Acabamos chegando na casa da minha irmã com uma hora de atraso, graças à insistência do Jake em tomar banho comigo. Uma coisa era certa: a minha mãe iria me matar. Pelo atraso e pelo cabelo molhado.
- Tia Aline, você trouxe o meu bolo! Que lindo! - o aniversariante gritou, me dando um abraço apertado. - Obrigado!
- Por nada, meu amor. Por que você não cumprimenta o meu namorado? Em inglês, porque ele é da Inglaterra e não sabe falar português.
- Oi, tudo bem? O meu nome é Leonardo - meu sobrinho falou, timidamente. - Eu tenho seis anos.
- Prazer em conhecer você, Leonardo. O meu nome é Jake - ele respondeu, entregando-me o bolo que carregava e ficando de joelhos para poder ficar da mesma altura que Leo. Observei-os apertarem as mãos, encantada.
Jake seria um ótimo tio. E um ótimo pai também, eu imaginava.
- Aline, você chegou. Finalmente - ouvi a minha mãe falar. O tom de censura estourou a minha bolha de encantamento.
- Oi pra você também, mamãe. O bolo demorou um pouco pra ficar pronto, e você sabe que eu não gosto de fazê-lo na véspera. Fica ressecado.
- Sei. Você não vai nos apresentar?
- Claro que sim, Dona Luísa! Jake Williams, Luísa Costa. Minha mãe.
- É um prazer conhecê-la, Sra. Costa. Eu não sabia que a Aline tinha uma mãe tão jovem - ele gracejou. Vi a minha mãe corar até a raiz dos cabelos platinados, o que me divertiu mais do que deveria.
- Obrigada, Jake, mas você pode me chamar de Luísa - ela respondeu, em inglês, recompondo-se. - Querida, por que você não entrega o bolo à sua irmã? Eu vou apresentando o seu namorado à nossa família. Ah, e aproveite para secar o cabelo também.
Ignorei solenemente a segunda censura do dia e marchei até a cozinha impecável da casa da minha irmã mais velha, Viviane. De nós três, ela era a mais parecida com mamãe: loira, alta, magra, bonita, bem sucedida...e terrivelmente exigente quanto a tudo e todos, inclusive ela mesma. Talvez fôssemos mais próximas se ela não tentasse, tão desesperadamente, agradar Dona Luísa.
Fato, eu me sentia mais à vontade com Cris, a cópia da minha mãe que era menos exigente e não platinava os cabelos loiro escuros.
- Que bolo lindo, Aline! - Vivi elogiou, com um sorriso que mostrava os dentes, como não poderiam deixar de ser, perfeitos. - Você poderia colocá-lo sobre a mesa da sala?
Assenti, balançando a minha cabeça, e acomodei o bolo na mesa. Vivi se aproximou de mim e me deu um beijo no rosto.
- Nós não nos víamos há algum tempo, mas eu tenho que te dizer: você está linda. Radiante, mesmo. E eu preciso conhecer o seu namorado. - Ela olhou para a área externa da casa. - Onde ele está?
Procurei pelo Jake com os olhos e o vi próximo à piscina, conversando com a minha mãe e um dos meus tios. Ele percebeu que estava sendo observado e levantou o copo de cerveja que segurava, sorrindo para mim.
Meu Deus, como ele ficava lindo de camisa polo e bermuda! O meu coração falhou uma batida, e eu me chateei porque achei que não aconteceria mais. Quando eu me curaria daquilo? Aliás, haveria cura?
- É ele? - Vivi arregalou os olhos. - Você arrasou, hein, minha irmã? Eu acho que nunca vi, pessoalmente, um homem tão bonito.
- Quem? - Cristiana, minha outra irmã, quis saber. Apontei para o Jake e vi os olhos dela se arregalarem tanto quanto os de Vivi, há pouco. - Que gato! É o seu namorado, Aline?
- É, sim - respondi, ainda meio amuada. - Eu vou trazê-lo aqui e apresentar a vocês.
- Ele com certeza está precisando ser salvo da Mamãe e do Tio Jonas - Cris comentou, rindo. - Ninguém merece aguentar os dois juntos.
Deixei as minhas irmãs na sala e fui até a beira da piscina, resgatar o Jake. O percurso foi um pouco mais demorado do que eu pretendia, porque sempre aparecia alguém para perguntar sobre a bendita foto.
- Oi, Tio Jonas. - Cumprimentei-o com um beijo no rosto. - Oi de novo, Mamãe. Vocês não se importam se eu roubar o meu namorado um pouco, não é? As minhas irmãs querem conhecê-lo.
Minha mãe abriu a boca, provavelmente para protestar, e eu a interrompi:
- Eu sei, ele tem que ser apresentado para o resto da família também. E eu vou fazê-lo assim que ele comer alguma coisa, prometo.
Saí puxando o Jake e parei em frente à churrasqueira enquanto fazia gestos para chamar as minhas irmãs. O marido de Cris, que fazia o churrasco naquele dia, apresentou-se e ofereceu um pedaço de picanha mal passada para o meu namorado.
- Você não pode vir a um churrasco, no Brasil, e não comer picanha - meu cunhado decretou. - A não ser que você seja vegetariano.
- Ele não é - retruquei. - Por que você não experimenta, Jake? O gosto é ainda melhor do que a aparência.
Ele colocou um pedacinho na boca, receoso, e mastigou devagar. Acabou passando a tarde comendo picanha, bebendo cerveja e conversando (ou tentando conversar) com os meus tios e primos. Quanto à minha tarde, bem...digamos que, se eu ganhasse um real por cada olhada dada para o Jake, estaria rica.
Eu cobraria da próxima vez, estava resolvido.
Cortei o bolo ainda sorrindo da minha capacidade de fazer piadas com o meu próprio infortúnio, e separei um pedaço para dividir com o Jake. Ele estava sentado à mesa, conversando com alguns dos meus primos, e eu me acomodei do lado dele com o prato de bolo nas mãos.
Meu namorado parou de falar e ficou me olhando comer, estreitando os olhos escuros de uma maneira que me era muito familiar. Passei a língua pelos meus lábios, provocantemente...e o celular dele tocou, quase me ensurdecendo. Ele olhou para a tela e levantou da mesa, afastando-se um pouco.
Fiquei olhando, o mais disfarçadamente que consegui, enquanto ele atendia a ligação. Jake falou pouco e gesticulou muito, fazendo eu me perguntar se ele estava irritado; depois voltou para a mesa
- Algum problema? - perguntei, sem conseguir conter a minha curiosidade.
- Não, meu amor. Está tudo bem, eu só estou cansado. Podemos ir embora?
- Podemos, sim. Eu só preciso me despedir da minha mãe e das minhas irmãs.
Dei um beijo em cada uma, prometendo vê-las em breve, e falei rapidamente com os meu, sei lá, cinquenta parentes, o que demorou um pouco. Muitos elogios para o meu namorado depois, eu estava pronta para ir. Jake e eu seguimos até o carro em silêncio, e assim permanecemos durante todo o trajeto. Ele porque estava ensimesmado. E eu porque especulava, incessantemente, quem teria ligado e o porquê.
Entramos no meu apartamento e ele me beijou, desesperado como se não nos tocássemos há dias. Fechei os olhos e me deixei levar, perdendo a conta do número de vezes que nos amamos. Adormeci de pura exaustão.
Quando a minha bexiga me acordou, durante a madrugada, ele não estava mais do meu lado. Vesti a primeira peça de roupa que encontrei largada pelo chão (a camisa polo dele) e saí para procurá-lo. Ele estava sentado na sala, os cotovelos apoiados sobre o joelho, o rosto muito pouco visível na escuridão.
- Sem sono, meu amor? - eu o inquiri.
- Sim. Eu tenho insônia, às vezes. Acordei você?
- Não. A minha bexiga me acordou - respondi, com um sorriso que ele, obviamente, não viu. - Jake, alguma coisa está incomodando você? Porque você não me conta?
Ouvi-o respirar fundo, criando coragem para falar.
- Hoje à tarde, aquela ligação...era da Petra.
- Certo. - Sentei no sofá e segurei as mãos dele, geladas, entre as minhas. - E o que ela queria?
- Dizer que está grávida. E o bebê é meu.
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Inevitável (COMPLETO - SEM REVISÃO)
Roman d'amourRecém divorciada, Aline acredita que, se o amor existe, nunca a encontrou. Acima do peso e com quase 36 anos, ela entra em um avião e vai para Londres passar o aniversário sozinha, porque adora Shakespeare, Jane Austen...e um certo ator britânico de...