Capítulo 03 - Um recomeço

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4 anos depois...

Mais um dia meu celular desperta 7 horas da manhã avisando que preciso levantar, e mais um dia saio da cama me arrastando e vou até o quarto da minha filha que dorme tranquila. Chega dar pena ter que acorda-la tão cedo. A vontade é de deixar ela na cama para dormir mais um pouco. A vontade era de eu voltar para cama e dormir mais um pouco. Mas o dever me chama. O dever de mãe e o dever de trabalhadora.

Depois que Bella nasceu eu não pude voltar a competir pelo Roller, eram muitas viagens para apresentações e competições em outros países e por mais que eu ame estar sobre rodas, minha bebê era minha prioridade. Então acabei voltando a cuidar dos bens dos meus pais como meu avô Alfredo sempre quis.

Aliás tenho que contar que meu avôzinho nos deixou no ano passado. Foi encontrado em um quarto de hotel em Miami já sem vida. Os médicos disseram que ele teve um mal súbito enquanto dormia. De certa forma nos conforma saber que ele se foi fazendo o que sempre gostou de fazer, aproveitando a vida. Sinto falta dele, mas sei que ele deve estar feliz onde quer que esteja. Provavelmente tentando roubar do Bernie no golfe ou contando uma de suas histórias para Lily.

Abri a porta do quarto de Bella e com muito custo consegui acorda-la. Com toda certeza o sono e o apetite ela puxou de mim. Servi um prato de cereal com frutas para ela, o qual devorou como se não comesse a anos. Ela realmente puxou meu apetite.

— Não esquece que hoje você vai para casa do seu pai filha, então nos vemos só amanhã tá bom?

Bella levantou os pequenos olhinhos cor de café para mim enquanto parecia pensar em algo. Olhar para ela, era como ver uma versão pequena e feminina de Matteo na minha frente. Os mesmos olhos, os mesmos cabelos castanho claro e o mesmo vinco na testa quando estava brava ou pensando.

— Eu não posso ficar com a vovó hoje? — Perguntou.

— Filha hoje é dia de ir na casa do papai, você não com saudade dele?

— Sim, mas não quero ir na casa dele mamãe. Quero ficar aqui, com a vovó.

— Aé? E posso saber por que? — Perguntei estranhando. Era a primeira vez que ela dizia não querer ver Matteo. Sempre foi muito apegada nele — Aconteceu alguma coisa lá que queira contar para a mamãe?

Ela pareceu hesitar ao abaixar a cabeça e apertar os dedinhos da mesma forma que eu faço quando estou nervosa.

— Bella? — Chamei mais uma vez.

— É que... hum ... Eu acho que a titia não gosta de mim.

— Qual titia filha?

— Aquela mamãe, que sempre na casa do papai. Acho que ela queria que meu papai fosse papai dela também porque às vezes mamãe, ela também senta no colo dele que nem eu.

Pigarreei tentando ignorar o mal-estar que senti com a informação. Tem exatos sete meses que eu e Matteo nos separamos. O romance esfriou logo após a maternidade. Eu não tinha mais tempo para lhe dar atenção e a agenda de viagens para shows aumentava cada dia mais e muito pouco nos vimos. A gota d'água foi um show que ele fez na Colômbia. Ficou três dias fora e voltou para casa cheirando a perfume barato, deitou ao meu lado me ignorando por completo, mesmo sabendo que eu estava acordada. No dia seguinte peguei a mala dele para desfazer e separar as roupas sujas para lavar e achei a camisa utilizada no dia do último show. O perfume impregnado não era o dele, muito menos a mancha rosa de batom próximo ao peito. A desconfiança que persistia em apertar meu coração se confirmava com aquela roupa em minhas mãos. Duas horas depois minhas malas e as da Bella já estavam prontas e sendo colocadas dentro do carro. Matteo chegou no momento em que afivelei a nossa filha na cadeirinha. Talvez tenha pensado que era apenas um passeio, pois nos ignorou e entrou dentro de casa mesmo Bella chamando por ele. Quando me sentei no volante e tranquei as portas, pelo retrovisor o vi correndo em nossa direção chamando meu nome. Não sei se ele se deu conta pelo closet vazio ou pela camisa que fiz questão de deixar a vista em cima da cama.

Cheguei na mansão 20 minutos depois. Coloquei Bella no colo do meu pai enquanto eu era acolhida e consolada pela minha mãe.

O antigo quarto de Lily e Bernie que posteriormente pertenceu a Sharon, tinha sido reformado logo depois do incêndio e foi transformado em quarto de hóspedes, enquanto o quarto de Ámbar foi reformado para quando Bella ou Chloe dormiam la. Para ficar mais próxima de onde minha filha estava dormindo acabei ficando no quarto de hóspedes ao invés do meu antigo quarto.

Então depois de meses de briga na justiça, e do Matteo recusar por diversas vezer a dar o divórcio, por fim entramos em acordo sobre a guarda de Bella.

Respirei fundo e encarei minha pequena que estava entretida com as bolinhas coloridas do cereal.

— E ela te falou alguma coisa ou machucou você? — Perguntei  com receio da resposta.

— Uma vez quando o papai foi no banheiro eu perguntei se ela queria ser minha amiga, e ela disse que eu era uma pirralha chata — Ela suspirou dramaticamente e juntou as sobrancelhas pensativa — Sabe mamãe, eu não sei o que é pirralha mas eu não sou chata! O vovô disse que eu sou uma princesa.

— É verdade meu amor — Afaguei seus cabelos — Você é a nossa princesa. E não se preocupe que vou conversar com seu pai sobre isso.

Logo depois a minha mãe entrou na cozinha. Deixei Bella para que ela levasse na escolinha e fui para o trabalho. Pela manhã eu ia até empresa da família, participava de reuniões com acionistas, revia contratos e resolvia a maior parte do jurídico. À tarde Ámbar era responsável pela administração e como diretora executiva da empresa tomava a maior parte das decisões importantes.

Realmente ela era melhor com isso do que eu. Durante as tardes era que o meu melhor trabalho começava. Sou coreógrafa e técnica assistente da Juliana na equipe de patinação do Jam & Roller. Eu disse que parei de competir, não de patinar. Enquanto Juliana cuidava da parte profissional, como avaliar os patinadores, e nos colocar nas melhores competições, eu ensinava na prática como ser uma boa patinadora.

Todo dia eu saía do escritório e ia para o Roller, almoçava com Juliana e depois treinava a equipe. Em exceção hoje. Vou pular o almoço e vou até minha casa, ou melhor, a casa de Matteo. Precisava conversar com ele sobre o que Bella me contou pela manhã.

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Estacionei o carro em frente à casa e a olhei. Parecia que tinha anos que eu não pisava lá e não meses. Toquei a campainha e não demorou muito para que escutasse uma risada fina e chata vindo de dentro.

A porta se abriu e a criatura cuja raiva já crescia em mim só de saber quem era, abriu a porta. Pele bronzeada, cabelos longos e negros passando a cintura com um ridículo e exagerado brilho. O que ela passa no cabelo? Parafina?

Ela percorreu todo o meu corpo de cima a baixo com cara de nojo antes de se dirigir a mim.

— Luna... fazendo o que aqui? — Tá, como se ela fosse a dona da casa.

— Eu que devia te fazer essa pergunta — Respondi empurrando ela e entrando. A última coisa que eu precisava era de uma autorização dela para entrar — Que eu me lembre, a casa ainda é minha...

— E sempre vai ser, sabe disso menina delivery — Aquela voz...

Olhei para cima e Matteo estava parado no meio da escada. Usava bermuda e camiseta e tinha cara de sono. Ao notar pelo vestido perfeitamente colado no corpo e maquiagem perfeita da garota irritante atrás de mim eles não estavam fazendo nada íntimo. Pelo menos não naquele momento. Não que eu me importasse com isso, mas não queria presenciar nenhuma intimidade entre meu ex-marido e aquela metida vulgar. Sim eu disse vulgar, até porque quem senta no colo de um homem na frente da filha dele de 4 anos?

— Eu preciso falar com você — Olhei por cima do ombro e a criatura ainda estava lá — Em particular — Especifiquei.

— Claro — Ele respondeu — É melhor irmos lá para cima.

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Mudanças, mudanças e mais mudanças...

Estavam preparadas para esse capítulo?

After Rain - Livro 2 - (Em Revisão) - Lutteo Onde histórias criam vida. Descubra agora