Capítulo 12

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CAPÍTULO DOZE - FINAL

Naquela noite agradável, na confortável sala da residência de Ivana, suas filhas estavam acomodadas, dividindo a atenção entre o celular e a televisão enquanto a mãe se aprontava no quarto para receber Pâmela. A ansiedade era cada vez mais crescente na médica e o calafrio envolvia seu abdome suavemente apenas por pensar que dali a alguns minutos suas filhas e a jovem enfermeira estariam frente a frente.

Ivana terminava de pentear os belos cabelos quando ouviu a campainha tocar. Aquele som fez com que suas pernas estremecessem e a respiração fosse cessada por uma pequena fração de segundos. Pelo horário, sabia que era a Pâmela. E como um raio, largou a escova sobre a cama e saiu do quarto, se prontificando a atender a porta sob os olhares curiosos de Alice e Jéssica.

Assim que a porta se abriu, deparou-se com sua companheira trajando roupas simples: calça jeans e camiseta, exibindo um sorriso cintilante por entre os lábios sedutores e sorriu de volta. Abraçaram-se e foi nesse momento que a médica constatou que a garota estava tão tensa quanto ela.

Parte daquela tensão era natural para Ivana, entretanto, o fato de Alice, a filha mais nova ter feito inúmeras perguntas a respeito de Pâmela a deixou um pouco incomodada, embora soubesse que era apenas um zelo por parte da garota.

Cabisbaixa, passos curtos, respiração enérgica e coração palpitando... Foi exatamente assim que Pâmela adentrou o apartamento de mãos dadas com a namorada.

— Meninas — Ivana falou com a voz em uma tonalidade suave, diminuindo o volume da TV. —, essa aqui é a Pâmela.

As garotas a observaram. Arquearam as sobrancelhas e, após analisá-la rapidamente, sorriram, levantando-se do sofá. Nesse instante, Pâmela respirou aliviada, as cumprimentando com um abraço e apertos de mãos cordiais. Segundos depois, as observou melhor e notou nelas semelhanças marcantes da médica, como, por exemplo, os olhos acastanhados, o nariz pequeno e afilado, os lábios e, principalmente, o sorriso.

*.*.*

Já na cozinha, uma torta salgada terminava de ser assada no forno, exalando um aroma saboroso por todo o recinto. E na tentativa de cessar o clima desconfortante misto a uma grande curiosidade de timidez que prevalecia entre elas, a médica serviu quatro taças com uma dose generosa de vinho tinto. Brindaram e saborearam.

Após alguns goles, não tardou para que as garotas iniciassem um assunto trivial com a enfermeira, afastando o clima colossal dos primeiros minutos. Em meio à conversa que acabou seguindo um direcionamento profissional, tanto Alice quanto Jéssica, apesar de serem um pouco mais jovens que Pâmela, tinha um bom papo e cursavam Odontologia e Medicina. E pelo olhar cintilante da companheira, constatou que ambas as filhas eram um de seus maiores orgulho.

A conversa seguiu-se animadamente, porém de um modo mais formal até o término do jantar, afinal de contas, as garotas tinham marcado de assistir a uma sessão no cinema com um grupo de amigos.

Apesar de tudo ter ocorrido bem, aquele momento havia sido um dos mais tensos do relacionamento entre a enfermeira e a médica, porém ficaram aliviadas pela recepção agradável das garotas.

*.*.*

Algumas semanas haviam se passado desde que a enfermeira havia conhecido as filhas da namorada. Tudo seguia o seu fluxo correto. Antônia, sua paciente, estava se recuperando bem, com boas evoluções do quadro clínico, entretanto, estava com um pouco de dificuldade em aceitar que ficaria cadeirante, com determinadas limitações físicas e dependente de alguns cuidados, residindo, após a alta hospitalar, junto à única filha e os netos.

*.*.*

O domingo amanheceu ensolarado, o céu azul, límpido. Uma brisa soprava seu frescor esvoaçando os cabelos amendoados da médica que fazia sua caminhada matinal, na tentativa de aliviar sua ansiedade.

Ivana sentia como se um calafrio abraçasse seu estômago tão forte, lhe causando imenso desconforto apenas por pensar que dali a algumas horas conheceria a família de Pâmela. Tinha medo do que a mãe da garota fosse pensar, embora soubesse que a enfermeira tinha sua sexualidade assumida. Teve medo, receio, vontade de se esconder. Mas tinha que enfrentar seus sentimentos pessimistas e assim o fez.

Horas depois, a médica estacionou seu carro em frente ao portão da casa da tia de Pâmela. Um aroma apetitoso de churrasco prevalecia por todo o quarteirão, provindo do interior do local. Era possível ouvir pessoas conversando, risadas e vozes de criança sinalizando que a casa estava cheia.

Notando o semblante apreensivo da namorada, Pâmela afagou a coxa da mulher, trazendo-a de volta de seus devaneios mais profundos, oferecendo-lhe um sorriso tranquilo e acolhedor.

— Você está com medo? — a enfermeira perguntou afagando os cabelos da jovem.

— Hã... Um pouco — arqueou as sobrancelhas. — A casa da sua tia parece estar cheia.

— Pensei em fazer um almoço e ir te apresentando para a família aos poucos, mas — elevou as sobrancelhas, dando um risinho logo em seguida. — minha mãe insistiu pra você vir. Confie em mim, Ivana... — beijou as bochechas da mais velha. — Vai ser legal.

Um suspiro repleto de tensão escapou por entre os lábios delicados da médica. Por fim, ela destravou o cinto de segurança e desceu do carro, aguardando pela garota.

Embora estivesse lutando para passar sentimento de serenidade para a companheira, Pâmela também estava nervosa. Aquela seria a segunda pessoa com quem estava tendo um envolvimento mais sério que apresentaria a família.

Assim que sua tia veio atender ao portão, tanto ela quanto Ivana foram recepcionadas com um abraço caloroso e sorrisos acolhedores. Mal havia entrado no quintal da casa, seus primos, ainda crianças, a abraçaram, lançando olhares curiosos para sua companheira.

Ao seguirem para o interior da residência, Ivana sentia o coração palpitar tão acelerado em seu peito que pensou que enfartaria ali mesmo. Deu um risinho baixo ao se recordar do quanto foi traumatizante a experiência de conhecer a família da falecida esposa e agradeceu mentalmente por ter sido bem recebida por ali.

*.*.*

Ao fim da tarde, aquele sentimento de nervosismo já havia abandonado o casal. Brincaram com as crianças, conversaram expondo parte de seus planos, dançaram, incrementando ainda mais o clima sereno, agradável que permanecia por ali.

Já havia anoitecido quando se despediram de uma parte dos familiares da jovem e ao ver o semblante tranquilo da namorada, Pâmela sorriu.

— E essa carinha boba aí? — a enfermeira brincou enquanto ajustavam o cinto de segurança.

— Me senti muito bem com a sua família! Fazia um tempão que não me sentia assim! — exclamou eufórica, dando partida no veículo.

— Nossas festas são sempre assim! Que bom que se acostumou, minha paixão... — as duas trocaram um afagou de mãos.

— Estive pensando uma coisa... — Ivana comentou após dar partida no carro. — Imagina a sua família na nossa festa de casamento, hein?!

Pâmela deu um risinho e pousou a mão sobre a coxa da mulher.

— Ué, mas a senhorita já está pensando em um casório, doutora? — caçoou sorrindo alegremente.

A tez delicada da mulher assumiu um tom rubro.

— Hm... Pode ser... — olhou a garota de soslaio rapidamente. — Até porque se eu estiver te namorando sem a intenção de casarmos, estou namorando a garota de outra pessoa.

As duas riram.

— Os padrinhos desse casamento terão que ser Vinicius e Antônia, afinal, eles foram os nossos cupidos — elas uniram as mãos, entrelaçando os dedos enquanto paravam no semáforo.

— Quem diria, não é?! Nós trabalhamos no mesmo local por um ano, nos vimos poucas vezes e agora, depois de tanto tempo tudo foi se desencadeando tão bem...

— Verdade. Acho que isso é o que as pessoas chamam de acasos de vida, Ivana.

A médica suspirou.

— Um dos acasos mais inesquecíveis da minha vida...

As duas sorriram. Trocaram olhares intensos. Um beijo apaixonado. E ali de um dos inúmeros acasos da vida nasceu um sentimento que prevaleceria com o casal unindo-as nas próximas reencarnações.

#FIM

Acasos Da Vida (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora