Segunda Chance

Jon

“Um homem de verdade faz o que quer, não o que deve” - Cersei
(Eddard,  A guerra dos tronos)

   Daenerys convocou a presença de Jon no terceiro dia.

    Vestia as luvas de couro quando Missandei transmitiu as ordens da rainha. Ainda estava desgrenhado da cama,  apesar de ter passado todas a noites em claro desde que chegara, e seu cabelo enrolado parecia mais selvagem do que um dia já esteve. Pensou que talvez fosse o clima quente que secara-o desgrenhado por conta do suor, portanto arrumara-o da melhor forma possível para que estivesse, no mínimo, apresentável quando saísse.

    Tinha abandonado as roupas do norte, embora permanecesse com as luvas, usava um gibão de algodão amarelado e uma calça escura com botas de borracha até a panturrilha. As mesmas que usara ao chegar em Essos. Davos as tinha arrumado para que parecessem humildes mercadores sulistas. Tinha funcionado, mesmo que a garralonga, atada ao cinto de Jon por insistência dele, tenha chamado a atenção de um homem e outro durante o percurso de Volantis à Meereen, e ele parecesse emproado demais, ao andar, para um homem humilde.

    Havia sido designado a ele um quarto distante, quase ao fim do corredor oeste da pirâmide. Sabia que era longe o suficiente de onde Daenerys dormia e que haviam imaculados enfileirados ao longo do corredor para mostrar a ele que estava longe de casa, cercado e por homens letais, caso tentasse algo contra a rainha. Davos e Castel estavam em seus próprios quartos, próximo ao dele.

    O olhar de Castel Umber ao entrar em sua própria câmara, era apaziguador para Jon. Um retrospecto a sua própria imagem mais jovem. O snow do Norte, sem mais lugar em Winterfell que Theon Greyjoy. O garoto Umber nunca tinha sido tão bem instalado em algum lugar quanto estivera ali e mesmo que seu quarto fosse igual a qualquer outro, parecia feliz, quase como se não percebesse que era um prisioneiro em terras estranhas e que se morresse, estaria longe demais para retornar a seus parentes.

    No primeiro dia, após a conversa com Daenerys, Jon permaneceu em seu quarto durante toda a noite. Algumas mulheres de pele dourada e cabelo crespo, como as que vira em frente ao bordel à caminho da estalagem, porém melhores vestidas, bateram em sua porta. Traziam roupas de cama limpas e bandeijas para encher a mesa branca, próxima a viga inclinada de tijolo pardo, com comida. Tanta que mais parecia um banquete. Pôde ver, ao longe, carne e algumas verduras, bolos e suco. E a comida permaneceu distante dele durante toda noite até o início do segundo dia, quando as mesmas mulheres voltaram para recolher a comida e trazer o café, mais bolo e suco, pão e queijo. Desta vez Jon comeu um pouco, não queria parecer que tinha recusado de propósito, então empurrou pão com queijo e suco goela abaixo. Não sentia gosto algum, como em todos os dias até àquele dia, o pão e o queijo desfizeram-se em sua boca como pó deixando um aspecto arenoso enquanto engolia.

    Recebeu a visita de Davos e Castel durante a tarde. Davos tinha ido além dos corredores, pela manhã, e travara uma conversa com Tyrion e Varys. Relatou tudo a ele com riquezas de detalhes. Desde a esperança que os homens tinham ao finalmente embarcarem à Westeros, até as desconfianças condolentes de Varys. O mestre dos sussurros rodeava as Intenções das pessoas com seu discurso pragmático e exageradas formalidades sem nunca abandonar a ambiguidade em sua a palavras. Tal como Pityr Baelish, Jon concluiu conforme Davos o descrevera.

    Jon foi ter com Tyrion, algumas horas depois, quando a noite começara a apresentar-se. O corredor de minúsculas janelas triangulares, como tudo na grande pirâmide, refletia a luz da lua nas paredes de pedra clara, escurecida pela chegada da alvorada. Tyrion estava sentado sobre um dos degraus mais baixos da escadaria na sala do trono. Tinha um odre de vinho em mãos e parecia já ter passado do seu nível de sanidade quando Jon entrou. Ao seu lado, o homem que parecia ser Daario Naharis dividia a bebida com o Lannister e parecia humorado ao vê-lo. Levantou a taça para saudá-lo quando aproximou-se.