Capítulo 17 - Bye Argentina, Welcome France

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As 14hs de vôo foram extremamente cansativas. Bella dormiu a viagem inteira por causa do remédio para enjoo que lhe dei antes de embarcarmos.

A despedida foi difícil. Bella e Chloe não queriam se soltar. Ámbar me abraçou uma duzia de vezes me passando mil recomendações para ter cuidado. Segundo ela nem todos os franceses são gentis como parecem, principalmente quando se trata de mulheres bonitas. Nina se manteve calada, abraçada à Gastón depoi que nos despedimos. Ela foi uma das únicas pessoas que entendeu quando eu contei que iria seguir meu sonho. A outra pessoa foi meu pai, que segurou até o ultimo segundo para não chorar mesmo que seu olhar visivelmente demonstrasse o quanto queria deixar as lágrimas caírem. Ao contrário da minha mãe que estava em prantos.

Matteo foi o ultimo a vir até nós. Quando finalmente as duas pequenas se separaram, Simón pegou Chloe no colo e se afastou junto com os demais, nos dando um pouco de privacidade. Se ajoelhando para ficar na altura da nossa filha, ele aconchegou o pequeno corpinho de Bella em seus braços. Os cachinhos castanhos dela caídos em casacatas pelo ombro de matteo enquanto ela enterrava o rostinho em seu pescoço.

Ouvi quando ele falou algo em italiano para ela — Que ela entendia perfeitamente, já que ele procurou ensinar o idioma desde que ela começou a falar as primeiras palavras — Em seguida beijou a testa dela e a pegou no colo e levantou. Era minha vez de me despedir dele.

Foi impossível controlar o choro. Fechei meus olhos quando ele me puxou para junto deles. Matteo me abraçou com o braço que estava livre e senti a mãozinha da minha filha em meus cabelos. O mundo era só nosso e todo o resto desapareceu.

Voltamos à realidade quando a voz no auto-falante anunciou nosso voo. O braço de Matteo tensionou ao redor dos meus ombros me impedindo de sair.

— Nós temos que ir...

Toquei seu rosto molhado pelas lágrimas e o puxei para mim. Beijei seus lábios e peguei Bella no colo ainda sem me afastar dele.

— Eu amo você mauricinho, nos vemos em breve.

— Eu amo vocês...

Quando finalmente entramos no setor de embarque, dei uma ultima olhada para trás, antes de entregar nossas passagens para a moça na nossa frente. A imagem de Matteo parado no mesmo lugar, os ombros sacudindo com os soluços e o rosto vermelho jamais saíriam da minha mente.

— Em breve... — Repeti dessa vez na tentativa de convencer a mim mesma que ficaria tudo bem.

●●●

Um plaquinha de papel com  o nome "Balsano" escrito estava erguida em meio à multidão apressada no saguão. Me aproximei tentando equilibrar Bella ao mesmo tempo que tentava empurrar o carrinho com nossas bagagens.

— "Senhorra" Balsano?

O homem de baixa estatura e cabelos brancos que segurava o papel nas mão caminhos apressado até nós. Assenti e fiquei aliviada quando ele tomou o carrinho das minhas me deixando apenas a tarefa de segurar minha sonolenta filha.

— Por favor, pode me chamar de Luna...

— Sou Pierre, vou "serr" seu "motorrista" pelo "prroximo" ano — Explicou. Não pude deixar de observar o forte sotaque que ele tinha apesar de saber perfeitamente falar espanhol. Era algo gostoso de se escutar.

Sorri em agradecimento quando ele abriu a porta do carro para que entrássemos.

Quarenta minutos depois atravessamos os grandes portões de ferro. Logo acima um arco enorme de pedra nomeava o lugar como "Condominium des Rosiers". Não precisei saber Francês para entender o que significava. Todas as casas eram adornada por pequenos muros vivos repletos de rosas, cada casa com uma rosa de cor diferente, as vezes duas. As vezes as cores se repetiam mas nunca as combinações.

Nossa casa era no final da rua e me flagrei sorrindo quando identifiquei quais eram as cores das nossas flores: Rosa e amarelo.

Pierre abriu a porta do carro para que eu descesse, já que Bella havia acordado e adormecido varias vezes durante o caminho e permanecia no meu colo.

Nossa casa não era tão grande quanto a de Buenos Aires e jamais chegaria perto do que é a mansão Benson, mas ainda assim era suficiente para nós duas.

A porta de entrada se abriu uma senhora de pele bronzeada e cabelos negros presos em um coque baixo caminhou a passos apressados até nós. Secou as mãos no avental e estendeu para mim.

— Senhora Balsano, eu sou Rosa — Apertei sua mão de volta — Sou a empregada da casa, cozinho, limpo e todo o resto que a senhora precisar.

— A senhora é mexicana! — Falei contente. Identifiquei assim que ela começou a falar.

— Foi um pedido do "Senhorr" Miguel — Pierre explicou.

Olhei para ele e voltei a olhar para Rosa percebendo que os dois estavam apreensivos pela minha observação. O meu lado mexicano entendia o porque deles estarem nervosos.

— Esta tudo bem! — Tratei de responder — Eu também sou Mexicana, quer dizer... Eu morei em Cancún dos meus tres anos até os quinze, por isso meu pai deve ter feito esse pedido. Minha mãe é cozinheira e ficar um ano aqui iria ser difícil sem o sabor do México pra me fazer me sentir em casa.

O sorriso de alívio se estendeu pelo rosto dela, assim como Pierre também suspirou discretamente ao meu lado.

— Venham vamos entrar, vou lhe mostrar onde colocar a menina e onde fica seu quarto, assim podem descansar enquanto preparo algo pra comerem.

Foi então minha vez de suspirar e iniciar a minha caminhada para dentro da casa que seria meu lar pelo próximo ano.

[...]

O ar pareceu fugir dos meus pulmões quando atravessei as portas do Gymnase de la plaine. Talvez não pelo lugar em sí, mas pela responsabilidade que eu sabia que estava em minhas mãos — Ou nos meus pés sobre os patins — a partir do momento que entrei alí. Na verdade eu tinha recebido essa responsabilidade no momento em que aceitei a proposta, mas somente naquele momento parecia que tudo estava virando realidade.

Por todos os lados haviam pessoas agitadas e correndo apressadas. Era a primeira coletiva de imprensa que teríamos e todos os competidores que estavam alí pareciam já preparados para isso, como se fizessem isso a vida inteira. E parando para pensar era exatamente isso. Cada um dos meus adversários foi treinado e preparado para esse momento por anos, e a maioria deles já passou por isso durante suas longas carreiras na patinação. A excessão obviamente era eu. A garota latina de cabelos loiros e olhos verdes, com um metro e cinquenta e cinco de altura, beirando seus trinta anos que estava lá "apenas" para substituir a atual campeã mundial que havia se ferido. Será que esse era aquele momento em que eu me dava conta de que aquilo tudo era muito para mim? O momento em que procuraria um canto escuro e me esconderia em posição fetal até que esquecessem da minha existência.

— Desculpe incomodar, mas saberia me dizer onde está minha amiga? Ela se chama Luna, tem mais ou menos a sua altura e é muito parecida com você, mas ela normalmente não tem essa cara de assustada.

Um sorriso se estendeu pelo meu rosto quando ví Ramíro alí ao meu lado. Absorta em meus pensamentos, não percebi ele se aproximar, mas obviamente ele percebeu meu estado de quase surto.

— Que bom que já chegou! — O abracei fortemente — Eu estava perdida no meio de todas essas pessoas.

— Na verdade você estava em pânico.

Meus olhos vaguearam por todo o lugar tentando desviar dele. Ramíro me conhecia a tempo suficiente para eu negar a verdade.

— Ei, Valente! — Ramíro segurou meus ombros me chamando pelo sobrenome que há muito tempo eu não usava — Você consegue fazer isso, ou já esqueceu do que nos ensinou?

— "Todo lo que quieras lo podrás alcanzar" — Firmei as palavras mais para mim mesma do que para ele. Ramíro estava certo.

Fechei meus olhos puxando o ar lentamente até que eu enchesse meus pulmões por completo. Quando o soltei abri meus olhos novamente e sorri para meu amigo e parceiro.

— Pronta?

— Pronta! — Confirmei com toda a certeza que havia dentro de mim.

After Rain - Livro 2 - (Em Revisão) - Lutteo Onde histórias criam vida. Descubra agora