Capítulo 5

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Nos dias que se seguiram Gabrielle evitou o quanto pôde os convidados do avô. Durante o dia era mais fácil, pois ficava na companhia de Rollo e da Senhora Blackmore, enquanto as conversações prosseguiam no grande salão.

A dama de companhia a incentivava a bordar, a caminhar com uma pilha de livros na cabeça e outras tarefas que com­petiam a uma lady e eram consideradas como inutilidades por Gabrielle. Ela queria ser uma lady, mas achava todas essas tarefas chatas e sem sentido. Afinal, porque ser uma lady implicaria em saber bordar e andar de forma regrada e pouco confortável?

As tardes eram reservadas para atividades prazero­sas ao lado de Rollo. Eles cavalgavam pela propriedade e, quando estavam bem longe do ouvido de todos, praticavam tiro com as pistolas. Às vezes, pescavam. Ela lamentou o avô ter proi­bido o acesso à sala de esgrima até a partida dos convidados, porque ela adoraria praticar com as espadas.

As noites eram constrangedoras. Gabrielle era obrigada a vestir-se e a agir como anfitriã. Se intimidava na presença de Talleyrand e Fouché, nomes que a haviam aterro­rizado durante a Revolução, em seus tempos mais sombrios.

Podia jurar que o duque inglês não gostava dela e não entendia o motivo. Afinal, nem mesmo se conheciam e, por sentir a aver­são naqueles olhos verdes, ela não ficava à vontade na sua presença. Para piorar tudo, em aten­ção aos convidados, usava-se quase exclusivamente o idioma inglês, ao qual Gabrielle não estava acostumada.

Em condições normais, falar inglês não teria sido o proble­ma mais grave. Nos tempos difíceis, em que viviam como fugitivos, Mascaron não perdia a esperança de que poderiam abri­gar-se na Inglaterra e, por isso, sempre ministrava aulas para a neta sobre esse idioma, que ela aprendia com facilidade.

Além disso, a convivência com a Senhora Blackmore melhorou a conversação. Mas a fluência se esvaía quando ela olhava para o duque inglês de olhos verdes intensos. Se tentasse falar, gaguejaria até o silêncio. Por isso Gabrielle não largava de sua dama de companhia, que adorava tagarelar, em cada minuto em que ele estava perto.

___Senhora Blackmore fala por nós duas___Gabrielle explicou para Rollo, que estranhou os silêncios da amiga e se manifestou sobre isso nessa tarde de lazer.

Ao responder, da beira do talude, Gabrielle fitou as águas do Sena e a fortaleza arruinada de Gaillard.

Rollo, deitado sobre uma pedra grande, mastigava uma folha seca de grama. Os cavalos estavam amarrados em árvores mais afastadas da margem perigosa.

___Eu que o diga!___Rollo diz___ninguém consegue pronunciar uma só palavra quando ela abre a boca___continua e ri, ainda mascando a folha seca e se levantando da pedra___se ela mencionar outra vez aquele lugar onde nasceu...

___Bath___Gabrielle diz, segurando o riso.

___Isso mesmo!___Rollo diz, alto___se ela tocar novamente nesse nome, sou capaz de estrangulá-la. Ainda bem que ela voltará logo para...Bath___se deita de novo na pedra.

___Sim, quando eu for com vovô para Paris___Gabrielle diz e se entristece ao pensar que eles teriam de tomar rumos dife­rentes. Rollo iria para a academia militar e ela teria de assumir sua posição na nova sociedade francesa.

___Isso se dará mais cedo do que está pensando___Rollo diz.

___Como é?___Gabrielle pergunta, se lembrando da promessa do avô de deixa-la mais algum tempo em Vigronde.

___Pelo que se comenta, a paz poderá ser rompida em breve, algo a ver com Malta___Rollo diz e dá de ombros___é apenas uma questão de tempo e nossos países estarão novamente em conflito. A Senhora Blackmore não vai querer ser apanhada atrás das linhas inimigas.

Angel [Harry Styles Fanfic]Onde histórias criam vida. Descubra agora