Capítulo Nove

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Música de fundo recomendada: Clarity - Kurt Hugo Schneider & Sam Tsui.

INTIMAÇÃO DA AUTORA: As músicas que eu recomendo estão aqui para ser ouvidas, COM a tradução. Lembre-se: elas se encaixam com a história. Boa leitura.


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Mare Barrow

6 dias para o casamento


Após algumas horas acordada, me trazem o café da manhã. Alguns pães com manteiga, ovos e suco, tão delicioso quanto o ensopado do dia anterior. Quando termino, retiram a bandeja e as roupas que estive vestindo até ontem. Espero que não as tragam de volta. Com certeza não as usarei mais, de toda forma. 

Passei um bom tempo me concentrando apenas no que aconteceu ontem, tentando deixar de lado um pouco da minha desconfiança usual. Apenas um pouco. Não sou tão ingênua a ponto de acreditar cegamente em Maven, mas posso tentar dar esta chance a ele. Tenho me apegado a essa palavra. Tentar. Especialmente quando se trata do atual rei de Norta. Até mais do que já tentei conseguir fazer algo em toda a minha vida, o que é uma sensação estranha para mim.

Pouco antes do que considero ser a hora do almoço um guarda aparece e me tiram da cela. Meus fiéis sentinelas sempre ao meu redor. Não me dizem nada, não dirigem a palavra a mim, apenas me escoltam. Depois de algum tempo de caminhada, noto que estamos indo em direção aos aposentos de Maven novamente. Assim que chegamos na porta, um dos guardas retruca com má vontade:

- O rei solicita sua presença - ele abre a porta e deixa espaço para que eu passe. - Entre, agora.

Passo pelo guarda e entro no cômodo. Uma sensação de espanto passa pela minha mente e, com certeza, pelo meu rosto. Será que este é o mesmo quarto que estive ontem ou será que ontem foi um sonho? Existem móveis posicionados onde ontem havia apenas o vazio, uma escrivaninha de mogno logo em frente à janela, do meu lado esquerdo, com uma cadeira que tem uma aparência extremamente confortável, do mesmo material, mas acolchoada. Onde havia apenas uma cama pequena, quase infantil, agora estava uma cama enorme, com vários travesseiros e lençóis e até mesmo um dossel. Em ambos os lados havia um criado mudo em mogno, mesma madeira da cama, cada um com um abajur em cima. Próximo à porta que levava ao banheiro havia uma mesa, também de mogno, redonda, com três cadeiras, de onde Maven observava. Do lado direito do quarto, mais próximo à porta que acabei de passar, havia uma pequena estante com alguns livros e uma poltrona, também com uma aparência extremamente confortável. 

Tudo no quarto tinha a cor da madeira, com exceção de duas coisas, reparei. A cama e as cortinas. O dossel da cama era dourado, juntamente com o lençol na cama. Enquanto alguns travesseiros eram pretos, a maioria era diferente. Pareciam uma mistura de duas cores que não consegui definir. Olhei para as cortinas da janela e percebi que eram feitas do mesmo tecido, na mesma combinação. Me aproximei das cortinas e entendi. Eram feitas de material meio transparente, por isso pareciam uma combinação estranha. Mas ao me aproximar da peça notei que um dos tecidos, o exterior, era azul marinho, a cor de Elara. O outro tecido, interior, era vermelho, a cor da casa Calore, a cor de Maven. Nas laterais, assim como na cama havia outra representação da casa Calore, desta vez em preto e dourado, assim como na cama. 

Qualquer um que olhasse diria que Maven apenas estava representando as cores das casas a que pertencia, mas eu percebi. A ordem dos tecidos, a transparência. Por dentro um Calore, ardendo vermelho como fogo. Mas por fora um Merandus, um manipulador, assim como Elara. Por fora apenas, mas não era tudo o que ele era. Encarando o sol batendo nas cortinas, a cor que prevalecia era o roxo, meu roxo, da casa Titanos, da minha eletricidade. Qualquer um pensaria que era apenas o efeito do sol batendo no tecido, mas eu entendi. Apenas com a luz era possível ver aquela cor, aquele tom específico. Apenas com a luz seria possível esconder as trevas em Maven e encontrar o que ele realmente acreditava, pelo que ansiava, o que valorizava.

Viro para trás e o encaro, sem palavras. Ele olha para mim, de cima a baixo. Com os olhos fixos nos meus, ele se levanta e caminha até mim. 

- Um Calore - pauso e engulo em seco. - Um Merandus.

- Um Calore e um Merandus, - ele roça as mãos pelos meus braços - atormentado, assombrado, mas que ainda a quer. Mais do que qualquer coisa.

Eu nunca esperaria por isso. Por nada disso. Pisco. Ele está tentando também. Está lutando para superar tudo que Elara causou e voltar para mim. Devagar, suas mãos vão para a parte de baixo da minha coluna, onde ele me puxa em sua direção e me beija. Delicadamente, carinhosamente. Minhas mãos acariciam seus braços e sobem até sua nuca, seu cabelo. Tão devagar, com tanto cuidado.

Muito antes do que eu queria, Maven se afasta e me encara. Pronto. Essa é a hora em que ele vai dizer o quanto sou ingênua e estúpida por acreditar nele.

- Acho que deveríamos desfrutar do almoço antes que esfrie - ele diz, um pouco incerto. - Depois não precisaremos nos preocupar com nenhum espaço de tempo.

- Espero que não.

Rainha Prateada | Fanfic de Rainha VermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora