Nem fudendo deixaria a Denise tomar as decisões sozinha. Ela tem que saber que na nossa família tudo é compartilhado e nada é segredo. Ou quase nada, coisas boas que envolvem surpresas como nosso noivado e casamento ficam fora. Fora essas situações, tudo tem que ser dito, e conversado, e decidido.
Achei a passagem mais cara do mundo para conseguir embarcar de volta na mesma noite. Não sabia que horas a reunião com o chefe da PF terminaria, assim não arrisquei em comprar uma passagem antecipada. Peguei rapidamente minha mala no hotel e corri para o aeroporto, para tentar trocar a passagem original da manhã. No entanto, isso não foi possível, assim, simplesmente comprei outra de uma escala louca para não sei onde.
Meu objetivo era só de chegar em casa e abraçar minhas garotas, ainda mais depois da conversa que tive com o Douglas por telefone.
Conheço o Douglas há muito tempo, quem está na área da justiça pública na Região Metropolitana já teve seu caminho cruzado algumas vezes com o ex-promotor ou com, pelo menos sua esposa, juíza. Ficamos conhecidos por conta das investigações de alguns casos, sem formar alguma amizade além de um cafezinho durante as pausas, com um papo sobre a rodada do campeonato de futebol. Depois que ele pediu exoneração foi meio estranho receber convites insistentes para suas confraternizações. Por fim, aceitei um convite num dia que tinha brigado com a Márcia, pensando em me embebedar e conseguir alguma boa foda. No entanto, a festa era uma confraternização familiar e na lista seleta de convidados, que me incluía, não tinha uma alma que fosse suspeita de participar de algo fora da lei.
O irônico é que eu queria cometer algo no mínimo amoral naquela noite e por mais que não gostasse de um ou dois presentes, o embate não seria por infração de leis e sim por particularidades pessoais.
Quando perguntei a ele a real daquele evento, ele disse que queria se cercar das pessoas certas, deixar aberta todas as possibilidades de bons relacionamentos.
- Ok, mas o inferno está cheio de boas intenções.
Ele riu da minha ironia.
- Por que não trabalhamos mais juntos?
Dei de ombros.
- Você foi para uma comarca tranquila, onde, aposto, que brigas por cercas eram o julgamentos mais emocionante do dia.
- Não menospreze as brigas por cercas, elas são assuntos sérios.
- Se você, diz, Douglas - levantei minha garrafinha brindei com ele - às brigas de cercas.
- Queria homenagear as pessoas que fizeram parte de uma importante fase de minha vida. A lista foi revisada pela minha esposa, umas cinco vezes.
Observei no canto do jardim sua bela esposa.
- Ela tem um faro para as pessoas.
- Nunca lidei com ela pessoalmente, fui testemunha técnica de alguns julgamentos que ela presidia e só. Me pareceu sempre muito...
- Brava? - assenti de leve - essa é a minha Onça. De qualquer forma, você deixou uma boa impressão.
- Se você diz, então, tá.
Ficamos em silêncio por um momento, mas não constrangedor, só um silêncio de quem observa o movimento ao redor.
- Pensei que nunca aceitaria nosso convite.
- Não sou um cara tão sociável assim, não minto que fiquei com dúvidas sobre essa confraternização - fiz uma careta ao experimentar a cerveja que já estava quente.
- Sou um cara que gosta de manter as coisas simples e em ordem, incluindo amizades.
- Somos amigos? - perguntei a ele observando sua reação.
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O Coração de Denise
RomanceDenise resolveu largar tudo que conhecia no Rio, depois de uma passagem turbulenta pela Europa e apostou em um recomeço ao lado de novas pessoas. Reconstruindo laços afetivos ela deixa muita coisa trancada, intocada, até uma noite em um plantão turb...