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Tento apagar o meu fogo tomando um banho de chuveiro ártico (ou antártico) de tão gelado, o que não funciona. Saio do box batendo o queixo de frio e me enrolo na toalha fofa e imaculadamente branca do hotel, lembrando das palavras do Jorge enquanto visto a calcinha e o sutiã - simples e beges. Eu até tenho lingeries mais bonitas e de outras cores, juro, mas não pensei em trazê-las.

Ouço uma batida enquanto penteio o cabelo e coloco um roupão também imaculadamente branco, abrindo uma parte pequena da porta. Jake está do outro lado.

- Posso entrar?

- Claro - respondo, escancarando a porta e respirando fundo. - Aconteceu alguma coisa?

Ele entra no quarto, fecha a porta e se aproxima de mim devagar, sem tirar os olhos dos meus por um segundo sequer. Como um predador cercando a presa, eu penso. Ou, ainda, como o Visconde acuando uma debutante.

A diferença é que esta presa (ou debutante) aqui não quer escapar.

- Aconteceu, Lynn. Você aconteceu - ele murmura sensualmente, vindo para cima de mim. Em um piscar de olhos me vejo presa contra a parede, cada centímetro do meu corpo em contato com o dele.

Jake me encara por um momento, parecendo querer gravar cada detalhe do meu rosto na memória; eu não consigo respirar. Então, ele aproxima o rosto do meu e me beija. Bem lentamente, a princípio, apenas um roçar de lábios. Depois ele entreabre a minha boca com a língua e começa a explorar cada pedacinho, com perícia.
Fecho os olhos, me entregando às sensações que ele me desperta.

Gemo baixinho à medida em que o beijo se torna mais ousado. Começo a me esfregar nele, louca de tesão, e, sentindo-o duro, comemoro internamente a minha saída da friendzone.

O ator para de beijar a minha boca e passa a lamber e morder o meu pescoço de leve, me provocando arrepios por causa da barba. Ele se afasta um pouco para abrir o meu roupão, e, depois de olhar o meu corpo com um sorriso sacana, fala no meu ouvido:

- Eu não me importo com a lingerie bege, você é gostosa pra caralho, Aline!

Espera...Aline?

Ele não me chama de Aline.

Ou fala em português, como eu acabei de perceber que ele estava falando...

Ouço o toque do meu celular e abro os olhos, confirmando a minha suspeita de que eu estava sonhando. Levanto da cama, frustradíssima, e atendo a ligação.

- Parabéns, minha caçulinha! Eu nem acredito que você já é uma mulher de 36 anos... - ouço a minha mãe dizer, rindo. - Como estão as coisas por aí, meu amor?

- Tá tudo bem, mãe. Obrigada por ligar.

- Pelo tom de voz e mal humor, sentindo que acordei você. São quase onze da manhã em Londres, Aline...você não vai sair?

- Perdi a hora, mas vou daqui a pouco.

- Tudo bem, então. Só queria dizer que te amo e desejar todas as coisas lindas do mundo. O seu presente vai estar te esperando quando você chegar no Rio. Um beijo, filha. Aproveite o seu dia!

- Um beijo, mãe. Vou aproveitar, acredite.

Encerro a chamada com vontade de dar um grito de tanta frustração. Será que nem nos sonhos eu consigo me dar bem, Brasil?! Agora eu estou molhada e com calor. Muito calor.

Talvez um banho ártico daqueles do meu sonho resolva o problema.

Estou me secando quando ouço uma batida. Coloco o roupão que está pendurado no banheiro, passo o pente no cabelo freneticamente e voo até a porta, escancarando-a.

Quase infarto por nada, porque não é Jake. É um dos funcionários do hotel.

- Feliz aniversário, Senhorita Costa! - ele deseja, me entregando uma caixa da Godiva e saindo em seguida.

Sento na cama e abro a caixa, encontrando alguns morangos cobertos cobertos de chocolate e um cartão branco. Nele, há um número de telefone manuscrito de um lado e, do outro, a assinatura do Jake. A letra dele, aliás, é horrível.

Adiciono o número nos contatos do meu celular e mando um "obrigada pelo presente" pelo WhatsApp, recebendo um "não tem de quê" como resposta. Pego um morango e mordo, abrindo o Google decidida a encontrar um salão de beleza nos arredores. Alguns minutos depois, visto uma roupa qualquer e um casaco e deixo o quarto.

Primeira parada: loja de lingerie.

Chego no salão com um sutiã e um caleçon pretos de renda novinhos na sacola e, sem pensar na fatura do cartão de crédito (em libras, Jesus!), peço que me façam limpeza de pele, hidratação nos cabelos e no corpo, manicure, pedicure, depilação, maquiagem e penteado. No fim de tudo, me olho no espelho e quase não me reconheço.

Eu estou deslumbrante, modéstia à parte. E só levou umas seis horas.

Volto praticamente flutuando para o hotel, de tão feliz que eu me sinto. Tomo um banho rápido - ártico, para não perder o costume - e coloco o caleçon preto e o vestido da mesma cor. Eu usei uma roupa que marcasse tanto o meu corpo, e estou me sentindo meio desconfortável.

Coragem, Aline, penso, calçando um par de sandálias pretas de tiras finas. Escovo os dentes com cuidado para não estragar a maquiagem, retoco o batom, borrifo uma quantidade razoável do meu perfume favorito no pescoço e nos pulsos. Ainda são oito e meia. Falta mais de uma hora.

Enfio celular, carteira, passaporte, chiclete e camisinhas (três, a esperança é a última que morre) na bolsa, começando a andar de um lado para o outro de tão nervosa que estou. O telefone do quarto toca pouco depois das nove e meia e eu corro para atender, com o coração querendo sair pela boca.

Sou informada muito educadamente que o Senhor Williams está à minha espera no lobby. Agradeço, desligando, dou uma última olhada no espelho e pego a bolsa, descendo para encontrar o Jake.

E que Deus me ajude...

-

Só porque eu amo vocês, dois capítulos no mesmo dia. Um beijo e por hoje é só, Dani.

Inevitável (COMPLETO - SEM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora