Batalha

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Ergui o braço e gritei de novo.

Outros gritos responderam, vindo das árvores. Gillian, Thiago e Elizabeth surgiram montados em seus cavalos de batalha, vestidos com armaduras e armados como guerreiros vikings.

Eu jamais cometeria o erro de subestimar a inteligência de Gawain, e já previa alguma armadilha, por isso deixara reforços aguardando o momento certo de entrar no jogo. Aqueles que desprezam o xadrez, saibam que seus estratagemas podem ser úteis fora do tabuleiro!

Os três atacaram os soldados com fúria redobrada e, muitos deles, surpresos, não conseguiam revidar. Corri, escondendo-me atrás do cavalo de Thiago, que acertava homens com sua lâmina como se tudo aquilo fosse uma brincadeira de criança. Não podia ver o rosto dele, mas imaginava que deveria estar sorrindo.

Gillian trazia um machado; o revirava acima da cabeça, e depois descia a arma sobre os rivais com a força de um lenhador, enquanto Elizabeth, com uma espada curta, ferroava a ponta dela nos ombros dos soldados com uma habilidade surpreendente. Ela negara-se a ficar para trás, apesar dos protestos de John, que só concordara após uma ameaça de anulação do casamento.

Ainda montado, Gawain continuava a trocar golpes de espada com John. Ao perceber que logo seriam derrotados, ele fez seu corcel girar, afastando o arqueiro com um chute, e esporeou os flancos do cavalo com força.  Este relinchou e disparou, abrindo caminho entre os homens que lutavam, e partiu  de volta a Aslan.

A ira queimou o meu corpo, como se água fervente tivesse sido jogada sobre minha cabeça. Lutar era algo que eu odiava, mas a ideia de que Gawain escaparia se conseguisse chegar à segurança de seu castelo me foi insuportável. Resgatei meu arco do chão, cruzei-o nas costas e apertei o punho da espada.

Pulando para cima de um cavalo perdido em meio à luta, instiguei-o com um grito de cólera, e parti atrás dele como um louco.

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Galopamos, em uma corrida ensandecida pelas curvas da estrada de terra. Eu batia os calcanhares e berrava, tentando alcançar o escudeiro, sem nem mesmo saber o que faria quando isso acontecesse. Prossegui, praguejando, queimando de ódio.

As muralhas de Aslan apareceram após uma curva da estrada. Gritei, como se com isso conseguisse fazer meu cavalo galopar mais rápido do que o vento. Rugi e uivei como um lobo, e aquilo fez com que o animal se apressasse, resfolegando de cansaço. Vi quando Gawain começou a atravessar a ponte que cruzava o fosso ao redor das muralhas, mas continuei, mantendo os olhos nele.

No meio da ponte, o cavalo de Gawain diminuiu o galope, reconhecendo o destino próximo. Eu estava apenas alguns passos atrás, e meu cavalo abalroou o outro com uma batida violenta. Fui lançado para a frente pelo choque e aproveitei o movimento para agarrar Gawain com um rugido selvagem.

Ele gritou, e eu também. Caímos nas pedras, ainda embolados.

O medo que sentira dele e os pesadelos que me causara nos últimos meses voaram por minha cabeça. Furioso, eu ergui o punho e bati em seu rosto com todas as minhas forças. Ele revidou, acertando minha testa. Nos engalfinhamos no chão, lutando um contra o outro entre grunhidos, até que consegui desvencilhar-me dele e recuar.

Ajoelhei-me rapidamente. O arco e a aljava de flechas tinham caído de minhas costas em meio a briga. Resgatei-os e armei uma flecha, esticando a corda do arco.

Gawain também se erguia. Sobressaltou-se ao ver a ponta da flecha apontada para um de seus olhos, e permaneceu ajoelhado diante de mim. Ambos vimos que soldados armados com balestras corriam do portão do castelo em nossa direção.

— Diga para seus soldados não se aproximarem! — ordenei com uma voz tão dura que eu mesmo não a reconheci e estiquei um pouco mais a corda.

Gawain ergueu a mão e obedeceu-me com um berro rouco. Depois, virou-se e encarou-me com os olhos verdes de serpente. O rosto dele sangrava e estava sujo de terra, a franja despenteada caia sobre a testa e os lábios se contorciam com o sorriso que me fizera perder várias noites de sono.

Meu capuz havia caído durante a cavalgada e Gawain podia ver meu rosto. Eu resfolegava, sem fôlego, e minhas mãos tremiam levemente. Voltara a sentir medo; ele percebia isso e divertia-se, mesmo ameaçado sob a mira da flecha.

— Fico feliz que esteja vivo, Robert! Mas não esperava que se recuperasse tão rapidamente — ele sibilou e seus olhos dardejaram, perversos. — Você ainda parece doente! Está pálido e tremendo... Abaixe a arma e vamos conversar.

Continuávamos ajoelhados um diante do outro e estávamos em um impasse. Se eu o matasse, os soldados do castelo certamente também atirariam contra mim. Mordi os lábios, refletindo que talvez valesse a pena morrer se pudesse arrastá-lo para os portões do inferno e, com um chute, jogá-lo lá para dentro por toda a eternidade.

— Mate-me! O que está esperando? — ele provocou-me.

Puxei a corda.

SOBRE AMOR E LOBOS Vol. 2,5: Regras de Amor e Guerra (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora