A CABEÇA QUE VIROU LUA - 06

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O Rei Assobiador caminhava ao lado de seu conselheiro, descendo túneis escavados nas paredes da Caverna.

É bom que o assunto seja mesmo sério, eu precisava estar em reunião com os generais – disse o monarca, impaciente.

Garanto para o senhor que não o convocaria se não fosse importante. – O conselheiro se adiantou até um portão de ferro na lateral do corredor e deu uma batida na aldrava, fazendo o som de dobradiças chacoalhando. Em seguida, foi ouvido um estalo de uma tranca sendo removida, um rangido e surgiu o olhar surpreso de um curupira através da abertura do portão:

Ma...Majestade? É o senhor?

Infelizmente, sim. – O Rei avançou para dentro do salão. – Kupa-Kawana me disse que havia uma situação eu requeria a minha atenção. Do que se trata?

O curupira coçou a cabeça:

Bem, é mais fácil mostrar ao senhor que explicar.

O servo avançou na escuridão da câmara, indo em direção ao som de rosnados e de batidas contra grades. Inicialmente, o monarca pensou que havia algum tipo de fera escondida naquele lugar, contudo, a origem daqueles barulhos era muito mais surpreendente.

Dentro de uma jaula de grossas barras de ferro havia uma cabeça decepada de curupira. Estava pálida, lívida, como se estivesse em decomposição. No entanto, a cabeça se mexia, rolava feito uma bola pela jaula, rosnava e saltava tentando abocanhar os curupiras que estavam do lado de fora se esforçando para manter a grade fechada.

Mas o que é isso? – Perguntou o Rei, assombrado.

Parece que estavam levando o corpo para o cemitério quando a cabeça começou a se mover e emitir grunhidos. – respondeu Kupa-Kawana – Atacou os recrutas, criou um caos no necrotério, então os guardas conseguiram detê-la com redes.

De repente, a cabeça sobrenatural parou um instante e, com semblante enfurecido, encarou o monarca de queixo caído, que não parava de mira-la.

Pelo trovão! – exclamou o Rei – Esse é Ipá-Nema?!

O campeão decapitado pela caipora, sim. É a cabeça dele.

É assombroso! A cabeça de Ipá-Nema se recusa a morrer? – O monarca observava cada detalhe daquela criatura com atenção, tentando imaginar algum sentido praquilo tudo. – Como isso é possível?

O conselheiro olhou para o servo, que apenas deu de ombros e, em seguida, limpando a garganta, respondeu:

A espada.

O Rei Assobiador franziu o cenho e se voltou para Kupa-Kawana:

Você acha que a espada amaldiçoou de alguma forma Ipá-Nema?

Eu não vejo outra explicação. Em toda minha vida nunca havia visto uma cabeça, seja de curupira, caipora, homem ou animal que uma vez separada do corpo, continuasse viva. A única diferença dessa vez é a Espada Negra.

Ela parece maior também – reparou o monarca, que dava voltas ao redor da jaula. – Tem quase o dobro do tamanho original, não acha?

Dessa vez foi o servo que se adiantou:

Ela cresceu, Majestade. Depois que ela chupou um recruta feito um maracujá, ela cresceu um bocado.

Fascinante. – O Rei Assobiador observava a criatura saltar e quicar pela jaula, assustando os curupiras.

Majestade, gostaríamos de sua autorização para destruir a cabeça endiabrada.

Prateada ou Júbilo de Jaci [Completo!]Onde histórias criam vida. Descubra agora