A CABEÇA QUE VIROU LUA - 02

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O caminho para escola estava melancólico e, de certa forma, Serenel sentia como se não passasse por aquelas ruas há anos. Todos pareciam ter retornada a suas rotinas normalmente. As quitandas, os sapateiros, os alfaiates... todos estavam na entrada de seus estabelecimentos buscando nova clientela. Uma tristeza espetou o coração uma vez mais da snelliana quando alcançou a padaria na esquina da escola, onde Sukura costumava abordá-la.

De repente, um pequeno grupo de crianças gritando e brincando na outra esquina chamou sua atenção:

– Sinta o poder do Júbilo de Jaci! – gritou um pequeno snelliano, com um arco de brinquedo improvisado com uma vareta apontado para seus amigos. Em seguida o garoto fez uma onomatopeia de disparo de flecha e seus amigos deram gritos e se jogaram no chão.

– Ah! Você vai me pagar, princesa! Um dia, o rei curupira irá vencer!

Espantada, Serenel continuou a caminhar imaginando como aquelas crianças tinham ouvido falar de sua alcunha. Depois de passar pelo portão, ela viu Beleluz de Audaz conversando à sombra das árvores no pátio da Astro Argento.

– Serenel?! – Beleluz estava feliz e surpresa ao vê-la. Ela veio correndo e a abraçou com muita força – Ai, que bom, que bom! Ainda bem que você finalmente voltou pra escola.

– Bem-vinda, Serenel – disse Audaz. – Estávamos preocupados.

– Oi, pessoal. Desculpe pela preocupação. – disse Serenel, encabulada. – Vocês me passam depois a matéria que eu perdi esses dias?

– Claro, sem problema – Audaz já pegava um bloco de notas da mochila. – O que aconteceu com você? Por que não voltou logo no início das aulas?

Serenel apertou entre os dedos a capa de couro e os cadarços do caderno. Um lampejo da imagem de Sukura desaparecendo a explosão da igreja lhe veio à mente e por pouco as lágrimas não lhe encheram os olhos.

– Eu... é...

– Foi por causa da Sukura, não foi? – Perguntou Beleluz, surpreendendo a amiga. – Nós soubemos que ela está desaparecida desde o ataque à cidade. Eu sinto muito.

Serenel encarou o chão por alguns instantes, escolhendo as palavras:

– É que... bem... eu fui a última a vê-la antes de tudo acontecer. Eu fiquei com a sensação que eu podia ter feito alguma coisa para evitar e ficar pensando nessas coisas me deixa meio... deprimida.

Os três amigos se entreolharam com gentileza e, inconscientemente, fizeram um instante de silêncio pela aluna desaparecida.

– Bem, vamos deixar disso – disse Audaz. – O que a Peregrina quiser, será. Só podemos seguir nosso destino e torcer para o retorno de Sukura. Agora, vamos buscar alguma coisa para animar esse clima, o que acha?

De repente, alguém estava se aproximando, acompanhando por cochichos de vozes femininas. O semblante de Beleluz mudou para um sorriso malicioso e virou a cabeça de Serenel:

– Bem, acho que já encontrei uma "coisa" que vai animar Serenel rapidinho.

Quando a snelliana se virou, viu um jovem snelliano de cabelos ruivos, curtos, bem afeiçoado e de porte atlético. Por onde ele andava, as snellianas paravam e faziam comentários. O jovem vestia as mesmas calças azuis e camisa branca com adornos de couro de jacaré do uniforme da escola e vinha na direção deles.

– Oi, prima. Tudo bem? Eu estava te procurando.

– Ai, Anderim, que mico – respondeu Beleluz, irritada. – Eu odeio quando você me chama de prima, ainda mais na frente dos meus amigos.

Prateada ou Júbilo de Jaci [Completo!]Onde histórias criam vida. Descubra agora