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- Por que você não me falou que o seu Jake era o Visconde de Greenwood, pelo amor de Deus?! - Jorge disparou assim que eu entrei, chorando de rir, no meu apartamento. - E por que você está rindo tanto?

- Você não teria acreditado em mim. E eu estou rindo porque Jake me perguntou o queria dizer "caralho", e por que as pessoas sempre gritavam isso quando o reconheciam. - Enxuguei uma lágrima. - Marcelo gritou quase a mesma coisa que você, sabe. Ele esteve aqui antes do Jake, e os dois se esbarraram enquanto eu me despedia do Marcelo.

Meu amigo arregalou os olhos.

- Claro que eu teria acreditado em você, mas...que história é essa do Marcelo também ter vindo hoje? Dia agitado!

- Nem me fale. A minha cabeça parece que vai explodir a qualquer momento. Jake aparecendo sem avisar foi a cereja do bolo.

- O que ele queria?

- Jake? Ou o Marcelo?

- Ambos.

- Marcelo ficou preocupado comigo porque eu saí correndo como uma louca da clínica, e o Jake eu não sei.

- Não sabe? Como assim?

- Pedi a ele um tempo pra organizar as minhas idéias, antes de podermos conversar.

- Aline, eu vou te bater - Jorge me ameaçou. Eu andava de um lado para o outro, gastando os meus tênis e o tapete. - Se um homem lindo daqueles teve o trabalho de descobrir o seu endereço...ele não tinha o seu endereço, não é?

- Não.

- Repetindo, se um homem daqueles teve o trabalho de descobrir o seu endereço e vir até aqui te ver, você não deveria tê-lo dispensado. Nunca.

Sentei na cadeira do lado da do Jorge e procurei, com os olhos, pelo buquê que Jake me trouxera. Encontrei-o sobre a minha mesa de jantar e contive um suspiro.

Rosas vermelhas. Mais clichê, impossível.

- Você agarrou o cara pelas bolas mesmo, hein, princesa? - meu amigo comentou. - E que cara! Ele tem irmãos?

- Não, sinto muito. Ele só tem uma irmã.

- Eu sinto mais ainda. Ele é deslumbrante.

Então percebi:

- Estraguei tudo, não é?

- Quase, mas ainda dá tempo de consertar. Tome um banho, vista uma roupa bem bonita e faça um favor a nós três: corra atrás do Jake. Peça desculpas de joelhos, se for preciso.

- Eu estou com medo, Jorge - admiti, baixinho. - Medo de que o Jake reaja mal à notícia da minha gravidez. Que não queira o bebê, e, consequentemente, a mim.

- Eu não sei como ele vai reagir, Aline, mas sei que você não foi irresponsável sozinha. Também sei que você não está lidando com nenhum moleque, ele tem tem mais de quarenta anos e...nenhum filho?

- Não. A ex esposa não quis deformar o corpo.

- Mais um motivo pra ele querer, pelo menos, ter algum tipo de contato com o meu afilhado. - Jorge olhou para o relógio e levantou-se. - Eu preciso ir, tenho uma aula daqui a quinze minutos. Se o trânsito estiver tão ruim quanto o que eu enfrentei pra chegar aqui, já posso me considerar atrasado.

- Obrigada, meu amor. Eu não sei o que seria de mim sem os seus conselhos.

Dei um abraço apertado no Jorge, o terceiro da tarde. Eu admito, tenho uma coisa com abraços.

- Você não ganha o diploma de melhor amigo gay de uma mulher se não estiver disposto a dar conselhos, sabia?

- Sei agora. Mas, Jorge...e o Marcelo? - perguntei, meio triste. A palavra gay me fizera lembrar dele.

- O que tem ele?

- Estivemos juntos por quase cinco anos. Eu não sei bem como lidar com a homossexualidade dele, nem consigo deixar de me sentir enganada...

- Você sabe que eu não gosto muito do Marcelo, mas, desta vez, vou ter que defendê-lo: duvido muito que ele tenha te enganado. Ele parecia arrasado de verdade quando você quis se divorciar. E quem tem que lidar com a homossexualidade dele é ele e não você, porque vocês estão divorciados.

- Você faz tudo parecer muito simples.

- A vida é simples, princesa. A gente é que complica. - Ele entrou no elevador. Antes das portas se fecharem, gritou: - Nada de calcinha e sutiã bege!

Saí correndo até o meu quarto, sorrindo, e abri o guarda roupa, tentando escolher o que usar. Separei um vestido azul marinho de crepe que ficava pouco acima do joelho, uma bolsa e uma sandália de salto grosso nude. Eu sabia que precisava me vestir bem; o hotel tinha cinco estrelas e era muito provável que Jake estivesse hospedado na maior suíte.

Tomei banho, sequei o cabelo, passei hidratante e fiz uma maquiagem leve, saindo de casa com o coração tão acelerado que eu nem sei como não bati o carro, durante o caminho. O recepcionista me anunciou e eu subi até o último andar com as pernas tremendo, suando mais que chaleira e com o estômago revirado.

Antes que eu pudesse bater na porta, Jake a abriu.

Usando uma toalha na cintura, e nada mais.

Engoli em seco enquanto ele me deixava entrar, tentando desviar os meus olhos das gotas de água que corriam pela barriga perfeitamente esculpida dele. Eu queria secá-las, só não sabia se com a toalha, com a língua, ou com o meu próprio corpo.

- Você está linda, Lynn - ele me elogiou, interrompendo as minhas fantasias molhadas (em todos os sentidos). Então arqueou a sobrancelha, ativando o modo cafajeste que eu tanto gostava, e continuou: - Perdoe-me por recebê-la em trajes tão pouco compatíveis com os seus, mas eu não a esperava hoje. Por outro lado, acho que o problema pode ser resolvido facilmente, se você tirar o vestido.

- Eu vim para podermos conversar, Jake. Por enquanto, o meu vestido fica onde está - repreendi-o, suavemente. - E, se alguém aqui tem que pedir perdão, sou eu. Eu não deveria ter te mandado embora do meu apartamento.

- Você estava bem angustiada, pequena. Eu entendo e posso até vir a te perdoar, se você me contar por que estava daquele jeito.

- Por que você não se seca e veste uma roupa, antes? - sugeri. - Eu te espero na varanda.

Jake saiu e eu analisei cada detalhe do quarto, com calma. O meu apartamento inteiro caberia ali dentro, e eu contei uma, duas, três...oito varandas. Um exagero. O sol se pusera há pouco e não havia muitas nuvens no céu, tornando a lua e as estrelas perfeitamente visíveis tão perto da praia.

Fui até a varanda que eu imaginava ser a maior, porque tinha uma piscina privativa (pois é). Debrucei-me sobre o parapeito e fiquei olhando para as pessoas que passavam pela calçada, até sentir os braços do Jake me envolverem pela cintura.

Ele começou a distribuir beijos suaves pelo meu pescoço. Contive um gemido e reclamei, sem muita convicção:

- Jake...

- Eu sei, você quer conversar. - Ele mordiscou a minha orelha e me imprensou contra o parapeito. - Pode falar, eu estou ouvindo...por enquanto.

Resolvi soltar a bomba de uma vez, antes que a ereção que começava a pressionar o meu traseiro me distraísse:

- Eu estou grávida.

Inevitável (COMPLETO - SEM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora