Quem diria que, três meses depois de eu ter deixado a Inglaterra, eu e Jake estaríamos juntos em uma varanda iluminada pelas estrelas de Copacabana? E que ele pareceria mais bonito do que nunca, usando apenas uma calça de moletom?
Eu respondo: ninguém.
Eu só lamentava que ele também parecesse, além de bonito, irritado. Praticamente na mesma proporção.
- O filho é meu? - ele perguntou, os olhos negros fixos nos meus.
- É...é, sim - gaguejei, já pressentindo o pé na bunda que levaria. - Se você quiser, podemos fazer um teste de paternidade.
- Eu sei que nós não nos conhecemos há muito tempo, Lynn, mas confio em você. Eu só... - Ele fez uma pausa e respirou fundo. - Eu só preciso saber se você pretendia me contar.
- Claro que sim, Jake. - Eu só não sabia como, completei em pensamento. - Eu realmente não tive tempo para planejar nada, sequer desconfiava que estava grávida até ontem. Mas o bebê e eu estamos bem, fiz uma ultrassonografia hoje e ele está com quase doze semanas.
- Ele?
- Sim, ele. Marcelo acha que é um menino.
- E você poderia me explicar o que o Marcelo tem a ver com o nosso filho?
Para tudo, nosso filho?!
Talvez o pé na bunda não rolasse.
E por que a simples menção do nome do Marcelo fizera Jake passar de preocupado a irritado (de novo)? Seria ciúme?
Eu duvidava bastante. Jake não devia padecer do mal da insegurança como nós, pobres mortais.
- Marcelo é obstetra - lembrei-o. - Ele fez a ultrassonografia.
- E foi levar o laudo na sua casa, depois? Eu não sabia que a medicina no Rio de Janeiro era tão personalizada - ele rosnou, o acento britânico ainda mais evidente.
Puta que pariu, era ciúme mesmo. E não deixava de ser irônico que fosse por causa do Marcelo, que me trocaria por ele em um piscar de olhos.
- Eu e o Marcelo estamos divorciados e não há a menor chance de voltarmos, Jake. Creia - tranquilizei-o, enfatizando bem a última palavra. - Marcelo é gay, ele mesmo me disse, hoje. Ele foi até o meu apartamento porque queria saber como eu estava, depois de ter recebido a notícia. Acho que não reagi muito bem.
Os meus olhos percorriam o corpo do Jake, devagar, enquanto eu falava. Eu só queria terminar a conversa o quanto antes e arrancar a pouca roupa que ele usava, porque aquele ciúme todo tinha me deixado excitada.
Malditos hormônios que me faziam perder o pouco juízo que eu ainda tinha.
Jake me abraçou e colocou o queixo em cima da minha cabeça. Ed Sheeran cantava Perfect, baixinho, e eu, na minha afobação, nem percebera.
Amor, eu estou dançando no escuro
Com você entre meus braços
Descalços na grama
Ouvindo nossa música favorita
Quando você disse que estava feia
Eu sussurrei bem baixinho
Mas você ouviu
Querida, você está perfeita esta noite- Eu sinto muito por você estar triste por causa do seu ex marido, Lynn - Jake sussurrou, movimentando-nos no ritmo da música. - Mas eu não lamento por ele ser gay. Porque você está mesmo perfeita esta noite, e é só minha.
- Você acertou na música. Eu adoro o Ed Sheeran.
- Eu sei, você tem uma queda por ingleses. - Ele sorriu. - Por Deus, senti a sua falta!
- Eu também - murmurei.
- E por que você não quis ter nenhum tipo de contato comigo?
- Porque eu nunca achei que pudéssemos ter nada além de uma noite. Homens como você não namoram mulheres como eu, você sabe.
- Mulheres como você?
- Sim. Eu sou absolutamente comum. E jamais serei magra - expliquei, envergonhada.
- O que você jamais será, minha pequena, é comum. Você é extraordinária, e eu e o meu pau adoramos as suas curvas - Jake afirmou, erguendo o meu queixo delicadamente. - Você me enfeitiçou, de corpo e alma.
Enquanto eu pensava na frase de Orgulho e Preconceito - que, para ser mais exata, fazia parte da segunda declaração do Senhor Darcy para Elizabeth - o inglês me beijou, exatamente como estaria escrito no roteiro, se houvesse um: mocinho se declara e beija a mocinha. Apesar de duvidar que estivéssemos na idade de nos enquadrarmos nas descrições de mocinho e mocinha, eu admitia que o ímpeto do Jake era praticamente adolescente; ele tinha conseguido, sem parar de me beijar, tirar o meu vestido e me deitar em uma espreguiçadeira.
Abri um olho para checar se a minha roupa estava boiando na piscina. E, se vocês quiserem saber por que diabos eu estava preocupada com o meu vestido, tendo um homem daqueles prestes a entrar na minha calcinha, eu explico.
Tinha uma pulga atrás da minha orelha, desconcentrando-me da pegação, por assim dizer. E a pulga não parava de me perguntar sobre o final da declaração do Senhor Darcy, que, completa, era a seguinte: você me enfeitiçou, de corpo e alma. E eu amo, amo, amo você.
Jake tinha omitido a parte do amor. E eu a queria, mesmo que ainda fosse muito cedo para ela.
Sim, eu sou muito complicada. Eu sei.
- Pensa demais, também. E fala em momentos muito impróprios - Jake completou, sorrindo. Percebi que, mais uma vez, a falta de filtro entre a minha língua e o meu cérebro tinha resolvido me atrapalhar. - Por que não terminamos lá dentro? Ou no seu apartamento, se você preferir.
- No meu apartamento? Por quê?
- Por que eu vou me mudar para lá o quanto antes. Nós precisamos nos conhecer melhor, antes do casamento.
- Casamento?! - Arregalei os olhos. - E nós vamos nos casar?! Você por acaso me pediu enquanto eu estava distraída e eu disse sim?!
- Na verdade, não. - Ele sorriu e se ajoelhou diante de mim. - Aline Costa, você quer se casar comigo?
Aquele pedido de casamento devia ser o mais estranho de todos os tempos. Eu estava de calcinha e sutiã (pretos e rendados, vale a pena ressaltar), e Jake ainda usava a mesma calça de moletom. Não houve anel e nem menção à palavra amor. E o som do meu nome completo nos lábios dele, bem...era engraçado. Hilário, eu diria.
Abri a minha boca, então, e dei a única resposta possível:
- Sinto muito, Jake, mas não. Eu não quero.
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Inevitável (COMPLETO - SEM REVISÃO)
RomansaRecém divorciada, Aline acredita que, se o amor existe, nunca a encontrou. Acima do peso e com quase 36 anos, ela entra em um avião e vai para Londres passar o aniversário sozinha, porque adora Shakespeare, Jane Austen...e um certo ator britânico de...