6. Perdido em mim.

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A claridade fez meus olhos se fecharem. Podia ouvir o barulho de passos pelo quarto que ficavam mais forte com a proximidade da cama. Sentou-se ao meu lado, mas não fez nada.

— Já passa das quatro da tarde e você não comeu nada — senti sua mão tocando meu braço — Você tem que reagi, meu amigo.

Não respondi. Não tinha vontade para falar nada.

— André, tem mais de um mês que você não sai dessa cama — Fernanda disse.

Tirei meus olhos do rosto dela e olhei para o nada como eu fazia depois que tudo aconteceu.

— Eu vou trazer algo para você comer — Fernanda me deu um beijo no rosto e saiu.

Peguei o travesseiro e me abracei a ele. Fechei os olhos na esperança de dormir mais uma vez e ter visto que não tinha passa de um pesado. Depois do ocorrido algo dentro de mim avisa se desligado. Eu parei tudo! Minha vida havia se transformado em um nada, um grande e inseguro vazio. Depois que eu saí do Hospital após ter tomado as pílulas eu basicamente desisti da vida. Não soube continuar como todos que passam por algo assim fazem. Minha vida se resumia aquele quarto, o quarto que foi nosso por tanto tempo. Ouvi a porta se abrir, mas não me movi. Senti o lado da cama que estava vazio ser ocupado. Girei meu corpo e o vi. Não tinha um dia que ele não fosse em casa para me ver.

— E ai, mano — Guilherme disse ao meu lado da cama.

Senti seus dedos tocarem meu rosto, fechei os olhos.

— Você é uma das poucas pessoas que eu ainda me importo depois que isso tudo aconteceu e me dói tanto ver você desse modo, André

Respirei fundo e fechei os olhos.

— Por que a vida fez isso com a gente? — pude senti uma lagrima escorrendo pelo meu rosto — Por que teve que ser assim? Porque teve que ser ele?

— Eu realmente não sei, André — limpou meu rosto — Eu me pergunto isso todo dia e até hoje não tive resposta, talvez um dia, quem sabe? Mas a vida continua não como a gente planeja, mas ela continua e você tem que continuar! Você não pode passar a vida toda em cima dessa cama.

— Eu não tenho vontade... Eu não quero continuar...

— Você tem que continuar, por ele e principalmente por mim. Eu não sei o que faria se eu perdesse você também. Você é uma das poucas coisas que ainda me faz ter forças pra continuar.

— Eu sou mais fraco do que imaginei que fosse.

— Não, você não é! Você é a pessoa mais forte que eu conheço! Você é a melhor pessoa que eu poderia conhecer, André. Você é um irmão que a vida pôs na minha vida através do Henrique.

Ele aproximou de mim e me deu um beijo no rosto.

— Mas você agora precisa comer.

Levantou da cama e deu a volta ficando ao meu lado, tirou o lençol de cima de mim e me ajudou a sentar na cama. Eu havia me tornado uma criança que dependia dos outros para fazer o mínimo. Guilherme pôs o prato sobre suas pernas, mexeu a colher no fundo levou até a boca e soprou só assim levando a minha boca.

— Isso, bom menino.

Pegou outra colher e fez o mesmo ritual. Deixei escorrer um pouco da sopa pelo canto da boca.

— Mas é muito desajeitado — riu.

Pegou o pano e limpou minha boca. Eu sabia que ele estava tentando fazer aquilo para me alegrar. Acabei não tomando a sopa toda. No começo da noite ele foi embora e eu voltei à solidão do meu quarto.

Dois Corpos, Um CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora