Não sei como fui parar no banco do carro, mas o toque do Carlos em minha pele, acariciando com as costas da mão, me trouxe de volta de um mundo de possibilidades ruins, onde esquadrinhar a Angélica longe de nós, de mim, era o único cenário que via.
Vi nele a expressão de preocupação, sua íris castanha não escondia que seus pensamentos eram os mesmos que o meus, a sua face era pálida e seus lábios sem cor. Estamos no mesmo barco, esse era o sinal que seu corpo me passava.
Respirei fundo e olhei a aliança em minha mão esquerda. Uma súbita dor no estômago aplacou meu abdômen e uma vontade de fugir alcançava minhas pernas. Engoli a saliva devagar e neguei os cenários futuros. Não podia admitir que tinha perdido antes de lutar.
- Vamos fugir para um lugar longe... Eu, você, a Angel e Tilda...
Ele relaxou no banco do motorista, fechou os olhos, balançando a cabeça.
Somente nossas respirações eram ouvidas. Ele voltou-se para mim, sorriu e beijou minha mão esquerda.
Estava apreensiva esperando uma bronca do Carlos, afinal ele não é homem de fazer isso, de fugir das coisas.
- Pensei nisso, juro. Pensei em pegar vocês e sumir do mapa, mas, não seria a coisa certa a fazer.
- Eu sei, não é você.
- Nem, é você, Denise. Somos feitos da mesma coisa, ferro e fogo. Não fugimos, enfrentamos o mundo real, por mais doloroso que ele pareça ser, enfrentamos as consequências de nossas escolhas.
- Escolhemos a Angélica - suspirei em fim.
- Ela nos escolheu - ele sorriu levemente.
- Vamos lutar por ela.
- Até o fim, meu amor, até o fim.
Ele me abraçou de lado e beijou minha cabeça.
Deixei uma lágrima escorrer.
- Eu lutaria uma briga de box por você - ele riu sem muita vontade.
- Não duvido, disso, meu amor.
Ele continuou abraçado em mim.
- O Douglas disse para confiarmos nele.
- Você, confia nele?
Ele se afastou e ligou o carro.
- Confio, Denny. Acho que o Douglas vai nos ajudar muito, mesmo sabendo que ele tem um objetivo financeiro no final das contas.
- É um preço pela ajuda, né? Afinal vamos pagar o advogado nesse novo processo?
- Ficou acertado só as custas da justiça, os honorários serão gratuitos.
- Quanta bondade - falei irônica.
- Bondade que vale milhares de dólares em um contrato, com a nossa Angélica no caminho.
- Você acha que ele a usará como barganha?
- Não acredito que ele faça isso - ele passou as mãos no volante antes de pô-lo em marcha - mas ficaremos de olho.
Ele ficou em silêncio olhando o emblema do carro no volante, o desenhando com a ponta do dedo.
- Anda - como se acordasse de um sonho ele disse de repente - tem um lugar que quero ir com você, depois vamos almoçar. Tenho uma reunião na SSP mais tarde.
- Mundo real... Queria ficar o resto dia contigo - segurei sua mão na manopla do câmbio do carro - tenho aula de tarde também. - disse me encostando no banco, pondo o cinto com a mão livre.
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O Coração de Denise
RomanceDenise resolveu largar tudo que conhecia no Rio, depois de uma passagem turbulenta pela Europa e apostou em um recomeço ao lado de novas pessoas. Reconstruindo laços afetivos ela deixa muita coisa trancada, intocada, até uma noite em um plantão turb...