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Saio do elevador tentando aparentar uma autoconfiança que estou longe, muito longe, de ter. As minhas mãos suam, assim como o resto do meu corpo, e o calor que sinto é tanto que parece que eu estou em Bangu. No verão. Ao meio-dia.


- Você está linda, Lynn - ele fala, sorrindo enquanto os seus olhos me percorrem inteira, indecentemente. Fico sem graça e me aproximo, cumprimentando-o com um beijo no rosto.

O cheiro do perfume dele me envolve, e o roçar da barba por fazer na minha pele me deixa incomodada entre as pernas. Lembro que Jorge costuma usar bastante a expressão "boceta piscando", mas, até este momento, eu nunca tinha entendido muito bem o que significava.

Abro a boca para agradecer o elogio, contudo, as palavras não saem - o que não é nada surpreendente. Ele me deseja feliz aniversário, colocando uma mão nas minhas costas para me conduzir até o estacionamento, e eu percebo, meio aérea, que estamos nos aproximando de um Porsche Cayenne preto (sim, eu gosto de carros também). Ele abre a porta como um perfeito cavalheiro; eu me acomodo no banco de couro, tentando não surtar.

- Como foi o seu dia hoje? - ele quer saber, manobrando o carro.

- Nada interessante. Saí para comprar algumas coisas, atendi telefonemas, andei um pouco pela cidade. E o seu?

- Gravei algumas cenas no estúdio e fizemos duas externas em Bath mesmo, depois do almoço. Amanhã eu só preciso ir trabalhar à tarde, podemos nos estender um pouco mais se você quiser.

Ah, mas eu quero. Quero passar a noite inteira com você e tentar apagar esse fogo que me consome, respondo em pensamento, limitando-me, entretanto, a assentir com a cabeça.

- Jake - chamo-o, mexendo as mãos nervosamente em cima do colo. - Por que você não me conta o que está fazendo hospedado em um hotel? Você mora lá?

- Por Deus, não! - Ele ri e eu constato que a expressão, tipicamente inglesa, combina com ele. - Eu moro aqui perto. Houve um vazamento na minha casa e a cozinha alagou. O empreiteiro pediu uma semana para organizar tudo.

- Você cozinha?

- Não se eu puder evitar. - Ele ri de novo. - E você?

- Eu adoro cozinhar. Me relaxa.

- Eu consigo pensar em várias outras maneiras de relaxar, Lynn. E elas não envolvem panelas.

Sinto o meu rosto esquentar e o vejo aumentar o volume do rádio. Coincidentemente, Romeu e Julieta, a música do Dire Straits que eu mais gosto, está tocando.

- Romeu e Julieta nos perseguem, não? - Jake brinca.

- Sim - falo baixinho, cantarolando em seguida: - Julieta, o dado estava viciado desde o início. Então, eu apostei, e você invadiu o meu coração. E eu esqueço, eu esqueço a canção do filme. Quando você vai perceber que só a hora era errada, Julieta?

- A sua voz é linda. Você é linda, inteligente, gosta de poesia e sabe cozinhar. Você tem algum defeito, Lynn?

Custo a acreditar no que estou ouvindo. Ele me acha linda. E inteligente.

Teria chegado a hora das humilhadas serem exaltadas?

- Muitos, mas eu prefiro que você os descubra sozinho - respondo enigmaticamente.

Ele estaciona e, saindo do carro, abre a porta para que eu também saia. Entramos no pub lotado e meio escuro de mãos dadas, subimos até uma área mais reservada e Jake chama o garçom, pedindo uma cerveja. Peço um espumante, que é uma das poucas bebidas alcoólicas que eu tolero.

Na verdade eu nem gosto de beber, mas estou precisando de coragem líquida. O quanto antes.

Uma música toca no volume certo para não atrapalhar as conversas, o que é muito baixo para dançar. Coldplay, reconheço. A Sky Full Of Stars. Sento no sofá mais próximo e cruzo as pernas com uma certa dificuldade por causa da saia muito justa, balançando o pé no ritmo da música enquanto a voz de Chris Martin ecoa nos meus ouvidos: eu não me importo, vá em frente e me despedace. Eu não me importo que você o faça.

Talvez alguém lá em cima esteja mandando um aviso de que as coisas  não vão acabar bem entre nós, mas eu decido ignorar. Eu não me importo; só quero o Jake, mesmo que seja por apenas uma noite. Mesmo que ele me despedace.

O espumante chega e eu dou um gole. Observo o meu acompanhante, que parece distraído, e o fantasma da friendzone volta a me assombrar, com força. Suspiro alto.

- Você gosta de sinuca? - pergunto, apontando para uma mesa vazia que acabei de ver em um canto do bar.

- Eu não jogo há algum tempo, mas gosto. Você quer jogar? Sério? - Ele parece surpreso.

- Por que não? Mulheres também jogam. - E pelo menos o tempo vai passar mais rápido, se nada for acontecer entre a gente.

- As que eu conheço, não.

- Tenho certeza que eu não sou como as mulheres com quem você convive, Jake. Eu como, por exemplo. E não me sinto culpada.

- Também não fala de dieta o tempo todo, e joga sinuca. Continuo sem achar defeitos em você.

O meu coração dá um triplo twist carpado dentro do peito e eu o sigo até a mesa, pegando um taco. Organizo as bolas e começo o jogo, me debruçando devagar sobre a mesa. Empino bem a bunda antes de dar a tacada, decidida a aproveitar a chance de mantê-lo atento a mim.

Bebo mais umas três taças de espumante e estou bem alegrinha quando terminamos, mais ou menos uma hora depois. Apesar de eu tê-lo flagrado olhando o meu decote várias vezes durante a partida, Jake falou muito pouco - o que faz com que eu resolva dar a minha tacada final:

- Parabéns, Jake, você ganhou - falo, me aproximando com os olhos bem fixos nos dele. - O perdedor tem que beijar o ganhador, não? Ou é o contrário?

Quando dou por mim, estou sendo amassada contra a mesa de sinuca. O ator não me beija, ele me devora, dando mordidinhas nos meus lábios de vez em quando e gemendo. Eu também gemo, prestes a entrar em combustão de tanto calor que estou sentindo.

Eu estaria no inferno? Se eu estivesse, bem...Jake só poderia ser o capeta.

E o capeta tem uma puta ereção.

-

Meta do dia: liberar mais um ainda hoje. Será que eu consigo?

Bom sábado e me digam o que vocês estão achando da história! Dani.

Inevitável (COMPLETO - SEM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora