Capítulo 27

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  (...)

     Após acordar, tomo um banho, me arrumo e desço.
   Um som animado chega aos meus ouvidos, entro na cozinha e todos estão sentados a mesa conversando e rindo. Maia e Vitória estão colocando os pratos.

-Querem ajuda?-Questiono.

-Não precisa, sente e vamos te servir.-Diz Maia, sorrindo. Mesmo sendo nova, seu jeito era bem maternal.

     O café da manhã foi tranquilo, me senti em casa.

   Esperei a Maia ficar sozinha para poder lhe contar das minhas visões.
   Quando todos haviam saído da cozinha, me aproximei dela que estava lavando a louça.

-Podemos conversar?-Pergunto.

-Claro, sem problemas.-Ela diz.

-Há algum tempo atrás, eu comecei a ter visões, sonhos, nele eu via vocês, os seus filhos e mais duas garotas, todas estávamos com armaduras e parecia que algo muito ruim estava acontecendo. Não foi apenas um, tive vários, mas eu não consigo me lembrar dos outros, fui esquecendo deles com o tempo, menos desse, esse sempre martela na minha cabeça.-Digo.

-Há uns três anos atrás, eu também tive uns sonhos diferentes, também não me lembro deles, mas consigo sentir que eram importantes. Li em algum lugar... 

    Ela para de falar e o prato que está em suas mãos caí no chão, seus olhos ficam roxos, não completamente, apenas a pupila.
   Ela segura fortemente na pia e fecha os olhos.

-Eu vi ele. Esse desgraçado se ligou a mim de novo.-Ela diz entre dentes.

-Como assim?-Pergunto.

-Quando a Nyxie chegou no acampamento, o Connor desapareceu, tivemos que ir a Asgard. Na minha vida passada, eu e o Loki, nos relacionamos, éramos muito apaixonados, mas houve uma briga muito grande que levou a minha morte e a quase morte dele, ele ainda tem muito ódio de mim, mas aprendeu a conviver com isso, tínhamos um elo, que se quebrou a minha morte, eu não sei o que ele fez, mas eu consigo sentir ele.-Diz, aparentemente brava.

-O que você viu? Você está bem?-Questiono.

-Estou, não se preocupe.-Ela diz e fecha os olhos novamente. Ela não tá bem.

-Vem, vou ajudar você.-Digo, levo ela pro sofá, tomando cuidado com os vidros do prato.

-Obrigada.-Ela diz.

-Deita, você precisa dormir, okay?-Digo e ela concorda.-Eu vou induzir seu sono, tá?.-Digo, ela se deita.

   Coloco minhas mãos nas suas têmporas, faço uma circulação com meus dedos e começo a recitar uma antiga canção de ninar, pode parecer estranho, mas as canções de ninar, principalmente se for feita por algum deus do sono, te faz adormecer em poucos segundos.

    Ela dorme. Vou até a cozinha, termino de lavar a louça e recolho os vidros.

(...)

   Estava sentada ao lado dela, aparentemente ela estava tendo pesadelos, seu corpo se mexia de maneira desconfortável, estava ficando cada vez mais suada.
   Eu não deveria fazer isso, mas não posso me conter, coloco minhas mãos em sua cabeça e fecho os olhos, sinto minha mente se conectar com a dela, consigo ver o que ela está vendo.
   Ela está em uma casa escrevendo em um livro, Loki está sentado perto dela, ela sorri e olha para ele, eles se olhavam tão apaixonadamente, que estava me causando ciúmes, de repente, alguém entra na casa com brutalidade, escuto um grito e tudo fica escuro.
   Tiro minhas mãos de sua cabeça.

-Ela tem isso as vezes, são as sequelas de se recordar da sua vida passada.-Diz Nico. Ele estava sentado na poltrona em frente ao sofá que a Maia estava deitada.

-Quando isso começou?-Questiono.

-Há uns dois anos fomos pra Asgard, o Connor, namorado da Nyxie, tinha sido sequestrado pelos gigantes de gelo. A Maia foi fazer um feitiço junto com o Loki, quando aquela mulher interferiu na visão dela, fazendo ela quase se matar, depois ela ficou em coma por uns dias e quando acordou se lembrava de toda sua vida passada, as coisas se misturaram e ela levou um tempo pra discernir seus antigos e atuais sentimentos.-Ele diz, aparentemente falar sobre aquilo o machucava.

-Eu sinto muito.-Digo, ele vai até a Maia e pega na sua mão.

-Eu a amo muito, ela passou por coisas muito difíceis.-Ele diz. É notório que ele a ama, não posso imaginar o quando ambos sofreram.

-Foi difícil pra vocês ficarem juntos?-Questiono.

-Eu gostei dela desde o momento que ela esbarrou em mim, ela era muito espontânea e inteligente, ainda é.-Ele olha pra ela e sorri.-Demorou pra ficarmos juntos, culpa minha, eu não tomei atitude e não era justo ela ficar me esperando, mas agora estamos bem, felizmente estamos bem.

-Eu fico feliz por vocês, vocês fazem um casal bonito.-Eu digo.

   A Maia se mexe, como se estivesse se arrumando, seus olhos abrem lentamente.

-Aconteceu de novo?-Ela pergunta com a voz sonolenta para o Nico. Ele assente.-Ei, tá tudo bem, eu amo você.-Ela diz ternamente.

       Saio da sala, vou para o meu quarto e me sento na cama, olhando para a porta.
   Nico teve que ser muito forte pra suportar a pessoa que ele ama tendo sentimentos por outro. Sinto que estamos no dando bem, ele me contou algo importante da sua vida, isso mostra que ele confia em mim.

  Alguém bate na minha porta, vou até ela e a abro.

-Oi.-Diz, a garotinha, filha da Maia e do Nico.

-Oi, tudo bem?-Pergunto.

-Posso pedir algo?-Ela pergunta incerta. Suas mãos estavam se arrastando sobre sua saia, mostrando que a mesma estava ligeiramente nervosa.

-Sim, pode.-Digo. O que uma criança tão pequena poderia me pedir?

  Ela vem até a cama e se senta ao meu lado, ela tem a aparência de uma criança de quatro anos, mas fala muito certo pra alguém dessa idade.

-Eu não quero que meu papai morra, não deixa ele morrer, por favor.-Ela pede em tom de súplica. Expresso confusão, por que ela me pediria algo assim e ainda por cima tão de repente?

-Como assim?-Eu questiono.

-Eu vi meu papai morrendo, ele tava com sangue, minha mãe chorava e meu vôzinho tava muito triste. Você não pode deixar ele morrer.-Ela pede novamente. Sua mão segura a minha e ela olha no fundo dos meus olhos.-Eu o amo e só quero que você saiba o que tem que fazer.

-Como eu posso impedir isso?-Pergunto.

-Ele é seu sangue, precisa dar seu sangue pra ele quando for o momento certo.-Ela diz séria.

   Soaria engraçado uma criança tão pequena com tamanha seriedade, em outras circunstâncias, não nessa, ela estava certa de que algo aconteceria com o seu pai e eu fiquei com medo de que isso realmente fosse acontecer, não iria aguentar mais desgraças.

(...)

Semideusa : A Filha de Hel e HadesOnde histórias criam vida. Descubra agora