Jon

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“Se eu olhar para trás,  estou perdida”
~x~
“Você não sabe de nada,  Jon Snow”

    Jon Snow desabotoou o colete de couro escuro e desfez o laço da camisa de algodão que estava por baixo para inspecionar o abdômen. A região mordida pelo urso morto exibia a coloração vermelho-rosado, o que, por enquanto, não era ruim. A ferida era profunda, não o suficiente para afetar seus órgãos internos, por causa dos músculos, mas ainda podia infeccionar caso não fosse tratada corretamente.

    Estava cavalgando por semanas sem um descanso adequado. Precisava chegar a Winterfell o quanto antes, tinha muito a ser resolvido e não queria perder tempo na estrada, mas dessa vez sentiu o corpo cobrar-lhe uma parada. Semanas passadas e a ferida não mostrara sinais de melhora. Seus homens também estavam cansados. Podia ver isso claramente refletido nos olhos de Castel Umber, um de seus vassalos.

    Ordenou que a marcha parasse, alguns minutos depois começaram a erguer acampamento em uma pequena floresta relativamente afastada da Estrada do Rei. O local era escondido por árvores e cercado de grandes pedras. Estrategicamente era um bom lugar para acampar sem chamar muita atenção. Em contrapartida também facilitava ataques das tribos da montanha, mas era início de Inverno, as tempestades castigavam a noite e Jon duvidava que alguém se aventurasse nela apenas para roubar alguns cavalos, armas e rações. Ainda mais com boa parte dos Selvagens espremida no mesmo acampamento que os Nortenhos. Eles eram homens ferozes.

    Contavam quase cento e cinquenta homens em sua marcha à Winterfell, muitos. E ainda assim poucos levando-se em consideração que partira cerca de duzentos e dez para a muralha e duzentos e trinta e dois para além dela. Alguns homens da Guarda da Noite,  alguns da Irmandade sem Estandarte liderada por Beric Dondarrion. Ambos grupos que permaneceram na muralha. Somente os Nortenhos e Selvagens marcharam de volta.

    Jon sabia que a missão era difícil. Durou quase dois meses para convencer o povo do Norte de que deveriam se aventurar além da muralha para capturar soldados do exército do Rei da Noite com o objetivo de convencer as grandes casas do sul de que os Vagantes Brancos eram reais, não apenas mitos macabros para assustar os pequenos, e que precisavam se unir para lutarem juntos pela vida. Foi difícil,  porque mesmo os nortistas tinham dificuldades em acreditar. Jon teve que se apoiar a lembrança do gigante Wun Wun que chocou a todos durante a Batalha dos Bastardos, e ainda assim foi difícil convencê-los. Por fim aceitou voluntários e, para a sua surpresa, houveram muitos deles, principalmente da casa Mormont.

    A situação então abriu dois agravantes: a infelicidade de Sansa por discordar do seu ponto de vista, e a possibilidade de chamar a atenção dos sulistas pela grande quantidade de homens em sua marcha. Obviamente não topariam com eles no caminho,  mas os olhos e ouvidos sulistas estavam por toda parte, no norte não era diferente. Felizmente o primeiro agravante foi resolvido quando Jon nomeou Sansa como Protetora do Norte em sua ausência.

    Tormund ajudou-o a desmontar do cavalo e chegar a tenda montada por seus homens.  Era um pouco grande para um homem solitário. Não queria dormir sozinho, não gostava das lembranças que um monte de peles a seu lado trazia. Mas também não podia reclamar, então entrou mancando pendurado no ombro de Tormund e se afundou na cama improvisada.

    — Tantos homens armados e só pegamos sete daqueles filhos da puta. Grande merda!

    — É o suficiente.

    — Aqueles merdas do sul vão realmente unir seus exércitos? Eu não entendo como vocês funcionam. — Tormund jogou-se no banco de madeira na ponta da tenda. — Preciso de uma bebida!

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