Capítulo Um

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Música de fundo recomendada: Eyes on Fire - Blue Foundation.


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Mare Barrow

Olho para Maven. Realmente olhando para ele depois de todo o tempo que estive com ele. Tempo emprestado. Não tenho que perguntar para saber que Cal insistirá em tentar trazer o irmão de volta. Mesmo depois de tudo o que aconteceu, mesmo depois de odiá-lo por cada escolha que fez, antes e depois de Elara.

Toda a fachada que Maven construiu a redor dele foi pensada de forma a fazer com que acreditássemos que não havia volta. Que Maven Calore era apenas um mero reflexo de Elara. Que era o fruto dos horrores arquitetados por ela, mesmo depois que ela já tinha morrido. Que não podia ser salvo.

Mas naquele momento, olhando para ele, eu percebi. Olhando para o rosto do rapaz que amei e que confiei tanto, notei que se ele tivesse me mostrado um sinal de que poderia ser melhor, eu também teria insistido. Eu teria lutado por ele.

Mas talvez... Talvez eu não tenha dado espaço para que ele tentasse ao menos fazer as coisas diferente. Talvez eu devesse tentar, mesmo que isso signifique quebrar mais um pedaço de mim. O mínimo que o meu Maven merece é que eu tente. O Maven que eu conheci uma vez, que eu cheguei a amar. Depois de tudo que aconteceu e depois de todas as paredes que ele construiu ao redor de si, eu não tenho certeza se ele tentaria o mesmo por mim. Mas se o deixar ir sem pelo menos tentar encontrá-lo no meio do caminho, encarar Cal e dizer que Maven se foi sem ter plena certeza disso, me destruiria. Pensaria sobre todas as possibilidades durante o resto da vida.

Maven percebe a mudança em meus olhos e debocha.

- Está cansada de me odiar, Mare? - percebo que, em seus olhos, acende um brilho que há muito tempo não via. Maven tenta disfarçar. - Estou te entediando? Prefere perder a sanidade em uma cela a discutir comigo?

- Estou cansada de te odiar - admito. - Te odiar é fácil, Maven - me esforço para repelir todos os meus instintos, que me dizem para calar a boca e sair. -  É o que você quer que eu faça. É o que você quer que todos façam. 

- Então o que vai fazer agora, Mare Barrow? - ele sorri, maliciosamente. - Acho que não vai sair por Whitefire cantando músicas em meu nome - pende a cabeça para a direita e me encara.

- O que você quer que eu faça, Maven Calore? - me aproximo da banheira. - O que você faria por mim?

- Evangeline tem algumas teorias sobre isso - vislumbro algo em seu olhar. Medo? Ansiedade? Frieza?

- Quer desfrutar de um longo banho falando sobre Evangeline? Não sabia que tinha tanta consideração por ela.

De repente, o cômodo parece mais quente. Começa a subir mais vapor da banheira. Maven também percebe. A conversa chegou em um ponto que ele não queria. O calor começa a baixar.

- Vai acabar com toda a água na banheira desse jeito - Eu sabia que estava provocando-o. Pelos deuses, Mare Barrow, penso. Pelo visto estou mesmo perdendo a sanidade naquela cela. - Não sabia que falar sobre Evangeline o deixava tão sensível.

Maven solta um riso baixo e se vira na banheira, de costas pra mim. Apoia os dois braços na borda. 

- Não poderia me importar menos com alguém, da forma que me importo com Evangeline.

Observo os cachos colados ao seu pescoço. Ali, tão vulnerável. Maven permitiu que eu entrasse. Maven queria que eu o visse. Queria que eu estivesse ali. Não Evangeline. Porque era verdade. Ele não mentia. Ele não se importava com ela, por isso a trocou assim que foi conveniente. Ainda não se casou com Iris, mas ela está morando em Whitefire, afinal de contas. 

De toda forma, eu ainda estava ali, em meio ao vapor, água e... Maven. Suor começa a descer pela minha nuca. Meu próprio cabelo já está grudado envolta do meu pescoço e rosto. Maven e essa estúpida vulnerabilidade. Se eu quisesse, se eu realmente quisesse, poderia tentar matá-lo ali mesmo. Talvez morrer pela causa. Talvez fosse uma boa troca. Minha vida pela dele. Talvez condenasse Norta à um destino cruel. Talvez fosse a salvação de Norta. Talvez libertasse Maven de tudo isso. Meu Maven, não este na superfície. Se eu apenas conseguisse chegar até ele...

Um pensamento passa pela minha mente. Uma chance. Daria a ele uma chance. Uma última chance antes de toda a loucura que estava por vir. Sei que é idiotice, estupidez, mas não poderei dizer que não tentei. Ninguém poderia dizer que não lutei ou que o entreguei às garras de Elara tão facilmente.

Rapidamente, antes que meus pensamentos me traiam e que me convença do contrário, retiro os trapos que tenho usado como roupas. Apenas as algemas de Pedra Silenciosa ficam no lugar. Minhas algemas. Olho de relance meu corpo magro no reflexo do espelho próximo e, antes que possa pensar em desistir, entro na enorme banheira.

Rainha Prateada | Fanfic de Rainha VermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora