Meereen

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“Aquela estrada ia dar em Winterfell, e depois em Correrrio, Porto Real e Ninho da Águia, e tantos outros lugares; o Rochedo Casterly e depois em Correrrio, as Ilhas das Caras, as montanhas vermelhas de Dorne, as cem ilhas de Bravos, no mar, nas ruínas fumegantes da velha Valíria. Todos os lugares que Jon nunca veria. Chegava-se ao mundo por aquela estrada… e ele estava ali. Uma vez feito o juramento, a Muralha seria seu lar até ficar velho como Meistre Aemon.”
(Jon,  A guerra dos Tronos)

    — O que o jovem Jon Snow sonhava, antes de  congelar nos confins da grande muralha de gelo?

    Dany questionou Jon em uma das, muitas, noites em que dividiam a cabine no navio à caminho de Porto Branco. Sentada em seu colo com as pernas ao redor da cintura dele, as mãos delicadas arranhando sua barba e o polegar roçando a curva ondulada que eram seus lábios macios e perigosos.

    Jon olhou nos olhos dela, o verde claro nadando nas profundezas do azul índigo enquanto suas pupilas se apliaram com a escuridão que tomou conta da cabine quando uma das últimas velas se apagou restando apenas uma única que não sustentava sozinha a iluminação de todo o quarto, ainda que a lareira queimasse a brasa não muito distante dali. Afrouxou o aperto dela em sua cintura remexendo o quadril para mudar para uma parte mais fria da cama. Ficar sentado na mesma posição causara cãibras em sua bunda.

    — Queria ser o Lorde de Winterfell, antes descobrir que não tinha direto por ser um bastardo e que desejar Winterfell era desejar o lugar de Robb. Depois disso sonhei apenas em ser um Stark reconhecido por meu pai. — Os lábios dele se abriam sobre o polegar dela para responder. Dany envolveu-se em seu pescoço beijando toda extensão dele até parar em sua boca. Puxando-a levemente em seus dentes.

    — No entanto, mesmo sem direitos, Jon Snow se tornou o Rei do Norte.

   Jon puxou-a para deitar entre seu pescoço e ombros, afagando suas costas e sentindo os ossos da coluna dela formarem ondulações em sua pele com o movimento.

    — Não era o meu desejo.

    — Mas desejava ser o Lorde de Winterfell? Eu não entendo.

    — Esse era o sonho do jovem Jon Snow. Ele não sabia o preço da corrupção dos homens por poder, ouro ou títulos.

    — Ele era jovem.

    — Eu costumava olhar para a estrada do Rei, desejando fugir e viajar para todos os lugares que não podia estando preso ali. Lugares onde o ouro importaria muito mais do que o meu sobrenome. Esse era um sonho também, viajar o mundo.

    Dany levantou a cabeça para encará-lo nos olhos novamente.

    — Poderíamos ir a todos esses lugares algum dia, no futuro e em Essos também, Pentos,  as cidades livres, a Baía dos Dragões e Meereen. Você conheceria aqueles que me chamam de mãe, meus filhos.

    E então Dany contou a ele sobre sua vida em Meereen, assim como tinha contado sobre Vaes Dothraki, algumas noites antes, e sobre Astapor, sua passagem por  Qarth, o Deserto Vermelho e todas as cidades e tradições que conhecera, conforme as semanas passavam. Em suas noites dividindo a cabine, eles esqueciam a realidade fora dela. E para Jon era como se já tivesse viajado por todos os lugares que Daenerys lhe falara. Era tão real e sólido enquanto ela lhe contava. Quase como se pudesse ver a imagem projetar-se a sua frente, vívido e inteligível ao mesmo tempo.

    Agora chegava à Meereen, sem ela, sozinho. Somente Davos, Castel Umber e um caixote de madeira onde residia um morto-vivo. Tão real e vívido quanto antes, fascinante, porém frio e vazio, paradoxal como cinzas queimando no ar gelado do inverno em uma cidade sem neve.

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