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- Aline - Jorge me chamou, parecendo confuso. - É pra eu te parabenizar ou não?

- Claro que é - respondi imediatamente, me deixando ser abraçada. - Um bebê é uma benção.

Eu nunca tinha parado para pensar na possibilidade de ser mãe solteira, confesso. Na minha primeira gravidez eu estava casada, e antes eu não tinha muito interesse na maternidade, mas...como não ficar feliz? Eu tinha 36 anos, uma família maravilhosa que me daria suporte e não ganhava mal. O pedacinho do Jake que estava por vir seria muito bem vindo.

Imaginei um bebê branquinho, de olhos e cabelos bem escuros como os do pai. Um menino. O meu coração se inundou de amor e, instintivamente, eu pousei as duas mãos na minha barriga ainda pouco perceptível.

Aquele bebê seria muito amado. Eu daria a minha vida por ele.

- Eu vou indo, amiga. Estou vendo que você tem muito no que pensar. Cuida bem da minha afilhada, hein! - meu amigo beijou o meu rosto.

- Afilhada? - perguntei, abrindo a porta do meu apartamento.

- E você vai escolher outra pessoa para o posto, por acaso? - Balancei a cabeça de um lado para o outro. - Eu sei, você não se atreveria. E vai ser uma menina. Eu não vou saber comprar coisas pra ela, mas a acompanharei até o shopping pra pagar a conta e carregar as sacolas.

Não pude deixar de sorrir ao imaginar a cena. Realmente, eu nunca pensaria em outra pessoa para apadrinhar um filho meu, até porque eu não tinha muitos outros amigos. Não que eu não fosse uma pessoa sociável, apesar de tímida; eu o era. Mas, desde que eu podia me lembrar, eu e Jorge vivíamos grudados. A gente se bastava.

- É um menino, Jorge. Você vai saber comprar as coisas, sim, e ele será o bebê mais estiloso do berçário.

Jorge se despediu de mim com um aceno e eu liguei para Cris, minha irmã, dando uma desculpa qualquer para saber o nome da obstetra que a tinha acompanhado. Marcelo costumava ser o meu obstetra, mas, por motivos óbvios, eu preferia mudar de médico.

Agendei uma ultrassonografia para o dia seguinte, quase implorando para a recepcionista da clínica me encaixar no primeiro horário disponível. Eu estava com 11 semanas de gravidez, e mais do que atrasada para o início das consultas. A médica estava marcada para dali a uma semana, e eu sabia que ela iria querer ver o exame para checar se tudo estava bem com o meu pequeno.

Quase não dormi à noite, porque a minha mente não parava de trabalhar. O que a minha mãe e as minhas irmãs achariam? O bebê estaria bem? Ele (ou ela) se pareceria mesmo com o pai? E falando no pai do bebê, eu conseguiria falar com o Jake? Como e quando? Se eu conseguisse, o que ele iria dizer e fazer?

Talvez ele quisesse ver o filho, às vezes, e poderíamos passar as férias juntos na Inglaterra. Eu, ele, o bebê...e a Petra.

Pois é. A Petra. Obviamente, eles estavam juntos de novo, e ela seria madrasta do meu filho - ou não. Eu também poderia optar por não entrar em contato com o Jake.

Por mais que a opção de não contar nada soasse tentadora e infinitamente menos complicada, eu sentia que devia isso aos dois. Se o Jake não quisesse participar da criação do filho, seria por escolha dele e não porque eu não avisei sobre a gravidez.

Eu usaria um advogado de Londres para comunicá-lo, decidi, enquanto esperava a minha vez de fazer a ultrassonografia. E deixaria bem claro que não estava exigindo nenhuma pensão. Se ele fizesse questão de pagar, eu obviamente aceitaria, porque criar uma criança no Brasil custava caro e...

- Dona Aline - a recepcionista me chamou, tocando no meu ombro. - Doutor Marcelo está à sua espera. Eu a chamei algumas vezes, mas a senhora não ouviu. A sala fica na segunda porta à esquerda.

Pedi desculpas, um pouco envergonhada, e me levantei, atraindo os olhares dos outros casais da sala de espera. Percebi que todas as gestantes estavam acompanhadas, menos eu. Paciência. Eu traria o Jorge na próxima vez, ele ia adorar que achassem que ele era o pai do bebê.

Bati na porta da sala indicada e a abri devagar. Descobri, então, que o Doutor Marcelo que faria a ultrassonografia era ninguém mais, ninguém menos que o meu falecido, digo, ex marido.

Eu nem sabia que trabalhava naquela clínica. Em uma cidade do tamanho do Rio de Janeiro, qual era a probabilidade de algo assim acontecer?

Puta merda...

- Oi, Aline - Marcelo me cumprimentou, tranquilamente. - Você emagreceu.

- Oi, Marcelo. Obrigada - murmurei, paralisada na soleira da porta. Olhei para o chão, meio sem jeito, pensando se desistia ou entrava de uma vez.

- Eu posso pedir pra outra pessoa vir fazer o exame, se você não se sentir confortável comigo - ele sugeriu. Respondi que não seria necessário e entrei, deitando na maca e enrolando a blusa abaixo dos meus seios.

A assistente dele entrou em seguida e baixou um pouco mais a minha calça, entregando algumas toalhas de papel. Senti o friozinho do gel na minha barriga e estremeci.

- Adriana, você poderia trazer uma manta para a paciente, por favor? Ela está com frio. - Marcelo pediu à assistente. Ouvi a porta da sala sendo aberta e ele começou a deslizar o transdutor pelo meu abdome. - Então, você sabe com quantas semanas está?

- Onze. Quase doze.

- Certo. - Eu o ouvi respirar fundo, mexendo em alguns botões do aparelho. O som do coração batendo se espalhou pelo ambiente e uma imagem começou a se definir na tela. Entre várias nuances de branco e preto, estava o perfil bem definido do meu bebê. - Primeira ultrassonografia?

Fiz que sim com a cabeça, os olhos cheios de lágrimas. Marcelo sorriu.

- O coração está batendo bem e ele ou ela não tem nenhuma malformação, à primeira vista. As medidas realmente parecem ser compatíveis com onze semanas de vida. - Ele mostrou alguns pontos na imagem. - Todos os dedos dos pés e das mãos estão aí. O ossinho do nariz está bem formado, mas eu diria que o nariz não vai ser pequeno como o seu. Acho que vai ter o nariz do pai.

O clima dentro da sala ficou um pouco pesado, mas Marcelo continuou descrevendo para mim o que estava vendo. A medida da translucência nucal estava dentro do esperado, o que queria dizer que o bebê não tinha síndrome de Down. Tamanho e peso normais para a idade gestacional.

- Você quer saber se é menino ou menina? Com 11 semanas, consigo te dar quase certeza.

- Quero. Quero, sim.

Ele estreitou um pouco os olhos e apontou para um lugar no meio do que seriam as pernas do bebê.

- É um menino.

Inevitável (COMPLETO - SEM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora