Setembro trouxe um alívio para os dias quentes e úmidos do verão na Cornualha. Na zona rural, cintilavam as cores do outono. O trigo e as frutas amadureciam. Os lavradores estavam felizes com as colheitas abundantes. Gabrielle nada viu. Apesar de estar na região há quatro meses, ela não tinha permissão de aventurar-se para além do topo dos despenhadeiros de onde se avistava Dunraeden e sempre na companhia de Harry. Não houve passeios dignos de boas lembranças. Não recebeu visitas. Não praticou esgrima nem cavalgou pelo campo. Nada que lembrasse aventuras com os contrabandistas que tanto a alegravam na Normandia. O verão foi tedioso com os dias em que o sol não se escondia antes das dez da noite.
Gabrielle sentia falta de ter amigos. Até mesmo Louise seria bem-vinda, embora pensasse na moça com sentimento de culpa. Afastou Harry da mulher com quem ele poderia ter-se casado. Nos poucos dias que esteve com Louise, antes da partida apressada, Gabrielle sentiu a intimidade inegável entre eles. Um verdadeiro compromisso.
Mesmo sem simpatizar muito com Louise, ela chegou a lastimar não ter feito amizade com a bela mulher. Pelo menos teria companhia.
Sentia-se solitária e aborrecida. Não tinha a menor aptidão para desempenhar o papel de castelã. Nem precisaria. Não havia festas, entretenimentos, nem convidados. Apenas uma sucessão de tarefas monótonas. Fazer inventário de roupas de cama e banho, louças e talheres. Supervisionar os deveres do exército de servos, entre os quais muitas moças recém-contratadas. Eram serviços que não a atraíam. Arrumar quartos, limpar prata e cristais. Sua preferência recaía sobre a sala de armas e a estrebaria. Mas os dois últimos faziam parte dos domínios exclusivos do duque.
Harry passava o tempo ocupado com os problemas da propriedade. Vez por outra, ele ia a Londres por curtos períodos. Gabrielle odiava a distância que o marido interpunha entre eles durante os dias. Ela o amava, mas desejava sobretudo a amizade de Harry.
Com o passar dos dias, ela tornou-se mal humorada. Queria mais liberdade em uma demonstração da boa-fé do marido. Se não fosse pelos criados, não saberia o que se passava no mundo. Implorava informações sobre seu avô. Harry afirmava não saber de nada. Gabrielle encontrava-se próxima ao desespero.
Convenceu-se de que teria que provar sua confiabilidade de alguma maneira. Imaginativa ao extremo, elaborou vários planos e rejeitou todos. Imaginou alguns incidentes em que ela defenderia Harry do perigo. Teria de salvá-lo no momento preciso, não sem antes ele se ferir um pouco. Então, Harry se ajoelharia arrependido por ter desconfiado dela. Entretanto, ela refletiu que não poderia expor a vida do marido a riscos desnecessários. Finalmente chegou a um projeto mais simples ao qual faltava a dramaticidade que lhe era tão cara, mas serviria a contento. Deixaria Dunraeden e voltaria por conta própria. O plano lhe parecia mais perfeito a cada vez que pensava no mesmo. Harry ficaria arrasado quando descobrisse sua fuga. Sentia fazê-lo sofrer, mas ele seria recompensado quando ela voltasse a Dunraeden pela porta da frente. As provas de seu compromisso com o marido seriam inegáveis. Mas como isso poderia ser feito?
Era quase certo que estava grávida. O processo envolvido não poderia arriscar a vida do bebê. Como a fuga não seria verdadeira, também não romperia a promessa feita ao duque.
Em poucos dias Gabrielle estava com um plano em mente que foi posto em prática em uma manhã úmida e sombria. Avisou Betsy que pretendia fazer pessoalmente uma relação dos uniformes dos servos. Em Dunraeden os criados trocavam de uniforme na primavera e no outono. No final da manhã, ela havia escondido em uma fronha um dos conjuntos marrom e bege usados pelos pajens. Aproveitou uma ausência de Betsy e guardou a pequena trouxa no fundo de seu guarda-roupa. Voltou ao salão nobre momentos depois, com olhar brilhante e as faces coradas. Encontrou Harry à sua espera, lindo como sempre, com um sorriso largo no rosto de traços marcados e perfeitos. O traje, todo negro, deixava sua pela ainda mais clara e os olhos ainda mais verdes. Gabrielle suspirou fundo ao vê-lo.
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Angel [Harry Styles Fanfic]
FanfictionCornualha, Inglaterra, 1803 Ele estava em busca de vingança. E acabou encontrando o amor... No passado Harry Styles presenciou, em uma prisão francesa, um espetáculo de horror cometido pelo povo histérico. Testemunhou sua madrasta e sua meia irmã se...