Um Casamento II

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Uma coisa era afrontar alguns nobres em seus castelos  e tê-los como inimigos, afinal nobres estavam o tempo todo arrumando brigas entre si; outra era arrumar confusão com um bispo. Estremeci, crispei minha mão no cinto e engoli em seco. Mas como John dissera, um herói não era aquele que não tinha medo, mas sim o que conseguia domá-lo. 

Meu anjo elevou a asa em protesto, alertando-me de que eu estava prestes a cometer uma loucura da qual talvez não saísse vivo e pediu-me que tivesse um minimo de bom-senso. Repliquei, explicando-lhe que seres humanos eram assim; na maioria das vezes agiam sem o tal bom- senso, e quando pensavam tê-lo estavam enganando a si mesmos.

Respirando fundo para tomar coragem, entrei no corredor. Caminhei para o altar com passos decididos e queixo erguido, enquanto percebia os olhares de espanto voltados em minha direção.

O bispo parara em meio à uma prece, as mãos erguidas para uma benção. Parei  atrás do noivo e, dando um passo para frente, empurrei-o com o cotovelo e coloquei-me ao lado da noiva e à frente do bispo.

Este franzia o rosto e me encarava de boca aberta. Todos estavam tão impressionados com a situação inusitada que aguardavam imóveis alguma explicação para aquela loucura.

Ergui ainda mais o queixo e olhei em volta com um ar arrogante; o ar de um nobre acostumado a mandar, como eu fora a maior parte de minha vida.

—  Perdoe-me, senhor bispo! Mas o noivo está errado —comecei em um tom petulante.

 — Errado? — Ele examinou o nobre ao meu lado e depois avaliou-me. Eu vestia-me ricamente e mantinha um ar de dono do mundo.   —  Sir... Este é Sir Edward de Bromeliale e é com ele mesmo que Lady Aline irá se casar — explicou com cortesia, como se eu fosse parente do rei e estivesse ali para desvendar alguma traição. 

Nenhum dos convidados se movia, calculando pela minha audácia o mesmo que o bispo. Consideravam-me alguém bastante importante e apenas continuavam me olhando com olhos estupefatos. Era esse o efeito que eu pretendia causar; com sobrancelhas erguidas e uma expressão arrogante, virei-me para o tal Edward. 

—  Soube que comprou a noiva. Ou melhor, trocou-a em nome de uma divida — acusei-o com desprezo. 

— Quem é você, rapaz? Como ousa acusar-me? O acordo já está feito!

—  Qual o valor? —  Mantive  um ar firme, avaliando-o de cima a baixo como se ele fosse um inseto.

O pai da noiva estava parado ao lado do altar e adiantou-se, falando uma soma alta.

O bispo franziu a testa e apontou um dedo para mim.

— Um altar não é lugar de negociações! Como ousa interromper uma cerimonia sagrada? — rugiu, fazendo num sinal para alguns soldados, que embora desarmados eram grandes o suficiente para me arrastar de lá.

Foi então que meus amigos se revelaram. No meio da noite havíamos invadido a igreja entre as sombras e tínhamos escondido nossos arcos e espadas em pontos estratégicos, atrás dos grandes relicários que ladeavam as paredes. Enquanto todos prestavam atenção em mim, eles discretamente resgatavam as armas.

 John e Paul pularam para o altar. Tinham coberto as cabeças com os capuzes das capas e traziam arcos em punho. Erguendo-os, esticaram as cordas. Gillian e Thiago fizeram o mesmo diante da porta de entrada. 

Dois degraus me separavam do bispo. Investi na direção dele, tirando um punhal que trouxera escondido na bota e encostando a ponta da lâmina em sua cintura.

Entre exclamações de espanto, o bispo gritou — Sacrilégio! — e tentou, afastar-se.

Contudo, eu agarrei  o cinto dele e espetei o punhal com mais força entre as costelas. Trouxe-o para mais perto, segurando-o pelo braço.

SOBRE AMOR E LOBOS Vol. 2,5: Regras de Amor e Guerra (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora