– Ai, eu não credito que vou ter que fazer aula extra! Mas que caipora! – Serenel avançava pelos corredores da escola com seus amigos, revoltada com a decisão do Diretor Celestiago. – Quantos dias isso vai me ocupar? Três? Quatro? O resto do ano?
– Acho melhor você não contrariar – comentou Audaz. – Se você acabar indo mal nas provas, vão dizer que foi porque você não assistiu aos complementos.
– Mas por que só eu? Mais alguém deve ter faltado.
– Não sete dias – completou Beleluz. – Professora Mira achou até que você ia desistir do ano.
Ano letivo, treinamento com Shamash e agora aulas extras com o professor Araluz. Serenel começava a achar que aquela história de Júbilo de Jaci estava cobrando um preço alto demais. A snelliana cabisbaixa tentava entender como foi parar em toda aquela confusão quando, ao passar por um corredor secundário, viu Anderim conversando com um snelliano mais velho, de roupas nobres, barbas, bigodes e sobrancelhas cheias. Sentindo seu coração dar uma batida fora do ritmo ela segurou os braços de seus amigos e recuou, escondendo-se atrás da quina da parede.
– O que está fazendo?! – Audaz se assustou com o movimento súbito da amiga.
– Desculpa, desculpa. – Serenel esticava o pescoço colada na parede, tentando ouvir a conversa sem ser percebida.
– Ah, logo vi. – Beleluz deu um sorriso maroto. – Está espionando seu fetiche?
– Fetiche? Para de falar besteira, Beleluz. Eu só estou... curiosa para saber quem é aquele snelliano falando com o Anderim.
– Sei... isso é fácil de responder: aquele é o Barão Fortanha, o pai de Anderim.
– Anderim é filho de um Barão de Verdouro? – Serenel arregalou os olhos de surpresa e sentiu que aquilo botava uma fila infinita de jovens snellianas disputando a atenção do baronete. – Puxa vida, achei que ele fosse um nobre mais pé-rapado que nem você.
– O quê?! – Ultrajada, Beleluz acertou um cascudo na cabeça de Serenel, que não parecia se importar muito, mais interessada em escutar a conversa entre pai e filho.
Anderim estava com um semblante sério, com cenho franzido, braços cruzados e evitava contato visual com o Barão; postura bem diferente da que estava quando conheceu Serenel. O adulto falava com firmeza, gesticulando pouco e com autoridade na voz:
– Faz uma semana, filho. Uma semana que você vem faltando às aulas de esgrima. Isso é inaceitável, você passa mais tempo na escola com outras crianças do que nos seus afazeres. Eu já te disse dezenas de vezes: isso aqui é uma farsa! Você não precisa destas aulas inúteis, servem apenas para os que não tem destino na vida. Não, você. Você é um baronete de Verdouro, um dia será Barão, deve se preparar para batalhas épicas e compreender as grandes questões da nossa sociedade, não geometria e linguística.
– Eu gosto daqui – respondeu o Anderim, cabisbaixo. – Aqui eu encontro com meus amigos, conversamos, ajudamos uns aos outros e aprendemos a viver em grupo.
– Este não é seu grupo – insistiu o pai. – Seu grupo é o alto círculo da primeira altura, que se tornarão os líderes do amanhã.
– Há outros nobres estudando aqui e se dedicando. A Beleluz, por exemplo.
– Bah! – Fortanha sacudiu os braços com uma expressão enojada. – São segunda categoria da nobreza, não se compare com eles, Anderim.
Nesse momento, Serenel encarou a amiga com um sorriso sacana e Beleluz, ruborizada, conseguiu apenas fazer um gesto obsceno para a companheira, que segurava o riso com todas as suas forças. Enquanto isso, o Barão Fortanha continuava a convencer Anderim a voltar aos seus treinamentos junto a nobreza:
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Prateada ou Júbilo de Jaci [Completo!]
FantasíaApós séculos de guerra entre o povo caipora e os curupiras pelo controle da floresta, ela surge como uma esperança de paz. Contudo, para poder cumprir sua missão ela primeiro precisa entender a si mesma...