Daenerys

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Um mês antes da Invasão

    Apertou o suporte de madeira do navio bravosi ao avistar as três grandes colinas que formavam Porto Real, inspirando profundamente a brisa cortante do ar.

    As histórias que Viserys contara-lhe sobre a chegada de seu ancestral, Aegon Targaryen, há trezentos anos, naquelas terras que não eram mais do que florestas e moradias de pescadores, naquela época, agora voltavam a sua mente quase como se ela mesmo as tivesse conquistado junto a Aegon e seu exército. No topo da mais alta colina, Aegon tinha construído o seu primeiro baluarte de madeira e terra, que há muito havia se perdido em meio às inúmeras construções que vieram depois.

    Dany podia ver o amontoado de casas; mansões, estalagens, celeiros comerciais, bordéis, tavernas e o que quer que mais por ali houvesse, estenderem-se em uns sobre os outros, empilhados em grandes edifícios de tijolos barrento e telhados laranja-gasto por trás das grandes e fortificadas muralhas da cidade, guarnecidas por Lannisters e balistas de madeira e ferro.

    Porto Real era esplendoroso e caótico ao mesmo tempo, feio e belo, limpo e sujo. Ela não conseguia colocar em palavras agora que se aproximava por baixo, como nunca antes tinha feito.

    Lembrava-se da cidade por cima, tão longe que a primeira vista parecia uma terra plana, sem as elevações que agora podia ver. Estava cega pelo ódio e desespero àquela vez e tudo o que sua atenção capiturara eram a muralha onde Missandei havia sido decapitada por Cersei Lannister e a Fortaleza Vermelha que Maegor, o cruel, terminara de construir na mais alta colina de Porto Real. Tinha apenas um desejo em seu coração: queimar à todos. Então ela o fez, queimou à todos, e em seu coração, naquele momento, só havia paz.

    Sentiu o estômago revirar ao dar-se conta de que havia retornado a cidade que trouxera às cinzas. Mas não deixara-se abater por tais sentimentos, já os tinha remoído o suficiente nos últimos meses.

    O condutor deu um grito avisando que logo ancorariam, mas Daenerys não se moveu. Observou a grande quantidade de navios ancorados em desembarcadouros. Haviam muitos deles de todas as regiões de Westeros e além. Pequenos barcos de pesca remavam para longe da costa ao passo que outros chegavam. Reconheceu alguns galés de Pentos, Lys e Braavos onde alguns homens dos Segundos Filhos e alguns de seus imaculados embarcaram disfarçados de mercadores. Mil homens espalhados por entre as inúmeras embarcações e ela era mais uma, vestida em trajes de couro e cabelo escuro preso por grampos no topo da cabeça.

    Tinham treinado durante semanas para este momento e para que não houvessem controvérsias, principalmente com os Escorpiões de Euron, do outro lado da Baía da Água Negra, próximo à Fortaleza Vermelha.

     Mais mil homens estavam para chegar. Esperava que este pequeno número fosse o suficiente antes da chegada de Theon Greyjoy e Tyrion Lannister que logo chegariam à Pedra do Dragão.

    Desembarcou do navio bravosi com cerca de vinte homens, alguns imaculados com conhecimento da língua comum, a maioria de Segundos Filhos, e mais duas criadas que tomou como suas aias. Os homens carregavam grandes caixotes revestidos em couro onde mercadorias que havia comprado, para o disfarce, estavam guardadas. Sor Davos Seaworth foi o último a descer. Tinha trocado algumas palavras com o capitão do navio, um amigo pessoal dos tempos como contrabandista.

    — Um inferno, não? — disse ele, fincando os pés no desembarcadouro de madeira equilibrando-se para permanecer de pé sobre as botas de borracha e palmilha.

    Estava vestido como um mercador de Pentos. Com uma peruca negra até a altura do pescoço, uma túnica de seda laranja e calças de couro, com um cinto pesado revestido em ouro. Em cada mão trazia anéis de prata e ouro cravejado de pedras preciosas, tais como safira e esmeralda, assim como lembrava-se de Magíster Illyrio.

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