Capítulo 30

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Hanae


Algumas horas antes...

Não era todos os dias em que acordava com um humor tão absurdo como aquele. Hanae se levantou fazendo beicinho e continuou a fazê-lo depois de sua limpeza matinal e de ignorar seu café da manhã. Estava prestes a se desfazer de seu mingau quando Kéle apareceu na cozinha com um olhar desconfiado.

— Não vai comer?

Desistiu de descartar a gosma que revirava seu estômago só de olhá-la.

— Não estou com fome.

Kéle revirou os olhos, o que só o irritou mais.

— Você precisa comer, Hanae. Ontem já não quis jantar. Como vai trabalhar de estômago vazio? E você ama o mingau de aveia com coco que eu faço, não entendo por que parece com nojo.

Abriu a boca para lhe dizer algo, mas nada saiu. Era melhor ficar quieto antes que magoasse Kéle com alguma das ofensas horríveis que se passavam pela cabeça. Não sabia o que havia de errado consigo. Apenas se sentia como se Kéle o tivesse traído, tal fato inexistente, porque ele nunca fez nada do tipo.

— Por que não leva para mais tarde? Vou embrulhar para você. — Kéle pegou a vasilha de sua mão e passou a preparar seu café da manhã tardio. Ele era tão... eficaz e prestativo, por que queria estrangulá-lo?

Antes de sair, seu companheiro entregou a ele um cesto. — Aqui está seu café da manhã e um lanche. Certifique-se de comer tudo direitinho, está bem? Estou preocupado com essa sua falta de apetite. — Ele tocou seu rosto e olhou estranho. — Por que essa carinha?

Hanae balançou a cabeça, incapaz de dizer o que estava errado.

— Se você se sentir mal peça a alguém para me avisar, está bem? Eu farei o seu prato preferido para o almoço.

Hanae assentiu, ainda chateado e saiu sem lhe dar um beijo de despedida, como era costumeiro.

Ignorou Roman quando trombou com ele no caminho, acenou forçadamente para Yuma quando o viu e marchou para o casebre. Tudo estava ruim, era como se o próprio ar em que respirava o irritasse por não ser puro o bastante e o cheiro do que havia no cesto o nauseava.

Ao menos o aroma forte das ervas dentro do casebre aliviaram um pouco a revolta de seu estômago. Mergulhou profundamente em seu trabalho e atendeu a dois idosos naquela manhã. Ao meio dela, Dakota apareceu, só o olhar em seu rosto dizia que havia algo estranho com ele. Provavelmente tinha visto alguns dos espíritos malucos lá fora.

— Belo dia, não é? — Ele perguntou com a voz trêmula e colocou um vaso pequeno com algumas flores sobre a mesa de trabalho.

Hanae olhou para as flores e imediatamente seu humor terrível se dissipou.

— Que flores são essas? — Apontou.

— Oh, são calêndulas. Meu tio me pediu que as trouxesse para você, já que você é... hum... meu amigo? — Isso soou como uma pergunta e Hanae sorriu. Seu primeiro sorriso do dia.

— Claro que é meu amigo. O melhor deles. — Levantou-se do banquinho em que estava sentado em frente ao caldeirão e se aproximou das flores cheirando o aroma único. Tocou suavemente as pétalas alaranjadas e olhou com interesse.

— Meu tio disse que as flores o acalmam e fazem o mesmo para muitas pessoas. Talvez elas sirvam para algo além de apenas ser de enfeite, se é que me entende.

Os Tesouros de Wohali [Romance Gay]Onde histórias criam vida. Descubra agora