14. Ciclo.

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— André...

Olhei para o Daniel. Não sabia quanto tempo havia se passado desde que a Marta tinha saído do apartamento. Se eu fecha-se os olhos poderia ouvir tudo o que ela tinha dito.

— Agora você deve entender o porquê do Guilherme nunca ter levado você para conhecer a mãe.

— Entendo! Ela não deixou me apresentar e foi logo insinuando que a gente tinha algo.

— Essa é Marta Campos Sodré.

— Eu... Não sei como uma pessoa assim conseguiu ter um filho tão gente boa quanto o Guilherme e eu imagino que o Henrique devesse ser também — Daniel disse.

— Graças a Deus eles não herdaram os genes ruins dela. Devem ter puxado ao pai.

Fechei os olhos e esfreguei as mãos sobre a bermuda. Quando senti a mão do Daniel segurando meu pulso, abri os olhos e o vi me olhando.

— Daniel, eu queria realmente pedir desculpas pelo o que você presenciou aqui.

— Você não tem o porquê de me pedir desculpas, André, você não tem culpa pelo que aconteceu.

— Será que eu não tenho? A forma que ela disse as coisas... Será que eu não sou realmente culpado pelo que aconteceu com o Henrique?

— André — senti sua mão segurando meu ombro — Não se sinta culpado por aqui que você não fez. Carregar a culpa pelos erros dos outros é mais doloroso do que ter feito esses erros.

— Eu sei... — segurei a mão dele que tocava meu ombro — Você não se importa se eu ficasse só?

— De forma alguma, mas você me promete que não vai se culpar?

— Prometo!

Eu o acompanhei até a porta.

— Qualquer coisa que você precisa fique a vontade para me ligar.

— Tudo bem — sorri.

Daniel se aproximou e me abraçou fazendo com que meu corpo fosse coberto pelo seu.

— Fica bem, Dré...

— Brigado, Dani.

Fechei a porta e olhei para a sala que até poucos minutos atrás transbordava sentimentos, agora exalava calma.

— Isso só pode ser um pesadelo!

Fui para o quarto onde fiquei deitado olhando para o teto. Um mês foi o prazo que Marta tinha dado para que eu arrumasse o valor para comprar o apartamento. Um valor que certamente seria alto e que eu não sabia como consegui. No começo da noite o Guilherme retornou ao apartamento.

— Como você tá?

— Bem... – falei sentando ao seu lado no sofá.

— André eu preciso falar algumas coisas com você.

Não sei o porquê, mas aquilo fez meu coração apertar.

— Já imaginava...

— Realmente ela pôs o apartamento à venda, só que não tem nada acertado. Então ainda tem como reverter tudo isso, porém...

— Imaginei que teria um, porém.

— O valor, André — ele retirou o de dentro do envelope um papel e me mostrou o valor que estava nele.

— Um milhão e setecentos? Não pode ser possível.

— Eu falei com um amigo que é corretor de imóvel e ele disse que o valor que ela quer estar abaixo do que de fato o apartamento custa.

Dois Corpos, Um CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora