UM DIA MAGNÍFICO - 12

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Serenel ficou paralisada por algum tempo, atônita, encarando sua amiga. Mesmo que aquele paço pertencesse a sua família, era uma chance ainda pequena de entrar justamente em um cômodo com ela. Beleluz estava usando roupas de dormir, acompanhadas de seus pequenos primos, escondidos no escuro. Aquilo era um problema, Serenel queria entrar e sair sem ser notada, pois já havia acontecido muita coisa naquela noite maluca e não queria ter que explicar para ninguém toda aquela história de Júbilo de Jaci.

– Beleluz? O que você está fazendo aqui?

A snelliana franziu o cenho e perguntou:

– Desculpa, eu conheço você?

A viseira, é claro! O cristal era escuro, quem a via de fora não conseguia identificar mais da metade de seu rosto. Combinada com a tiara, aquela coisa era praticamente uma máscara. Beleluz era sua grande amiga, porém, naquele momento, era melhor Serenel manter sua identidade oculta.

– É... sim, sim! É claro que conheço. Você é Bele... quero dizer, a senhorita é Beleluz, sobrinha do Barão Fortanha. Todo mundo da Casa das Caçadoras, que eu certamente pertenço, conhece a senhorita. Eu estou aqui para... é... garantir a segurança de vocês.

– Ah, que bom. – Um reconforto surgiu no rosto de Beleluz. Ela agradeceu a caçadora misteriosa e reagrupou seus primos em camas improvisadas. – Mandaram todos se esconderem na torre porque está acontecendo algum problema nos portões da cidade, mas ninguém nos diz o que é. São os curupiras?

– Não, não – respondeu Serenel, com remorso, pesando-lhe as palavras. – É outra coisa que está nos atacando...

– Por que está falando desse jeito?

– De que jeito?

– Desse jeito... – Beleluz elevou os braços com as mãos caídas, também fechou um pouco os olhos e caiu o pescoço, esgarçando a voz e remedando uma pessoa doente ou entristecida. – Você é uma caçadora, snelliana! Devia estar cheia de energia e de convicção! Por que está desse jeito?

Serenel chegou a se emocionar com a possibilidade de chorar no ombro da amiga. Queria contar tudo o que aconteceu: a fuga, a espada, a serpente... Sukura... mas não podia. Isso apenas iria comprometê-la e Serenel não queria ameaçar mais ninguém.

– Eu... bem. Eu cometi um erro, mas não sei se posso consertar. Há quem diga que eu posso, mas as coisas não parecem corretas. Parece que estou sempre no lugar errado e toda vez que tento fazer uma coisa certa, eu apenas pioro tudo.

Beleluz suspirou, sentou ao lado da amiga disfarçada e com um tom maternal, disse:

– Sabe, eu não sei exatamente o que vocês caçadoras passam para chegar até aqui, mas... eu posso dar um exemplo? Eu tenho uma amiga na escola, o nome dela é Serenel. Ela é muito legal e bondosa, mas está sempre atrasada, não faz o dever de casa e toda hora leva esporro dos professores. Às vezes acho que ela não nasceu com muita sorte. – Beleluz deu uma risada complacente. – Porém, quando alguém mexe com algum amigo dela, ela vira o bicho! Nada pode detê-la até que a justiça seja feita. Ela fez isso por mim hoje e foi aí que eu percebi que... no fundo, eu queria ser como ela. Serenel sempre tenta fazer a coisa certa, mesmo que seja impossível ou que isso torne a vida dela num inferno. Mesmo assim, ela se levanta e faz, sem se importar com as consequências. Viver para ajudar o outro, acho que é mais ou menos o que ela pensa. Talvez nós duas devêssemos nos inspirar mais nela, não é?

Lágrimas corriam abundantemente por baixo da viseira por causa das palavras tão sinceras da amiga e aquilo era exatamente o que ela precisava ouvir:

– Sim, senhorita, devíamos mesmo. Agora, com licença.

A arqueira se levantou, foi até a janela e encarou a luta dos barões contra a serpente de fogo. Beleluz espiou e viu o clarão lá longe no pinga-fogo:

Prateada ou Júbilo de Jaci [Completo!]Onde histórias criam vida. Descubra agora