Capítulo 21

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(...)

    Após alguns minutos, escuto pessoas entrarem na barraca conversando em uma língua que não entendo, eles conversaram por alguns minutos, sinto alguém tocar meu pulso e falar com tom aborrecido.
  Levanto, e coloco as mãos no meus olhos afim de tirar a maldita venda que já estava começando a pinicar, infelizmente sou impedida, escutando um grunhido cansado.

-Ela vai ficar bem.-Uma voz suave diz, aparentemente calmamente.-Vamos ajudar ela, tem certeza de que é uma boa pessoa?

   Quando eu abri a boca para começar a responder, Kai sai na minha frente.

-Sim, eu posso sentir.-Diz, com convicção. Como ele pode saber? Nem me conhece.

-Ela é sua responsabilidade, Kai.-Diz, a voz. Sinto mãos no meu rosto e logo aquele troço é retirado, felizmente.

   Pisco diversas vezes a fim dos meus olhos se acostumarem com a Luz ambiente. O lugar onde eu estava, era deslumbrante, nunca tinha visto algo semelhante, tinha tanto verde que meus olhos estranharam a princípio. Vejo a minha frente um jovem, com a pele bronzeada, cabelos longos e lisos, com algumas pinturas espalhadas pelo corpo, e roupas com um tom pardo, ao seu lado se encontrava um senhor, bem velho, cabelos brancos, estatura mais baixa, ele estava com um pedaço de folha com ervas em suas mãos, presumo que era a "venda" que eu estava usando, não posso descrever o alívio e a felicidade que sinto ao enxergar novamente, meus olhos retornam novamente para a figura mais jovem, tão familiar, sinto que já o vi.

-Está conseguindo enxergar?-Pergunta, Kai.

-Sim, é estranho, é como se fosse a primeira vez que eu enxergo, está tudo muito vibrante, confuso.-Digo, franzindo o cenho.

-Venha, precisamos conversar, filha da morte.-Diz, o senhor.

    Acompanho o velho, andamos em direção a outra barraca, ele adentrou e eu o segui, pediu-me para lhe contar um pouco sobre mim, lhe contei escassamente, poupando detalhes, afinal não era necessário uma biografia. Ele me serviu chá e finalmente se sentou a minha frente, pigarreando e começando a falar.

-Eu ainda não confio em você, mas a pedido de Kai, irei lhe ajudar.-Diz, ele toma um gole do chá e volta a falar.-Para alcançar o ápice dos seus poderes você precisa se conhecer, testar seus limites, conhecimento é a chave. Você está disposta a enfrentar o necessário a fim de elevar os seus poderes?-Questiona.

-Sim.-Digo, meio incerta.

-Posso sentir que você teve uma vida difícil, que carrega cicatrizes, e eu sei do que exatamente você precisa, da medicina do lobo.-Diz, assoprando seu chá.

-Medicina do lobo?-Questiono, intrigada.

-A medicina do lobo, é uma medicina que cura sua alma, observando o comportamento dos lobos, ela lhe ajudará a curar sua alma. Os lobos são seres sábios, imitar os lobos é um caminho para crescer, curar feridas e se tornar mais forte.

-Me explique melhor, por favor.-Digo, curiosa.

-Você terá que cumprir alguns desafios, para desencadear as trancas que sua alma carrega. Em uma alcatéia o lobo não é o mais forte, e sim o mais inteligente e hábil, um lobo não anda sozinho, seu grupo é sua família, e para eles nada é mais importante, você deve provar que é uma deles.

-Todos vocês fizeram isso?-Pergunto.

-Os que atingiram a maioridade sim, exceto Kai, que é um caso mais particular.-Diz, colocando o copo na mesa.

-Por causa do que aconteceu com a sua mãe?-Pergunto, cautelosa.

-Não.-Diz, e fica em silêncio.- Há três grandes poderes do lobo, a espreita, a invisibilidade e a proteção familiar. Eles não exibem sua ferocidade, ou seu poder, eles observam cautelosamente, analisam e passam despercebidos enquanto fazem isso, eles estudam o perímetro, calculam cada passo, quase invisíveis e atacam quando menos esperam.

-Como irei fazer isso?-Pergunto, desencorajada.

-Você irá estudar seus instintos, sua hierarquia, sua cultura, suas tradições, irá se tornar um deles.-Diz.-Você não é só a filha da morte, você é uma bruxa, é seu dever se conectar com o universo e entende-lo. Os lobos e as bruxas são aliados, são abraçados pelas sombras e juntos se tornam mais forte.

    Ele se levanta e vai para o fundo da barraca, retornando em poucos segundos com roupas em tom pardo.

-As use, você será uma de nós, viverá como uma de nós, comerá como uma de nós, se assim você quiser-Ele diz, me entregando as roupas, e se sentando novamente.

-Eu quero.-Digo, determinada. Se eu aprender a controlar meus poderes serei muito mais útil.

-Seus sonhos, como são?-Questiona.

-São pavorosos, sangrentos, com mortes, muita das vezes vejo mulheres, cinco e eu estou entre elas, o cenário me lembro o Ragnarok, eu acho que é o Ragnarok.-Digo, pensativa.

-Os sonhos são portas usadas pelos cosmos para nós alertar de algo que irá acontecer, e alguns conseguem ver o que já aconteceu. Inicialmente você irá aprender a ter sonhos lúcidos, e depois você vai literalmente sonhar acordada.-Diz, ele pega a minha mão.-Você tem um futuro promissor, entretanto, seu futuro será breve, pequena filha da morte.

(...)

Semideusa : A Filha de Hel e HadesOnde histórias criam vida. Descubra agora