Capítulo 2

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Estava com o notebook aberto na base do balcão fingindo escrever o planejamento das aulas nas próximas semanas, mas na verdade estava revendo as fotos do final de semana. O evento dos clubes de motos foi bem bacana e as customizações com adaptações dos meninos fizeram muito sucesso. Eles fecharam alguns importantes negócios. Curti bastante estar com todos eles, relembrando minha vida na oficina e cuidando dos machucadinhos dos seus corpos lindos e deliciosos. A equipe ficou espalhada entre as casas de vários conhecidos dos "motoclubs". Por exemplo, o Maurício, a Fabíola e seus dois filhos, Mário e Mateus ficaram comigo. E como foi muito gostoso tê-los em minha casa durante esse tempo.

Suspirei, babando novamente as fotos. Discretamente olhei por cima do balcão de um plantão de uma terça à noite. Pedi para trocar com outra enfermeira, queria ficar de olho em uma estagiária e no Kalvin, que deveria orientar a sonsa. Ela estava mais interessada em pegar o marido da chefe do que aprender os procedimentos corretos.

Falei com ele um dia desses, indicando que o charme dele e o modo de falar o encrecariam, mas ele afirmou que sabe se cuidar. Como sou responsável pelo atendimento impecável de enfermagem, faço parte do comitê de ética do hospital, não quero erros sob minha tutela e adoro a Djane, essa sonsa estagiária e seu marido auto-suficiente teriam minha marcação cerrada.

Já vi muitos casos de erros na área de saúde acontecer por um outro se envolverem de forma errada e precipitada. Me envolvo e faço sexo com um ou dois médicos aqui, mas de forma racional e nos momentos oportunos. Além, disso conheço os limites, essa estagiária, não.

Não estou dizendo que o Kalvin trai a Jane, não mesmo. Ele dá até pinta que estar seduzindo alguém, mas sei que caras como eles fazem isso para conseguir vantagens, talvez até sexo, mas duvido que este seja o caso. A estagiária interesseira está confundindo as estações.

- Round 2, leitos 4,5 e 6 checados – o inglês me disse sentando-se ao meu lado.

- É ronda – olhei para o relógio – quem faz isso é o estagiário ou a técnica de enfermagem, você não precisa fazer isso.

- Eu sei que não. Ronda? – ele repetiu para mim sorrindo.

Assenti.

- Ronda, porque o português ser tão difícil.

- Português não é tão difícil, o inglês que é simples demais, gatão.

Ele sorriu.

- Onde tá sua estagiária carrapato?

Ele olhava os prontuários e verificava alterações de medicações do plantão dos médicos.

- Mandei para casa.

Salvei o documento aberto e me virei para ele.

- Ela vai ficar com outro tutor, você tem razão.

Respirei aliviada. Ele chegou perto de mim cochichando e olhando para os lados.

- Ela me chamou para um dos consultórios, disse que tinha uma dúvida...

- Nem continua, gato... Nem continua.

Ele se recostou na cadeira.

- Se minha Djane pega a cena.

- Seria meu próximo paciente na UTI? – perguntei.

- Com certeza.

Quase gargalhei, mas me segurei para não chamar atenção de nós no posto de enfermagem e já eram 21h.

- Semana que vem vou para Londres, ficarei lá 2 semanas.

- Vi a escala. Seu salário será sumariamente descontado – ele sorriu lateralmente.

O Coração de DeniseOnde histórias criam vida. Descubra agora