Capítulo 15 - Dois idiotas

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- Mamãe, você chorando?

Me virei para trás e Bella estava parada no pé da escada com seu pijama de ursinhos e agarrada em sua Juanita.

- O que faz acordada? - Passei as costas das mãos sobre os olhos para secar as lágrimas e me sentei no sofá.

Bella veio correndo, se jogou no meu colo e enganchou os bracinhos no meu pescoço.

- Não chora mamãe...

- Ta tudo bem, foi só um filme triste - Menti - E você deveria estar dormindo...

- Eu sei, mas eu tive um sonho ruim... te procurei mas você e o papai não estavam no quarto, aí eu desci e ouvi você chorando...

- Ah meu amor, foi só um sonho... - Acariciei as bochechas rosadas dela e aninhei seu corpinho no meu colo da mesma forma que eu fazia quando ela era bebê.

- Eu sonhei que você tinha ido embora mamãe, e tinha me deixado aqui... eu e o papai...

Não tive mais o que responder então apenas a apertei mais ao meu corpo e a embalei. As lágrimas desciam silenciosamente pelo meu rosto enquanto minha filha caía novamente no sono.

Eu, mais do que qualquer outra pessoa, sabia que sonhos não eram apenas sonhos. Apesar de também saber que eu jamais abandonaria minha filha.

Depois de ter certeza que Bella estava dormindo, a carreguei no colo até seu quarto e a coloquei na cama novamente. Juanita estava alí sendo esmagada contra seu pequeno corpinho enquanto ela ressonava tranquila e eu só queria segurar minha bebê assim também e nunca mais soltar.

Talvez eu também precisasse que alguém me segurasse assim.

Voltei para o meu quarto e a cama permanecia intacta e exatamente do mesmo jeito que Matteo deixou quando saiu logo depois da nossa discussão. Quando saiu enquanto eu e Bella o esperávamos para jantar.

Depois que pus Bella na cama da primeira vez, me sentei na sala e liguei a televisão em qualquer filme aleatório. A cada hora que passava, a dor no meu peito aumentava ao ver que Matteo não chegava.

O telefone estava desligado em todas as vezes que tentei ligar pra ele.

Quando Bella me "encontrou", eu já estava me acalmando de uma crise de choro que tive após me dar conta, de que por mais que eu ficasse alí sentada, Matteo não voltaria naquela noite.

Me deitei na nossa cama e me encolhi permitindo que mais lágrimas caíssem livres molhando o lençol abaixo de mim.

Puxei o travesseiro dele e o abracei da mesma forma que Bella abraçava sua boneca de pano. O cheiro da colônia dele estava alí. O aroma inconfundível que tantas vezes me fez perder o sono quando eu era mais nova só de lembrar dele.

Eu o amava e por ele abriria mão de qualquer coisa. Se ele conversasse e me pedisse de forma gentil para não ir eu não hesitaria em recusar a proposta. Mas ele foi egoísta, agiu como se meus sonhos não importassem e saiu sem nem me dar uma explicação.

Sendo assim, por mais que meu amor por ele seja grande, ele perdeu todos os direitos e chances que tinha de me ter por perto.

[...]

Já estava amanhecendo o dia quando ouvi o barulho da porta do quarto sendo aberta. Permaneci imóvel e mantive meus olhos fechados, mas ainda assim pude perceber quando ele tirou os sapatos, jogando em um canto do quarto e logo entrou no banheiro, saindo cinco minutos depois. O espaço livre ao meu lado afundou a Matteo puxou o cobertor para cima de sí. Eu sabia que ele estava virado para mim. A respiração dele batia em meu ombro desnudo e eu não queria sequer me mover para cobri-lo.

— Sei que está acordada Luna.

Permaneci em silêncio e imóvel com a esperança que talvez isso o fizesse desistir.

— Por favor fala comigo... — Pediu.

Por fim suspirei e me virei ficando de frente para ele.

— Onde estava? — Perguntei.

— No Simón.

— Até essa hora? — Estreitei meus olhos para ele. Eu conheço meu amigo e se tem uma coisa que Simón aprecia tanto quanto eu é o sono. Eu realmente não conseguia imagina-lo passando a noite acordada conversando com Matteo.

— Sim.

— Matteo são quase seis da manhã, porque o Simón estaria acordado até essa hora?

— Porque eu precisava de um amigo, e como o Gastón viajou com a Nina eu acabei ligando para ele.

— Então ele é seu estepe para quando não tem o Gastón?

— Digamos que as vezes prefiro conversar com Gastón do que pertubar o Simón que tem uma criança em casa.

Só então o entendi. Gastón e Nina ainda não tinham planejado ter filhos mesmo depois de terem se casado. Sendo pai, Matteo sabia que era mais difícil para Simón do que para Gastón.

Novamente o silêncio se fez presente. Me virei de barriga para cima e fiquei encarando o teto de gesso acima de nós.

— Você já dormiu? — Perguntou.

— Não.

— Me desculpe.

— Pelo o que?

— Por ter te deixado preocupada.

— Achei que estava se desculpando por não ter me escutado e ter sido infantil ao ponto de sair sem me avisar.

— Luna...

— Tudo bem Matteo... Não vai adiantar a gente brigar agora.

— Você vai pra França mesmo?

— Sim.

— Vai ir embora e me deixar aqui?

— É meu sonho Matteo, e você sabe muito bem o que é abrir mão de alguém para seguir um sonho.

— Isso tem quase oito anos Luna. Além do mais a gente não tinha a Bella. O que pretende fazer? Abandonar ela também ou leva-la junto e afasta-la de mim mais uma vez?

— Matteo... — Pelo canto do olho vi ele se sentar.

— Não Luna, eu preciso que me responda.

— Vou leva-la — Em um movimento rápido ele se levantou ficando de costas para mim — É só um ano Matteo, um ano passa rápido.

— Só um ano? Se é assim tão simples como diz, então porque não deixa nossa filha comigo e viaja sozinha? É só um ano Luna... — A raiva estava estampada em seu rosto quando ele voltou a olhar para mim.

— Eu não vou deixar minha filha sozinha com você! — Foi minha vez de levantar e encara-lo.

— Ela é minha filha também!

Ficamos os dois em pé, cada um em seu lado da cama, firmando o olhar. Nenhum dos dois queria ceder. Nenhum dos dois queria estar errado porém os dois estavam.

Os olhos de Matteo começaram a brilhar ao mesmo tempo que as lágrimas tomavam conta dos meus.

— Porque temos que ser assim? — Desabei sentada na cama sendo acompanhada por Matteo que me puxou para seus braços.

— Porque somos dois idiotas que não sabem conversar sem brigar.

— O que vamos fazer Matteo?

— Eu ainda não sei, mas vamos dar um jeito como a gente sempre fez.

After Rain - Livro 2 - (Em Revisão) - Lutteo Onde histórias criam vida. Descubra agora