Multiplas vozes ecoavam na minha cabeça, se alternando e parecendo disputar quem falava mais alto, até que todas elas se resumiram em apenas duas. Abri os olhos e pisquei algumas vezes tentando focar no forro de gesso branco e nas paredes recentemente pintadas de azul celeste, a cor preferida de Bella... Bella!
Dei um salto me sentando na cama e minha mãe se aproximou com um copo de água.
— Ela acordou — Gritou para meu pai que entrou logo em seguida no quarto.
— Cadê ela? — Tentei me levantar, mas fui impedida pelos dois — Eu preciso achar minha filha!
— Calma Luna, nós vamos encontra-la, mas pra isso você precisa estar bem. Toma isso — Minha mãe alcançou o copo em suas mãos e o tomei as pressas.
Ouvi uma voz ressoar do andar de baixo. Parecia gritar com alguém. Parei de beber a água e fiquei em silêncio tentando identificar quem era.
— "COMO UMA CRIANÇA DE QUATRO ANOS PASSA POR UM PORTÃO E NINGUÉM VÊ? VOCÊS SÃO PAGOS PARA QUE?"
Eu conhecia aquela voz.
— O Matteo esta aí? — Nem mesmo esperei respostas e saí correndo, me deparando com meu ex-marido parado próximo à porta principal, gritando com o chefe da segurança — Matteo... — Chamei quase em um sussurro, mas foi alto o suficiente para que ele me ouvisse e viesse em minha direção. Desci as escadas correndo e me joguei em seus braços sem conseguir segurar as lágrimas — Eu quero a nossa filha Matteo, eu quero nossa menina...
— Nós vamos acha-la meu amor... — Matteo me abraçou de volta e me apertou me dando conforto e segurança, exatamente da forma como eu precisava naquele momento — Seus pais me ligaram, vim o mais rápido que pude...
— É culpa minha Matteo — Meus braços ainda rodeavam sua cintura e minha cabeça ainda permanecia apoiada em seu peito — Eu sabia que ela estava estranha e mesmo assim a deixei sozinha. Eu devia ter levado ela pra dormir comigo, eu...
— Shhh — Matteo me interrompeu — Você não tem culpa de nada Luna. A culpa é minha. Se eu não tivesse errado, você não teria me deixado e agora não estaríamos passando por isso... Me desculpa.
Me afastei do seu abraço e limpei o rosto, molhado pelas lágrimas.
— Ela é tão pequena Matteo, nossa menina não pode ficar perdida por aí...
— E não vai! Eu já coloquei os seguranças para fazerem uma ronda pelos arredores, ela não pode ter ido longe.
— Promete que vai trazer ela de volta? — Perguntei já sentindo as lágrimas voltarem.
— Prometo! — Matteo me puxou de volta para seus braços, me apertando ainda mais que antes. Não me senti desconfortável. Quanto mais ele me apertava junto a seu corpo, mais certeza eu tinha de que era ali que eu precisava estar. Era ele o meu ponto de paz. Por mais que eu quisesse negar isso.
— Senhor?
Olhamos em direção à porta e um dos seguranças estava parado alí. Minha filha não estava com ele. E pela expressão que tinha eu sabia que as notícias não eram boas.
— Andamos por toda a quadra e pelos arredores mas não encontramos a menina. Deixei dois homens continuando as buscas, mas seria melhor acionar a polícia.
Novamente senti minhas pernas fraquejarem, mas dessa vez Matteo estava alí para me amparar.
— Obrigada, continuem as buscas — Matteo fez um gesto com as mãos o dispensando — Não consigo entender como uma criança sai e nenhum desses idiotas percebe.
As ultimas palavras dele foram como um estalo em minha cabeça, me forçando a voltar à realidade e pensar.
— Porque ela não saiu — Olhei para Matteo e ele me encarava sem entender — Matteo, ela não sabe abrir o portão! Ela não saiu!
No segundo que ele pareceu entender onde eu queria chegar, saímos os dois correndo para fora da casa. Matteo foi para a frente da casa e eu para os fundos em direção ao depósito.
— BELLA! — Gritei.
Revirei cada canto daquele galpão e também o jardim ao redor da piscina. Conferi se a grade de proteção que colocamos em volta da mesma quando as meninas começaram a caminhar estava fechada. Intacta. Ao longe eu podia ouvir a voz de Matteo chamando pelo nome da nossa filha. A frustração já me invadia quando o nome que Matteo chamou mudou.
— Luna! — Gritou mais uma vez
Corri em sua direção e cheguei no momento em que ele subia as escadas da mansão com Bella nos braços.
— Encontrei ela deitada atrás de uma árvore perto do portão. Esta dormindo mas parece um pouco febril — Explicou enquanto entrávamos na casa.
Matteo correu para o quarto dela e a colocou na cama. Entrei logo atrás, seguida pelos meus pais.
Tratei de trocar a roupa, umida e suja por um pijama quente. Ela queimava em febre e vez ou outra resmungava algumas palavras que não conseguíamos entender.
Chamamos um médico que a examinou e receitou alguns remédios para baixar a temperatura. Além disso não havia nada de errado com o corpo dela. Novamente foi tudo psicológico.
Meus pais enfim, depois do susto se recolheram. Matteo havia acompanhado o médico até a saída enquanto eu permanecia sentada no chão, com a cabeça apoiada na cama da nossa filha.
— Acha que seria melhor levarmos ela em um psicólogo? — Matteo parou encostado no batente da porta.
— Eu não sei... eu não queria que ela passasse por isso Matteo, ela é tão pequena e já sofre tanto por nossa causa...
Fechei os olhos por um momento enquanto mais lágrimas escapavam. Sentia minha cabeça latejar pela quantidade de vezes que já havia chorado naquela noite.
— Eu acho melhor eu ir embora. A Bella já está de volta e amanhã podemos conversar sobre isso.
Matteo se aproximou da cama dando um beijo na testa ainda febril da nossa filha. Antes que ele pudesse se afastar, segurei sua mão, fazendo ele parar onde estava.
— Fica... — Pedi.
— Tem certeza disso? — Perguntou receoso.
— Ela precisa de você Matteo — Comprimi os lábios e engoli o orgulho antes de continuar — E eu também...
Ele simplesmente assentiu se sentando ao meu lado e me ajeitando para deitar em seu ombro. Não houve julgamento nem mesmo no olhar que ele me direcionou. E pela primeira vez depois de muito tempo vi ele deixar o "astro" Matteo Balsano de lado, para ser simplesmente o pai da Bella. O meu mauricinho.
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After Rain - Livro 2 - (Em Revisão) - Lutteo
Hayran KurguA chegada de um bebê pode trazer muitas alegrias para a família. Mas junto com uma criança vem muitas responsabilidades. Luna e Matteo deverão enfrentar a confusão de suas vidas e as diferenças pelo bem da filha.