Dois por um

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Caminhou por um longo tempo, cansada não da caminhada que na verdade era fuga de uma vida infeliz, cansada de tanto maus-tratos e agressões do homem que julgou por tanto tempo seu grande amor.

Descalça, com marcas pelo corpo todo, mas o que de fato doía não era apenas seu corpo, eram marcas muito mais profundas.

Não tinha mais lágrimas, já as tinha derramado na noite anterior, deixo-as lá na fuga madrugada adentro, não teve coragem para atirar, então seguiu em qualquer direção que a levasse para longe daquele homem que se julgava poderoso nos jogos de baralho, mas era um fracasso como marido.

"ele não te merece..."
"eu vou matar esse crápula..."
"deixa esse infeliz e foge comigo..."

Seus pensamentos desordenados juntamente com um coração ainda apaixonado não permitiram Judite ouvir os conselhos desesperados de Estêvão, motorista particular de seu marido.

Eles haviam simpatizado desde o primeiro olhar, mas quando Carlos percebeu a amizade, e proibiu-a de vê-lo e ameaçou Estêvão.

Desmaiou quase entregue a morte. Acordou em um quarto pequeno, da janela dava pra ver muitas árvores. Do lado viu Estêvão que dormia em uma cadeira do lado da cama. Sentia-se melhor e não era apenas do corpo.

Levantou e beijou em seu rosto que se assustou, mas logo sorriu ao vê-la de pé.
Judite não sabia por que, mas sentiu uma força nova tomar seu coração e impulsionada por ela, beijou-lhe os lábios. Ele correspondeu.

Tomou-a em seus braços e a beijou com intensidade. Não precisaram do recurso da palavra para entender o sentimento que envolvia os dois naquele momento.

A muito tempo que ele desejava faze-la sua mulher, dar a ela todos os carinhos que uma mulher merece. Ela sentiu seu corpo vibrar por aquela sensação que a muito não sentia. Sentir-se desejada, amada era impossível com Carlos, que roubou sua alegria e prazer.

Estêvão a deitou na cama e amou-a ali. Invadindo delicadamente sua intimidade e beijando cada parte do seu corpo ignorando as marcas e tocando em seu coração. Inerte ao prazer deleitou abraçado em silêncio.

- Maldita, eu acho ela e mato. Mato também aquele desgraçado traidor.

Ia Carlos a procura deles com dois rapazes armados e uma 38 no paletó.
Foi certeiro ao local desejado, viu Judite pela janela e logo viu Estêvão. Quase atira, mas preferiu ir lá tirar satisfação.

A batida da porta com o chute de Carlos não assustou mais do que ter de olhar para a cara dele de novo e em lhes apontando uma arma.

- Vocês me dão nojo. Sua vadia imunda. Já tinha um caso pelas minhas costas.

Estêvão abraça Judite que já se desvaia em lágrimas por acusações injustas de um miserável que passava na sua cara todos os dias que as meretrizes eram muito melhor que ela e descrevia tudo o que fazia.

Tomado pelo ódio, Carlos tenciona o tiro, mas na mesma hora, um disparo é realizado em sua cabeça e outro no peito lhe tirando a vida rapidamente.

A vingança foi a verdadeira arma usada por Jorge, irmão mais novo de Paulo, e de Fernando, filho de Eduardo, ambos assassinados por Carlos.

Foi dois por um que findou a sangue frio a perseguição viciosa de Carlos por ambição. Agora enfim o amor que ali nasceu entre Estêvão e Judite poderia ser vivido sem precisar fugir.

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