Epílogo

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Vocês devem estar curiosos sobre o que houve com Gawain.  Será que conseguiu escapar das ondas? Ou  está  no fundo do oceano, aterrorizando os peixes com a boca cheia de algas? Rezo pela última hipótese, e que jamais venha a encontrá-lo, nem nesta vida, e muito menos na próxima.

Enquanto isso, eu escapei são e salvo. Conseguiram içar-me do penhasco com uma corda amarrada ao redor da cintura e, exausto, pálido, mas cercado de amigos, voltei à segurança da hospedaria. E ainda melhor...  fiquei parte da noite sob os cuidados de Elizabeth, que tratou de meu ferimento e mimou-me com beijos e abraços sob o olhar complacente de John, assustado pela minha quase-morte.

Assim que me recobrei do susto passei a culpar Gillian, reclamando que ele e John  haviam quase me matado ao atirar Gawain sobre minha cabeça. Logo em seguida, fingi que paquerava as damas de companhia de Aline – embora eu não me interesse por elas verdadeiramente, tenho uma fama a manter – e todos respiraram aliviados ao perceberem que as pancadas na minha cabeça iriam deixar apenas hematomas doloridos e que eu voltava ao normal.

Isto é, quase normal, pois ninguém é muito normal quando se observa de perto.

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Aos corajosos leitores que sobreviveram junto comigo e chegaram até aqui, um aviso! Esta será minha última página de pergaminho. Despeço-me com um pouco de pena, mas com uma sensação de alívio. Embora eu seja um excelente escritor, a carreira é muito árdua, e assim que a trovadora Anne voltar de férias deverá continuar com o trabalho. Algo que, diga-se de passagem, já deveria ter feito...

Alguns disseram que inventei grande parte destas aventuras, pois minha imaginação é fértil, e que minha viagem rumo à Aquitânia foi tediosa e previsível, enquanto vagávamos de estalagem em estalagem e estudávamos as regras do amor. No entanto, tudo o que relatei aconteceu de verdade, embora talvez tenha me empolgado com as penas, tintas e palavras e me atrapalhado um pouco.

Logo chegarei em Poitiers. O que o futuro me reserva?

Não posso imaginar.... Desejo pensar que a vida na corte será tranquila e poderei dedicar-me à conquista de Marion. Gostaria de jurar novamente não me meter em encrencas, mas penso que isso não será fácil, já que elas gostam de minha companhia assim como abelhas gostam de flores. Portanto, rezemos, oremos e acendamos incensos a todos os tipos de deuses para atrair um pouco de boa sorte.

Marion despertou-me para o amor na floresta entre os lobos. E este amor despertou-me para mim mesmo, fez-me partir em uma jornada e continuará me movendo de sonho em sonho, com um olho aberto para o dia repleto de aventuras e o outro aberto para a noite, com seus anjos e demônios.

Portanto, deixo-os com uma poesia:

"É bom deixar todos os dias para trás,
como água corrente, livre de tristeza.
Ontem foi, e sua história contada.
Hoje, sementes novas estão crescendo..."*

*Rumi

SOBRE AMOR E LOBOS Vol. 2,5: Regras de Amor e Guerra (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora