- Por quê? - Jake quis saber, com um bocejo. - O que aconteceu, exatamente?
- Alguém tirou uma foto nossa caminhando na orla e jogou na internet. A minha mãe está furiosa comigo porque eu não contei nada a ela, e a minha família toda já está sabendo do nosso namoro.
- E você está fodida por causa da sua mãe?
- Não, Jake. Se a minha mãe e a minha família estão sabendo, muito mais gente deve saber também. Talvez o meu nome já esteja até rolando pelos sites...
Misericórdia, eu tinha que deletar as minhas redes sociais. Que Deus me livrasse de mostrarem fotos minhas naqueles programas de fofoca que passavam na TV, à tarde!
Peguei o celular e abri o meu Facebook, com o coração acelerado. Algumas mensagens, onze solicitações de amizade. Pelo menos só os meus amigos tinham acesso às minhas postagens, mas, considerando que eu tinha quase mil, não seria muito difícil, para os jornalistas, conseguirem descobrir o que quer que fosse sobre mim.
- Você vai deletar o seu Facebook, pequena?
- Vou. Vou, sim. Eu não quero desconhecidos fuçando a minha vida.
Facebook deletado, decidi passar à próxima rede social: o Instagram. Vinte solicitações para me seguir, um monte de directs. Vi que alguns amigos tinham comentado na última foto que eu postara, com o meu sobrinho, e decidi ler tudo.
"Que história é essa de que você está namorando o Jake Williams, amiga? Sortuda dos infernos!"
"Que Deus grego é aquele, Aline? Ele tem um irmão que você possa me apresentar?"
"Primaaaa, super feliz por você! Você merece toda a felicidade do mundo."
Uma conhecida havia deixado o link da matéria que gerara todo aquele caos em um dos comentários, e eu entrei no site sem pestanejar. Na capa, lá estavam eu, Jake e todas as minhas gordurinhas bem evidenciadas pelo macacão justo. O título: Ator inglês passeia com desconhecida pela orla de Copacabana.
- O que tem escrito aí? - Jake, que tinha se mantido do meu lado o tempo todo sem falar nada, perguntou. Traduzi rapidamente e cliquei na foto para ver a notícia completa.
Jake Williams, 41 anos, ator inglês conhecido pelo seu trabalho em séries de época, foi flagrado hoje à tarde de mãos dadas com uma desconhecida, passeando pela orla de Copacabana.
Desconhecida. Tudo estava bem. Provavelmente alguém próximo tinha me reconhecido e espalhado para os amigos, só isso.
A matéria continuava:
Queremos muito saber quem é a sortuda que fisgou o coração do nosso Visconde de Greenwood e se ela é brasileira! Por enquanto, tudo o que sabemos é que, definitivamente, há romance no ar.
Li o resto para o Jake e fiz um movimento na tela para abrir os comentários. Tinham trinta.
- Lynn, você tem certeza de que quer ler os comentários? Pode haver algo não muito agradável - ele ponderou.
- Eu preciso saber se alguém deu alguma informação sobre mim, Jake - respondi, correndo o meu dedo sobre o celular. Não demorei muito para perceber que ninguém havia escrito sobre a minha identidade. Só sobre a minha aparência.
Umas cinco pessoas, talvez, não tinham me atacado. As outras me chamavam de feia, gorda e coisas do tipo.
O meu comentário favorito - só que não -, mandava a baleia (eu) voltar para o mar. Juro que me deu vontade de responder que, se alguém deveria voltar para algum lugar, deveria ser essa pessoa para o jardim de infância. O nível do xingamento era o mesmo de uma criança de 5 anos.
Pisquei os olhos com força, tentando não chorar. Aquilo era demais até para quem tinha sido gorda e sofrido bullying a vida toda.
- Deixa eu adivinhar...atacaram você? - Fiz que sim com a cabeça, sentindo as lágrimas correrem pelo meu rosto. Meu namorado me envolveu nos braços e me levou para mais perto dele. - Eu sinto muito, meu amor. Também ofendiam a Petra quando saía alguma coisa sobre a gente.
- Eu imagino. E o que as pessoas diziam? Que ela era tão bonita que não parecia ser de verdade? Ou que ela era muito loira? - Opa, espera aí... - Do que você me chamou, mesmo?
- Comentavam que ela estava muito magra e que, certamente, não comia há dias. Que os ossos apareciam demais. Coisas assim. - Ele suspirou. - E eu te chamei de meu amor, porque é o que você é. Eu te amo, Aline.
- Mas eu sou gorda. E não tenho nada a ver com a Petra ou com a sua ex mulher - deixei escapar, sem pensar muito.
- Eu não poderia ligar menos para o seu peso. E, realmente, você é muito, muito diferente da Petra e da Ella, e é por isso que eu te amo tanto. - Jake plantou um beijo suave nos meus lábios. - Tenho certeza de que você é capaz de lidar com paparazzi, haters e qualquer outra coisa que apareça...basta você querer mesmo ficar comigo.
Caramba, ele sempre conseguia se superar na fofura e me fazer amá-lo ainda mais. Abri a boca para retribuir o eu te amo e dizer que queria muito ficar com ele, mas um arrepio percorreu o meu corpo inteiro e eu emudeci. Sabem aquele mau pressentimento? Ele ainda estava lá, como uma guilhotina que pendia sobre o meu pescoço.
Eu precisava me ocupar urgentemente. Um bolo! Eu precisava fazer um. Saí da cama dando uma desculpa qualquer para o Jake e corri até a cozinha, abrindo os armários e pegando os ingredientes e a batedeira.
Coloquei o açúcar e a manteiga para bater e catei um iogurte na geladeira. Dei algumas colheradas enquanto olhava a batedeira trabalhar e calculava, mentalmente, a quantidade de chocolate que eu teria que derreter para a cobertura.
Eu só lamentava que aquele bolo tivesse que ser tão grande, porque eu adoraria batê-lo na mão para exorcizar os meus problemas.
- Você tem mesmo que fazer o bolo, pequena? Não podemos comprá-lo pronto? - Jake resmungou.
- Meus sobrinhos amam o meu bolo de brigadeiro belga. Eles dizem que é o melhor bolo de chocolate do mundo.
- Eu vou comer um pedacinho, então, para comprovar.
- Só um pedacinho?
- Eu não posso engordar, Lynn, você já viu como as roupas que eu uso na série são justas? E eu engordo com muita facilidade, pode acreditar em mim.
Senti um pouco de pena do Jake; eu nem imaginava como seria viver sem comer doces. Gordinha desde sempre, eu costumava brincar que tinha passado metade da minha vida fazendo dieta e a outra metade fugindo dela, e os doces eram a minha fuga favorita.
Parti os chocolates em pedaços menores e depositei-os na panela, para derreterem em banho maria. Terminei de misturar os ingredientes do bolo, em seguida, e despejei a mistura nas formas, levando ao forno pré-aquecido. Meu namorado bebia um copo de suco de laranja, apoiado no balcão, e observava cada movimento meu.
- O nosso filho vai ter a mãe que faz os melhores bolos da escola - ele brincou. - Aliás, você pensou em algum nome para ele?
- Na verdade, eu pensei - respondi, juntando chocolate derretido e creme de leite para fazer a cobertura. - Queria que ele se chamasse Thomas, como o seu pai.
Jake me deu um abraço apertado e me encarou, os olhos marejados.
- Obrigado, meu amor. Você não sabe o quanto me deixou feliz, agora.
Senti os meus olhos se encherem de lágrimas, também, e enlacei o pescoço dele com os meus braços.
- Eu sempre vou tentar fazer você feliz, Jake. É uma promessa.
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Inevitável (COMPLETO - SEM REVISÃO)
RomanceRecém divorciada, Aline acredita que, se o amor existe, nunca a encontrou. Acima do peso e com quase 36 anos, ela entra em um avião e vai para Londres passar o aniversário sozinha, porque adora Shakespeare, Jane Austen...e um certo ator britânico de...