intimidade inegável entre eles. Um verdadeiro compromisso.

Mesmo sem simpatizar muito com Louise, ela chegou a las­timar não ter feito amizade com a bela mulher. Pelo menos teria companhia.

Sentia-se solitária e aborrecida. Não tinha a menor aptidão para desempenhar o papel de castelã. Nem precisaria. Não ha­via festas, entretenimentos, nem convidados. Apenas uma su­cessão de tarefas monótonas. Fazer inventário de roupas de cama e banho, louças e talheres. Supervisionar os deveres do exército de servos, entre os quais muitas moças recém-contratadas. Eram serviços que não a atraíam. Arrumar quartos, lim­par prata e cristais. Sua preferência recaía sobre a sala de armas e a estrebaria. Mas os dois últimos faziam parte dos domínios exclusivos do duque.

Harry passava o tempo ocupado com os problemas da pro­priedade. Vez por outra, ele ia a Londres por curtos períodos. Gabrielle odiava a distância que o marido interpunha entre eles durante os dias. Ela o amava, mas desejava sobretudo a ami­zade de Harry.

Com o passar dos dias, ela tornou-se mal humorada. Queria mais liberdade em uma demonstração da boa-fé do marido. Se não fosse pelos criados, não saberia o que se passava no mundo. Implorava informações sobre seu avô. Harry afirmava não saber de nada. Gabrielle encontrava-se próxima ao desespero.

Convenceu-se de que teria que provar sua confiabilidade de alguma maneira. Imaginativa ao extremo, elaborou vários pla­nos e rejeitou todos. Imaginou alguns incidentes em que ela defenderia Harry do perigo. Teria de salvá-lo no momento preciso, não sem antes ele se ferir um pouco. Então, Harry se ajoelharia arrependido por ter desconfiado dela. Entretanto, ela refletiu que não poderia expor a vida do marido a riscos desnecessários. Finalmente chegou a um projeto mais simples ao qual faltava a dramaticidade que lhe era tão cara, mas serviria a contento. Deixaria Dunraeden e voltaria por conta própria. O plano lhe parecia mais perfeito a cada vez que pensava no mesmo. Harry ficaria arrasado quando descobrisse sua fuga. Sentia fazê-lo sofrer, mas ele seria recompensado quando ela voltasse a Dun­raeden pela porta da frente. As provas de seu compromisso com o marido seriam inegáveis. Mas como isso poderia ser feito?

Era quase certo que estava grávida. O processo envolvido não poderia arriscar a vida do bebê. Como a fuga não seria verdadeira, também não romperia a promessa feita ao duque.

Em poucos dias Gabrielle estava com um plano em mente que foi posto em prática em uma manhã úmida e sombria. Avisou Betsy que pretendia fazer pessoalmente uma relação dos uniformes dos servos. Em Dunraeden os criados trocavam de uniforme na primavera e no outono. No final da manhã, ela havia escondido em uma fronha um dos conjuntos marrom e bege usados pelos pajens. Aproveitou uma ausência de Betsy e guardou a pequena trouxa no fundo de seu guarda-roupa. Voltou ao salão nobre momentos depois, com olhar brilhante e as faces coradas. Encontrou Harry à sua espera, lindo como sempre, com um sorriso largo no rosto de traços marcados e perfeitos. O traje, todo negro, deixava sua pela ainda mais clara e os olhos ainda mais verdes. Gabrielle suspirou fundo ao vê-lo.

Angel [Harry Styles Fanfic]Onde histórias criam vida. Descubra agora