Capítulo 24

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Gervais Dessins estava inquieto. Fouché deveria ter voltado há dias. Considerava-se tão prisioneiro como a jovem e o homem trancados nos aposentos de cima. Naquele momento deveria desfrutar do luxo de Paris e não estar encarcerado em um lugar horrível no meio do nada!

Odiava a Normandia e os normandos. Detestava o castelo de Vrigonde. Parecia um chiqueiro, o que, na verdade, era pre­visível. Os homens de Fouché tinham sido alistados no sub­mundo parisiense.

A porta foi aberta e o médico de Mascaron apareceu na entrada.

Mais um camponês, Dessins refletiu com asco. O homem idoso e curvado entrou arrastando os pés, olhando para os la­dos, receoso. Quando viu Dessins, aproximou-se.

___Senhor...eu gostaria de saber...se seria permitido...___hesitou antes de continuar___a égua premiada de Mascaron está quase parindo...

Antes que Dessins pudesse responder àquele comentário ri­dículo, um dos homens que estava sentado à mesa de jogo levantou-se. Era Savarin, um homem que se intitulava a pessoa de confiança de Fouché. Tocou no ombro do médico e o ho­mem estremeceu.

___O que foi, velho? Está preocupado com as cabras e éguas?___Savarin disse e caiu na gargalhada.

___Perdoe-me, senhor, mas nunca pretendi ser o que não era___o homem expressou-se com humildade___não sou médico de pessoas, mas sim de animais.

Savarin sacudiu-o.

___Eu disse que é médico e acabou-se! Agora vá atender a copeira ou o moço da estrebaria. Melhor, vá espiar seu paciente lá de cima.

O pomo-de-adão do Doutor Adams subiu e desceu de modo alarmante.

___Alguém tem de tomar conta dela___ o médico assustado, em um arroubo de coragem, quase gemeu as palavras.

___Savarin, por que não deixa o velho cuidar da égua?___Dessins interveio.

___Ele não pode deixar a casa. São ordens de Fouché.

___Tenho dois filhos___o Doutor Adams falou___eu os treinei e eles poderiam fazer o serviço.

Savarin e Dessins se entreolharam.

___Não vejo por que não chamá-los___Dessins afirmou___creio que ele é motivado apenas por um coração bondoso.

___É, pode ser___Savarin conhecia o valor de um bom cavalo. E também a eficácia do terror. Agarrou o médico pelas lapelas do paletó___mande buscar seus filhos, velho! Mas estou lhe avisando: um movimento em falso e cortarei o pes­coço deles antes de passar a faca no seu!___ele jogou o pobre homem para trás.

O médico cumprimentou todos com um gesto de cabeça antes de sair, de costas e tropeçando. Acabou se esparramado no chão e provocou uma gargalhada geral. Levantou-se depres­sa e correu.

Dessins sacudiu a cabeça e procurou o barrilote de Calvados. Sua preferência era pelo conhaque, mas...encheu o cálice e sentou-se em um canto para meditar.

Nada tinha em comum com os homens de Fouché. Desde que trouxe Gabrielle, há uma semana, mal escondia o des­dém. Pensou em entregá-la a Fouché pessoalmente, mas teve de dei­xá-la aos cuidados de Savarin, que insistiu em sua permanência até a chegada de Fouché.

Perto da meia-noite ouviu-se o barulho das rodas de uma carruagem que chegava ao pátio. Em pouco tempo Dessins foi chamado. Encontrou Fouché muito à vontade na biblioteca de Mascaron. Aquele local não mostrava sinais da profanação que foi levada a efeito no restante do pequeno castelo.

Com um gesto quase descortês, Fouché indicou uma cadeira. Dessins sentou-se e esperou.

___Por que o senhor chegou dois dias antes do combinado?___Fouché interrogou-o.

Angel [Harry Styles Fanfic]Onde histórias criam vida. Descubra agora